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Contra Bolsonaro, lideranças do campo democrático se reúnem em 1º de Maio virtual

Artistas também se somaram ao movimento, que reforçou coro por direitos e destacou a importância da esperança

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A data, que comumente é marcada por festivais, manifestações e a ocupação das ruas e avenidas, desta vez será caracterizada por lives solidárias feitas por sindicais, pela primeira na história - Reprodução / Youtube

Em um 1º de Maio histórico, lideranças políticas do campo democrático se uniram, nesta sexta-feira (1) por meio de uma transmissão virtual, em um evento do Dia do Trabalhador marcado pela oposição ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido). 

A data, geralmente caracterizada por festivais, manifestações e ocupação de ruas e avenidas, foi marcada, desta vez, por lives solidárias coordenadas por sindicatos, pela primeira vez na história. O evento deste ano discutiu o tema “Saúde, Emprego e Renda. Em defesa da Democracia. Um novo mundo é possível”.

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 O evento reuniu lideranças de nove centrais sindicais e promoveu o encontro até mesmo de lideranças políticas antagônicas, como os ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Apesar de virtual, é o primeira vez desde a disputa eleitoral de 1989 que os ex-presidentes dividem o mesmo palanque.

Em um discurso voltado para a transformação social em meio à pandemia. Ao se referir a Jair Bolsonaro, sem citá-lo pelo nome,  Lula apontou que grandes tragédias revelam o "verdadeiro caráter das pessoas e das coisas".

"Não me refiro apenas ao deboche do presidente da República com a memória de mais de cinco mil brasileiros mortos pela covid. A pandemia deixou o capitalismo nu", disse.

O ex-presidente destacou ainda que o coronavírus atinge o conjunto da população e mostra “que a raça humana não é imortal”, mas fez coro em defesa da esperança.  

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A história nos ensina que grandes tragédias costumam ser parteiras de grandes transformações. O que eu espero é que o mundo que virá depois do coronavírus seja uma comunidade universal, em que o homem e a mulher, em harmonia com a natureza, sejam o centro de tudo, e a economia e a tecnologia estejam a serviços deles, e não o contrário, como aconteceu até hoje. No mundo que eu espero, o coletivo haverá de triunfar sobre o individual.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou que a realização de um ato unificado se justifica porque o país "enfrenta um momento de medo, da pandemia e do desemprego". 

“Não é hora de nos desunirmos. É hora de nos juntarmos porque temos que construir um futuro. O futuro tem que ser construído a partir das condições do presente. São negativas, eu sei, mas são as que nós temos", afirmou o ex-presidente sem citar Bolsonaro diretamente.

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Entre os ex-presidentes, Dilma Rousseff foi a mais direta no recado ao atual ocupante do Planalto.
Ela afirmou que "a luta por dias melhores para todos se intensifica nesse momento", pediu unidade e finalizou com a palavra de ordem "Fora Bolsonaro".

Se o presidente despreza a vida e dá de ombros dizendo e dai, nossa busca determinada por mudanças mostrará a ele que o povo brasileiro vai impor sua vontade e retomar o caminho da justiça social e do desenvolvimento do país. Não nos resta outro caminho agora que não gritar fortemente de maneira corajosa Fora Bolsonaro, viva os trabalhadores do Brasil, viva as forças populares do país.

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Dilma se referiu a este primeiro de maio como "especialmente grave diante da morte de mais de 5 mil brasileiros vítimas da negligência e da omissão de um governo liderado pelo mais brutal e desalmado chefe de estado entre todas as nações do planeta. Irresponsavelmente, Jair Bolsonaro desdenha da doença, zomba dos mortos e avilta a cadeira de presidente da República". 

Dilma também afirmou que Bolsonaro "não se envergonha em promover a desordem e a destruição da ordem democrática apoiando protestos contra as instituições da República" e ressaltou que o atual mandatário "elogia torturadores, desrespeita a vida das pessoas, despreza a ciência, os médicos e trata governadores  e prefeitos como inimigos".

O ex-presidenciável Fernando Haddad reconheceu que este se trata de “mais um ano difícil para a classe trabalhadora, sobretudo no Brasil. Já pelo quarto ano consecutivo, os governos neoliberais, de Temer e Bolsonaro, vêm atacando todas as conquistas de décadas da classe trabalhadora”. 

Para Haddad, a “nossa tarefa é resistir, mais um vez, impedir os retrocessos e recompor o campo progressista, vigiar aqueles que foram eleitos com as bandeiras trabalhistas e combater os neoliberais que estão dilapidando os nossos direitos para que nós possamos recobrar a força necessária”.

