Coluna

75 anos da derrota do nazismo e do fascismo

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Tropas do Exército Vermelho atravessando um rio durante o verão do hemisfério norte em 1944; as batalhas decisivas de Stalingrado e Leningrado foram travadas pelo Exército Vermelho sem aliados - Foto: RIAN Archive / Creative Commons
A 2ª Guerra Mundial ainda deixa seus fantasmas. E desses fantasmas o Brasil também não está livre

Por Martonio Mont’Alverne Barreto Lima*

Em 27 de junho de 1941 a Alemanha nazista e aliados desencadearam um dos mais violentos ataques na história das guerras: o bloqueio da cidade de Leningrado.

Até 24 de janeiro de 1944, a resistência da União Soviética, do Exército Vermelho, dos sindicatos, das organizações civis e militares da cidade enfrentou a fome, o frio e a morte de 1,5 milhão de habitantes de Leningrado. Não estava somente a Alemanha contra a União Soviética: nesta luta, o nazismo alemão recebeu o entusiasmado apoio de italianos e finlandeses, além de voluntários espanhóis.

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Os países “neutros” – da Escandinávia especialmente - não desperdiçaram uma guerra contra os Bolcheviques: “Em outubro de 1941, quatro meses após o ataque da Alemanha contra a União Soviética, o Rei da Suécia, Gustav V, felicitou o "Caro Chanceler do Reich" Adolf Hitler, por ter ele erradicado o nocivo bolchevismo. A satisfação de Gustavo foi compartilhada por muitos da nobreza", como aponta Karina Urbach no livro Hitlers heimliche Helfer: der Adel im Dienst der Macht.

O que selou o destino da Alemanha na Segunda Guerra, porém, foi outra batalha: a de Stalingrado, de 17 de julho de 1942 a 2 de fevereiro de 1943. A vitória do Exército Vermelho sobre a Wehrmacht alemã impôs ao 3º Reich sua primeira derrota, e deixou claro que nazismo e fascismo poderiam ser vencidos.

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Até fevereiro de 1943, a Alemanha não havia sido derrotada em nenhuma de suas investidas. No país que a Alemanha julgava inferior em todos os sentidos – inclusive inferioridade racial – amargou o começo de seu fim.

Daí até 8 de maio de 1945 foi uma sucessão de reveses que conseguiu fazer a vitória soviética mostrar a capacidade de guerra do Exército Vermelho contra a maior e mais poderosa força bélica já organizada no mundo.

Nos anos 1943 e 1944, as batalhas decisivas de Stalingrado e Leningrado foram travadas pelo Exército Vermelho sem aliados.

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Quando se deu o desembarque da Normandia de 6 de junho de 1944, o Exército Vermelho já estava quase em território alemão. Aqui, a derrota da Alemanha já era certa. Havia ficado claro que, desde Stalingrado, não seria possível uma vitória da Alemanha na Europa.

A insistência de grande parte da historiografia de excluir o papel central da União Soviética decorre do pueril desejo de esconder a verdade histórica. França e Inglaterra aceitaram qualquer acordo que pusesse fim à primeira experiência do comunismo.

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Foi assim com o Pacto de Munique de 30 de setembro de 1938, quanto estes países recusaram um pacto de defesa comum com a União Soviética e aceitaram a anexação à Alemanha dos Sudetos da Rep. Tcheca: “um pacto sobre nós, sem nós”, repetiram os tchecos que qualificam o Pacto de a “Traição de Munique” perpetrada por França e Inglaterra.

Não causa surpresa quando se observa a tentativa de esconder o papel da resistência comunista nos países ocupados pela Alemanha, além da luta do Exército Vermelho. Os comunistas juntaram-se logo às fileiras dos primeiros a se organizarem contra às agressões do fascismo e do nazismo.

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Enquanto nazistas recorriam aos discursos de “Alemanha acima de tudo e pureza do sangue” para defender seu nacionalismo, os comunistas insistiam no universalismo de mulheres e homens de todo o mundo; enquanto capital financeiro e industrial logo se juntaram aos nazistas, os comunistas formulavam alternativas para a divisão do capital pelo trabalho.

Enquanto a burocracia judiciária da Alemanha apoiava o fim da Constituição de Weimar, desde janeiro de 1933, os comunistas lutavam pelas garantias democráticas desta Constituição; enquanto pregavam e realizaram o extermínio da população judia, o comunismo recebia grandes intelectuais e políticos de origem judia; nazistas pregavam o tradicionalismo; comunistas defendiam a revolução como forma de efetiva igualdade de todos perante as leis.

A Segunda Guerra Mundial ainda deixa seus fantasmas. E desses fantasmas o Brasil também não está livre.

* Martonio Mont’Alverne Barreto Lima é professor Titular da Universidade de Fortaleza. Procurador do Município de Fortaleza

Edição: Leandro Melito