O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse apenas que estava cansado após depoimento de quase 9 horas à delegada Christiane Corrêa Machado, chefe do Setor de Inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF), nesse sábado (2), na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná. O depoimento começou por volta das 14h e terminou às 22h40.
Ele foi assistido pelo advogado criminalista Rodrigo Sánchez Rios, que já fez a defesa do ex-deputado Eduardo Cunha e de empresários da Odebrecht na Operação Lava Jato.
No local, onde o ex-presidente Lula ficou preso por 580 dias após condenação pelo então juiz da Lava Jato, Moro teria confirmado as denúncias de interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal e entregado conversas, áudios e e-mails trocados com Bolsonaro como supostas provas.
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"Judas"
Nas redes sociais, na manhã de sábado (2), Bolsonaro fez publicação referindo-se a Moro como “Judas” e relembrou episódio em que foi esfaqueado na campanha eleitoral de 2018. A hashtag mais usada no Twitter às 11h #GolpeDeEstado, em apoio ao presidente.
.Os mandantes estão em Brasília?
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) May 2, 2020
.O Judas, que hoje deporá, interferiu para que não se investigasse?
.Nada farei que não esteja de acordo com a Constituição.
.Mas também NÃO ADMITIREI que façam contra MIM e ao nosso Brasil passando por cima da mesma. https://t.co/Tj5aDO2LUr
Desligamento
Moro deixou o cargo de Ministro da Justiça no dia 24 de abril, fazendo acusações diretas ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Na sexta-feira (1º), o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), deferiu pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, e designou três procuradores indicados pela PGR para acompanhar o depoimento do ex-ministro da Justiça.
Moro saiu do ministério após disputa em relação a troca do diretor-geral da Polícia Federal. Bolsonaro queria que Alexandre Ramagem assumisse o cargo. A nomeação, no entanto, foi suspensa pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.
Manifestantes
O depoimento de Moro mostrou divergências na base eleitoral das forças conservadoras do país, após Moro deixar o governo. Grupos de manifestantes que apoiam Moro e Bolsonaro tiveram um início de conflito e as imagens em frente à PF.
“Que cena patética! Apoiadores de Bolsonaro e Moro se enfrentam na porta da PF em Curitiba. Parece briga de irmãos gêmeos querendo provar que não se parecem…”, afirmou o ex-candidato à presidência pelo PSOL e coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos, em sua conta no Twitter.
“Moro vai ser conduzido coercitivamente? Teremos transmissão ao vivo do depoimento? Vai ser interrompido acusado de estar fazendo política? Ou o padrão Lava Jato só vale para os inimigos?”, questionou o coordenador do MTST.
No conflito entre os apoiadores, um cinegrafista RIC TV, afiliada da TV Record no Paraná, foi agredido. Os manifestantes foram contidos pela polícia.
*Com informações da Revista Fórum e da Rede Brasil Atual
Edição: Marina Selerges