PERFIL

Na linha de frente e atrás das máscaras, enfermeiras lutam contra covid-19

Profissionais da enfermagem são peças-chave diárias, estando à frente das equipes de saúde durante a pandemia

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Mônica (seg. a partir da esq.) e a equipe de técnicas em enfermagem que estão no combate à covid-19 - Arquivo Pessoal

Dentro das equipes multiprofissionais, elas atuam nas funções básicas de prevenção e manutenção da saúde, diretamente no cuidado e na reabilitação de pacientes. As profissionais da enfermagem são peças-chave não só nesse período de pandemia de covid-19, mas diariamente, estando na linha de frente das equipes de saúde. O pronome feminino não é por acaso: um levantamento do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que 84,6% da categoria é composta por mulheres, sendo a masculinização da profissão um fenômeno recente. Neste 12 de maio, Dia da Enfermagem, a categoria passa por momentos difíceis no combate ao coronavírus, dedicando a vida profissional em favor da humanidade.

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Mônica Valdênia é técnica em enfermagem há 25 anos e está cursando o último período da graduação em enfermagem. Atuando na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de pacientes com covid-19 do Hospital da Restauração (HR) em Recife, ela ressalta que o trabalho não é só a aplicação da técnica, mas a relação com os pacientes “o paciente acometido por covid-19 grave é mais do que especial, eu não posso desviar meus olhos por um minuto. A equipe multidisciplinar tem um trabalho árduo e quando vemos a resposta deles é muito gratificante, quando eles melhoram e evoluem de quadro. É preciso tem um olhar clínico, mas tentar ouvir e compreender o paciente, porque eles sentem dor, sentem nosso toque, nossa voz, tudo é feito com diálogo”.

Atuando no hospital e fazendo assistência médica domiciliar, também conhecido como Home Care, Mônica trabalha com pacientes infectados pelo coronavírus desde o surgimento da doença em Pernambuco. Foi no dia a dia de cuidados com os pacientes que ainda no começo de abril ela apresentou alguns sintomas da síndrome respiratória “Eu fui acionada para fazer uma medicação numa paciente que estava em casa com suspeita de infecção urinária. Como havia a chance de ela estar com a doença, eu me paramentei para atendê-la. Dois dias após me ligaram pra dizer que ela testou positivo para o covid-19 e aí comecei com dor de cabeça, febre e muita tosse. A hipótese é de que não foi ela quem me contaminou, mas a família dela, que estava assintomática e também testou positivo, e eu não estava paramentada para circular pelo restante da casa, apenas no quarto. Nem eles e nem eu sabíamos, já que ela estava isolada e eles não apresentavam sintomas”.

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Mônica, que já é formada como auxiliar e técnica de enfermagem, agora está no último ano do curso superior / Arquivo Pessoal


Com a confirmação do contágio, a técnica teve que mudar a rotina em casa, já que ela mora com o filho de apenas 11 anos, que foi morar temporariamente com o pai para que ela pudesse ficar em isolamento, ainda que tivesse sintomas leves. Mesmo doente, ela ajudou outros colegas de profissão em quadro grave “um dos nossos enfermeiros também foi acometido e ele estava num outro hospital em estado muito grave. Eu me ofereci para ir buscá-lo e levar para a Restauração, pra ser cuidado pela nossa equipe. Eu me paramentei, levei ele no meu carro e ele ficou internado na UTI que ele coordenava. Foi uma loucura, mas o entendimento da equipe foi que eu salvei a vida dele. Agora ele está bem, já foi extubado, está caminhando para receber alta”.

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Junto com o colega de profissão, Mônica faz parte dos 2,2 milhões de pessoas que trabalham na área de enfermagem e estão no enfrentamento ao coronavírus, de acordo com dados do Cofen. Acometidos pela doença, eles também integram uma estatística triste: são 2.840 profissionais de saúde que testaram positivo para o coronavírus em Pernambuco, sendo que 4.660 profissionais já foram testados a partir de um protocolo único no estado, sendo o primeiro do Brasil a criar um procedimento específico para quem trabalha na área.

Após o período de isolamento e a cura clínica comprovada, ela volta para o trabalho com um olhar de quem enfrentou e venceu e doença “a volta é mais difícil quando você pensa que poderia estar passando por tudo aquilo que aquelas pessoas estão vivendo. Acho que eu volto mais forte, mais agradecida a Deus, e tentando fazer o meu melhor para aquela pessoa. Essa volta é mais forte mesmo com o medo”. Além disso, o cuidado se mantém mesmo após o contágio e cura da covid-19 “a gente continua com medo porque não tem nada comprovado de que é impossível se recontaminar ou voltar a ter sintomas”. Mesmo antes da pandemia, ela aplicava uma rotina de cuidados, já que nas UTIs existem casos de pacientes com outros vírus ou bactérias super resistentes, por isso, ela tem uma rotina de paramentação para evitar o contágio “esse cuidado é diário porque preciso eliminar o risco de contaminação do meu filho. A gente tá sempre se questionando ‘será que eu esqueci alguma coisa?’ Mesmo em casa eu fico de máscara, porque estou sempre em contato com o vírus”.

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Mesmo com os desafios e obstáculos da profissão, que se intensificam durante a pandemia, Mônica ressalta que o amor à profissão é essencial para seguir no enfrentamento “No começo eu tinha muito medo de perder pacientes. Eu já fiz o curso de auxiliar, depois o técnico, agora estou terminando o curso superior. São categorias diferentes, mas o amor pelo próximo é o mesmo. A rotina de trabalho é diferente em cada categoria, só o que não muda é o amor pelo paciente, a busca por tentar ouvir e compreender aquelas pessoas. Essa rotina que nós temos não fazemos só pelo dinheiro, é pelo cuidado em lidar com outros seres humanos, é gratificante”.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Monyse Ravena e Vivian Fernandes