A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) do Rio de Janeiro é conhecida pelo trabalho de recolhimento de lixo das ruas. Mas o que muita gente não sabe é que a companhia também possui uma gerência de pesquisa, para a identificação de soluções na área da limpeza pública. Um dos projetos ali desenvolvidos é um horto. Ele funciona como um laboratório e consiste basicamente em ajudar a transformar áreas de descarte de lixo em jardins. Atualmente, seis garis atuam neste projeto. Os trabalhadores põem a mão na massa, transformando o lixo orgânico por eles recolhido em adubo para plantar alimentos agroecológicos, totalmente sem veneno.
Jorge Tonnera Jr., ex-aluno do curso de comunicação popular do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), é um dos responsáveis por esse projeto. Biólogo, ele é especialista em Gestão Ambiental e atualmente faz mestrado na área de saneamento. Há cerca de 12 anos trabalha na Comlurb, onde é professor de educação ambiental. Ele explica como surgiu a ideia de os próprios trabalhadores usarem o que é descartado para plantar alimentos. E conta sobre o trabalho solidário de doação da produção da horta para famílias que estão passando por mais necessidades. Por fim, esclarece como está a proteção e a segurança desses trabalhadores.
“Esse projeto, que se chama Laboratório Vivo, existe há três anos e inicialmente se deu a partir do que chamei de Horta Operária. Quando olhamos para a história, percebemos que o ser humano sempre utilizou os resíduos para alavancar sua produção agrícola - sem agrotóxicos, diga-se de passagem. Estamos buscando reconectar essas duas pontas: resíduos e comida. Basta pensar que o lixo hoje, no geral, é mandado para longe, e o alimento que chega às nossas casas vem de fora da cidade”, conta Tonnera.
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Além de aproveitar melhor o que é descartado, o biólogo explica que o projeto tem também um viés pedagógico. Ou seja, pretende gerar novas perspectivas tanto em relação ao trabalho do gari quanto no que diz respeito ao que se come. “A horta surgiu também com o objetivo de romper com a lógica de que o trabalhador não tem acesso ao alimento orgânico. Muitos pensam que só tem acesso a esse tipo de comida quem pode pagar por ela. Isso não é democrático. Nesse sentido a horta pode ser libertadora”.
No projeto, os garis têm aprendido, por exemplo, que há plantas que crescem espontaneamente e que podem ser consumidas, como o alho social. Entendem também que há partes dos alimentos que não chegam ao mercado, como folhas da cenoura e da batata-doce, ou flores de algumas plantas. A ideia é aproveitar o máximo possível.
Campanha de solidariedade
Com a pandemia, muitas famílias economicamente vulneráveis estão, hoje, passando por mais dificuldades ainda. Jorge Tonnera conta que, durante a colheita mais recente de batata-doce, ficou evidente a responsabilidade socioambiental dos envolvidos no projeto com o território das Vargens, na zona oeste do Rio de Janeiro, onde está localizado. “Todos, então, concordamos que poderíamos doar a produção da horta para os que estão com mais necessidade. Buscamos quem pudesse fazer essa ponte e encontramos o Núcleo VG da Rede Ecológica, que mapeou as famílias em situação de vulnerabilidade alimentar, um trabalho da Teia de Solidariedade da Zona Oeste”, conta.
Segundo ele, essa ação motivou os participantes do projeto a trabalharem e produzirem mais ainda, para que possam continuar dando suporte a algumas famílias e doando alimentos agroecológicos. Também os incentiva a continuar com o trabalho de conscientização, mostrando às pessoas que é possível aproveitar os resíduos orgânicos e plantar em casas ou mesmo em espaços pequenos, como apartamentos. “Isso pode mudar radicalmente a relação com o lixo e com o alimento”, ressalta o biólogo.
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Os trabalhadores da Comlurb prestam à cidade um serviço essencial, ainda mais em tempo de coronavírus, pois, além do recolhimento do lixo, atuam na higienização das vias públicas. Mas, devido aos riscos de contaminação, os trabalhadores da companhia tiveram redução de jornada. Estão trabalhando em escalas e em horários reduzidos, a fim de evitar concentração de profissionais. Estão utilizando equipamentos de proteção individual (EPIs) e recebendo álcool 70 e material de higiene. Os trabalhadores que se enquadram no grupo de risco (idade igual ou maior que 60 anos e pessoas com histórico de determinadas doenças) foram liberados para ficarem em casa, a fim de serem protegidos.
Para saber mais
Pelas redes sociais é possível acompanhar os trabalhos, projetos e pesquisas da Comlurb, bem como saber de oficinas e eventos relacionados ao horto. É só acessar: no Instagram: @horto_comlurb e no Facebook: @hortocomlurb.
Fonte: Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC)
Edição: Mariana Pitasse