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O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), classificou esse primeiro de maio com um momento de "aflição e angústia" e apontou que  o conjunto de conquistas históricas da classe trabalhadora "tem sido desmontado aproveitando o desespero em que se encontra, no caso brasileiro, mais da metade da nossa população".

Ciro lembrou que antes da pandemia de coronavírus o país já contava com 13 milhões de trabalhadores desempregados e 38 milhões na informalidade.

Precisamos tão logo passe essa crise refletir sobre o que aconteceu ao Brasil pra chegar onde chegamos e em paralelo construir as bases de um novo projeto nacional de desenvolvimento que coloque no centro das preocupações do Brasil, o trabalho, o trabalhador e a trabalhadora e suas famílias e não a especulação e a destruição do nosso país.

A ex-presidenciável Marina Silva (Rede), classificou esse 1º de maio como o mais difícil desse século, em função da pandemia do novo coronavírus e afirmou que o momento é de união em defesa da vida.

"Nesse primeiro de maio temos que estar unidos em torno daquilo que mais interessa. E o que mais interessa é a defesa da vida, a proteção dos direitos e a defesa da democracia. É a hora da escolha entre a lógica perversa do mercado e a lógica amorosa do cuidado", disse.

Marina fez críticas a Bolsonaro e por estimular as pessoas a irem para as ruas e atentar contra a democracia em meio à crise sanitária e econômica.

Como se não bastasse todo o sofrimento que estamos passando, aqui no Brasil nós temos um governo que o tempo todo estimula as pessoas a irem para a rua para poder se contaminar ainda mais porque é isso o que acontece e ainda fica ameaçamndo o enraquecimento da democracia e das instituições.

A ex-presidenciável Manuela D'Ávila, do PCdoB, disse acreditar que a pandemia fará com que "cada vez mais homens e mulheres se conectem com as nossas pautas, as nossas reivindicações, nosso sonho de um país em que o Estado seja garantidor da saúde publica para o conjunto da sociedade, em especial para a classe trabalhadora, com um país em que o sistema único de assistência social nos garanta que aqueles trabalhadores, homens e mulheres, no momento de mais vulnerabilidade serão atendidos com dignidade".

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Para ela, isso significa que cada vez mais, a população sentirá na pele a importância de Estado presente. "Ora, se há muito nós temos denunciado o impacto da precarização do trabalho com a reforma trabalhista, por exemplo, esse momento deixa claro a necessidade da reconstrução do Estado de proteção social que garanta que todos homens e mulheres tenham dignidade".

Gleisi Hoffmann, presidenta do Partido dos Trabalhadores, seguiu na mesma linha: “Nunca ficou tão evidente para a sociedade a importância do trabalho humano e da força humana para a geração de riqueza. Não é capitalismo que produz riqueza não é o mercado que faz a economia girar ou crescer. o que faz funcionar o mercado e que gera riqueza é o trabalho humano. São milhões de homens e mulheres que fazem a transformação, e isso ficou claro agora, nesse período de isolamento social a que fomos submetidos. Sem o trabalho humano o trabalho está caindo”.

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Miguel Torres, da Força Sindical, destacou a importância do sindicalismo durante a pandemia: “Nós, dirigentes sindicais, temos feito a nossa parte nesta guerra contra a crise da pandemia através do diálogo social com empresários, governadores, prefeitos, parlamentares e diversos outros segmentos da sociedade”.

Luciana Santos, presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, ressaltou que o país atravessa uma fase marcada por uma confluência de crises. “No Brasil, é necessário que a gente enfrente uma agenda que proteja o emprego, o trabalhador, porque, afinal, esta crise evidenciou a força do trabalho e da produção, que estão garantindo o enfrentamento da crise sanitária”, acrescentou.

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O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sergio Nobre, lembrou que este 1º de Maio é histórico porque, pela primeira vez, não há comemoração presencial em nenhum país. Ele ressaltou que o país e o mundo atravessam um momento de tormenta e criticou a conduta do governo Bolsonaro diante da crise.

 “Vivemos um momento terrível da nossa história, a pandemia já ceifou milhares de vidas, nós já ultrapassamos a marca da China, e o presidente Bolsonaro continua com deu discurso genocida, continua atacando a política de isolamento, os governadores, prefeitos, a democracia, o movimento sindical e também direitos trabalhistas”, disse, conclamando ainda os trabalhadores a se unirem contra a retirada de direitos.

:: Papa Francisco: "Que haja trabalho para todos. E que seja trabalho digno" ::

Gilmar Mauro, da direção nacional do MST, lembrou toda a produção de riqueza brasileira passa necessariamente pelas mãos da classe trabalhadora.

