A Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou relatório sugerindo que 25 milhões de empregos serão perdidos devido ao impacto do novo coronavírus e que os trabalhadores perderão cerca de 3,4 trilhões de dólares em renda até o final do ano.
O choque para a classe trabalhadora é apenas um dos problemas globais potencializados pela pandemia. Entre os fatores estão o bloqueio na cadeira de produção mundial, queda na taxa de crescimento, queda das bolsas, aumento da desigualdade social, precarização do trabalho, fome e miséria.
Para compreender os impactos e apontar alternativas, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, lançou, no dia 5 de maio, o “Dossiê nº 28: CoronaChoque: um vírus e o mundo”, que traz um panorama da crise global que tem afetado o mundo em um contexto de pandemia.
Embora a crise seja tratada como se tivesse emergido meramente de uma confluência de circunstâncias que poderiam ser totalmente explicadas pela pandemia, a publicação faz uma análise das suas características estruturais e aponta que, na verdade, a covid-19 evidenciou os problemas do capitalismo em sua fase neoliberal, tais como a austeridade e o corte nas políticas sociais.
“A primeira parte do nosso dossiê é o coronavírus entendido como vírus da austeridade. Entender o coronavírus como algo que foi produzido pelo capitalismo na sua crise. A pandemia global foi deixando clara a tendência destrutiva do capitalismo na sua fase neoliberal e o coronavírus vem revelar a crise da civilização capitalista e do estado neoliberal erodindo diante da pandemia”, explica a economista Olívia Carolino, pesquisadora do instituto.
Entre as tendências apontadas pelo documento estão o aprofundamento da financeirização, declínio da hegemonia dos Estados Unidos, deslocamento da mão-de-obra por meio da tecnologia e do aumento de produtividade e, por fim, a crise do Estado neoliberal.
Para a economista, a própria mudança de cenário nas medidas adotadas pelos governos, seja no Brasil ou em outros países, representa que a política do Estado neoliberal se mostrou incapaz de resolver os problemas da política econômica.
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“As respostas dos governos para recuperar a crise financeira baseava-se na primazia da política monetária em detrimento da política fiscal. Mas, diante da pandemia, o que a gente está verificando é que o abandono dessas receitas de austeridade tem sido quase uma unanimidade dos Estados para enfrentar a pandemia e lançar mão de políticas fiscais expansionistas diante dessa realidade.”
Saídas
Não à toa, o dossiê chama atenção para os recursos de financiamento de emergência a serem resgatados por governos e organismos internacionais. Foram US$ 15 milhões de dólares destinados pelo Fundo Central de Resposta de Emergência das Nações Unidas, US$ 12 bilhões de dólares pelo Banco Mundial e US$ 1 trilhão de dólares pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
“A nossa questão é como esse dinheiro será gasto? Sempre que o capital enfrenta baixa rentabilidade, ele prefere as atividades fictícias e especulativas. A grande abundância de dinheiro até então não vinha desencadeando um processo global de geração de emprego e renda, ao contrário, a maior parte desse dinheiro do mundo acabou sendo alocado em ativos financeiros. Ou seja, um excesso de dólares para os bancos e, para o povo, austeridade e política de restrição”, pontua Carolino.
Partindo dessa análise, o Instituto Tricontinental, em parceria com a Assembleia Internacional dos Povos, produziu um programa com 16 pontos que estão reproduzidos na segunda parte deste dossiê. A proposta busca colocar a classe trabalhadora em primeiro lugar e responder ao choque do coronavírus do ponto de vista dos povos do mundo.
Renda Básica Universal
O documento destaca a Renda Básica Universal (RBU) como um ponto prioritário. Embora a medida tenha ganhado maior destaque com a pandemia, por meio da proposta da oposição de um auxílio emergencial aos trabalhadores durante o isolamento social e a paralisação dos serviços, o colapso do sistema de emprego mundial já levantava o debate dessa proposta.
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Antes do novo coronavírus, o cenário resultante da globalização do trabalho e do aumento da produtividade induzido pela tecnologia já era de bilhões de trabalhadores desempregados, subempregados ou em situações de grande precariedade, o que exigia do Estado uma forma de sustento dessa população.
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A ideia da RBU surge para enfrentar os problemas da pobreza e das desigualdades, mas, embora a medida tenha apoio desde socialistas à setores da extrema direita, há várias visões em torno do tema.
“É uma proposta complexa que requer debate. A gente coloca o nosso dossiê a serviço dessa discussão, fazendo uma breve introdução à ideia de Renda Básica Universal e também oferecendo algumas críticas ao conceito e às formas de pensá-lo e aprimorá-lo”, afirma Carolino.
Edição: Camila Maciel