Nós estamos vivendo um momento em que a crise do capital mostra as suas mais profundas vísceras, em que os burgueses conclamam a classe trabalhadora a ir trabalhar. Eles só demonstram que quem produz as riquezas, de uma empadinha a um avião mais moderno, são as classes trabalhadoras. Toda a produção de riqueza passa pelas mãos de um trabalhador e de uma trabalhadora. Se somos nós que produzimos todas as riquezas, nós podemos destruir aquilo que não nos serve, inclusive, eliminar os parasitas burgueses. 

Carmen Foro, secretaria geral da CUT, afirmou que “a classe trabalhadora inventa e reinventa sua história. Então vamos defender nossas pautas históricas, a saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), os empregos e a renda. Nós temos que ser solidários ao trabalhadores mais vulneráveis nesse momentos, que estão desempregado e sem renda. Essa é a nossa missão solidária”.

Da Confederação Sindical Internacional, a secretária geral Sharan Leslie Burrow afirmou que o 1º de maio é o dia “mais importante” para trabalhadores e sindicatos de todo o mundo. “Hoje nós nos levantamos e nos comprometemos com a luta por um futuro justo. O futuro é um mundo fraturado que nós sabemos que precisa ser derrubado. Nós sabemos que o modelo econômico falido dos dias de hoje nos trouxe uma convergência de crises”, afirma a secretária. 

:: "Estamos destruindo o planeta em benefício só de uma minoria", afirma Ladislau Dowbor ::

Ela também criticou o presidente Jair Bolsonaro e disse que ele está em “negação” diante da pandemia de covid-19, assim como o “seu amigo, Donald Trump”, ao negar os riscos da doença para a humanidade. “Nós sabemos que [ele] não está a altura do cargo que lhe coube.”

Valter Sanches, secretário geral da Industriall Global Union, assim como Sharan Leslie Burrow, afirma que o mundo está em um momento de grave crise econômica e sanitária. “Nós devemos honrar, nesse momento, as mais de 200 mil pessoas que perderam suas vidas para essa pandemia. São trabalhadores que construíram a riqueza do planeta e que agora foram vitimizadas, sendo que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se não fosse as políticas neoliberais que destruíram os sistemas públicos de saúde pelo mundo.”

Sanches também manifestou solidariedade aos trabalhadores brasileiros e criticou o governo de Bolsonaro: "Na contramão do mundo, o governo Bolsonaro em vez de combater o vírus fica combatendo os trabalhadores e seu povo"

O cientista Miguel Nicolelis, um dos coordenadores do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste fez uma saudação a todos os trabalhadores e trabalhadoras por meio das centrais sindicas.

"Gostaria de agradecer a cooperação e todos os esforços heroicos de trabalhar para que todo o Brasil possa sair dessa crise. Para que a gente possa imaginar um novo futuro que vai emergir dessa crise, dessa pandemia, precisamos de um grau maior de empatia e solidariedade, para termos trabalhos dignos, vidas dignas e acesso à saúde pública de qualidade".

Martin Hahn, da Organização Internacional do Trabalho, lembrou os impactos econômicos da pandemia para os trabalhadores das classes financeiras mais desfavorecidas. Para ele, diante da crise, “temos que trabalhar junto para promover medidas urgentes, específicas e flexíveis para ajudar os trabalhadores e as empresas, em particular as empresas menores, aqueles que estão na economia informal, assim como todos em condições de vulnerabilidade socioeconômica”.

“Hoje, mais do que nunca, precisamos fazer uso do diálogo social, com um objetivo comum, de juntos promovermos oportunidades para que homens e mulheres tenham trabalhos produtivos, de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana”, afirmou Hahn.

Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) também participou da live. Ele afirmou que "os trabalhadores são a base fundamental de qualquer sociedade. Nesse momento tão difícil é fundamental que coloquemos a vida em primeiro lugar mas também que possamos garantir condições para os trabalhadores.É necessário assegurar a renda básica emergencial, assim como o estágio e o primeiro emprego. Precisamos de uma frente ampla que una diversos setores  em defesa da democracia, que não aceitem os abusos de Jair Bolsonaro. Pela vida, pela saúde por emprego e renda, educação e ciência".

Entre os artistas, o público pôde conferir as participações de Chico César, Dead Fish, Delacruz, Dira Paes, Don Ernesto, Leci Brandão, Marcia Castro, Odair José, Preta Rara, Zélia Duncan, Fernanda Takai. E uma estrela internacional também se destacou na lista, o cantor britânico Roger Waters, que chamou atenção para a união em torno da conquista de um mundo mais justo.  “Nós temos que continuar a luta, temos que salvar este planeta, e só nós podemos fazê-lo. Os sindicatos, a classe trabalhadora, as pessoas comuns vão salvar o planeta”, bradou o músico.  

 

 

 

 

 

 

Edição: Leandro Melito e Camila Maciel