Jair Bolsonaro usou o futebol como desculpa para defender a flexibilização do isolamento social
Amigos, antes de mais nada, espero que estejam todos bem nessa quarentena que a pandemia de coronavírus nos obriga a fazer. Lembrem-se sempre: fiquem em casa. E se precisarem sair para trabalhar, sigam as recomendações das autoridades sanitárias e dos cientistas. E não se esqueçam de lavar bem as mãos.
Recentemente, o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), além de tossir na cara dos intérpretes de libras e promover aglomerações, usou um novo argumento para defender a flexibilização do isolamento social como medida de prevenção ao contágio da covid-19: o futebol. Sim, amigos. O nosso querido velho e rude esporte bretão. Para ele, a interrupção de todas as atividades pode levar os clubes de menor investimento à falência e criar problemas sérios para equipes como Flamengo e Palmeiras.
“(...) O Flamengo, se eu não me engano, [tem folha salarial] próximo a R$ 15 milhões. O Palmeiras também. Como vai se pagar e manter o time sem que se gere imagem? (…) Tem time aí que praticamente vai decretar falência. Time de segunda divisão com toda certeza. Os times que estão disputando as divisões dos seus respectivos estados. (…) Já começa a chegar aqui pra nós a questão do futebol. Não sou eu que vou decidir isso aí. O que você acha: pode voltar os jogos de futebol? Pode voltar com estádio vazio ou não?”, argumentou, chamando a participação de quem estava assistindo.
Essas declarações foram dadas no último sábado (18) durante mais uma das famigeradas lives do presidente da República aos seus “seguidores” nas redes sociais. Resumidamente, Bolsonaro criticou tudo e todos que não pensam como ele.
::Papo esportivo | Futebol é o que menos importa nesse momento::
Mas o papo aqui é esporte. E vamos nos manter dentro desse assunto. E me perdoem dizer o óbvio mais uma vez, pessoal. Mas o coronavírus não é o responsável pela caótica situação financeira dos nossos clubes. Por mais destrutivo que seja.
Ele prejudica nossos principais clubes? Claro que sim. E seria leviano da parte deste colunista dizer outra coisa. Por conta da pandemia da covid-19, nossos principais campeonatos estão paralisados. Os Jogos Olímpicos foram adiados para 2021 e ninguém tem certeza de quando a bola voltará a rolar ou quicar por aí. O futuro, amigos, ainda é muito incerto. E essa paralização prejudica sim os clubes. Sem jogos, não há bilheteria, direitos de transmissão das TV’s, premiações e por aí vai.
Mas daí a dizer que o isolamento provocado pela pandemia será o grande culpado pela falência dos clubes é, no mínimo, exagerado. Desonesto, eu diria.
Primeiro pelo que eu e você já conhecemos dos nossos dirigentes. A grande maioria adora atrasar salários de funcionários e jogadores e colocar a culpa na crise, numa conspiração da CBF ou até no "sobrenatural de Almeida". Os mesmos dirigentes que fazem contratações milionárias sem ter dinheiro em caixa e rolam a dívida astronômica para as gestões seguintes. Amigos, tem clube que está pagando dívida de 20, 30 anos atrás. Seria cômico se não fosse trágico.
E depois pelas várias e várias oportunidades dadas pelo governo federal nos últimos anos para que esses mesmos cartolas acabassem ou diminuíssem essas dívidas dos clubes que dirigem (ou não). Teve Profut teve Refis e nada. Tem clube que ainda não pagou os salários de 2020. Tem clube pedindo empréstimo pra ter dinheiro em caixa e tem clube usando a pandemia como desculpa para seguir fazendo as suas “caquinhas”.
Colocar a culpa pela crise apenas na pandemia é desonesto, leviano, mesquinho e desumano. É esquecer o que esses mesmos caras fazem há anos. A situação já estava muito complicada muito antes disso tudo começar. E não me refiro apenas à esfera esportiva. Já víamos coisas erradas na economia, na política e na educação muito antes de tudo isso começar.
Não se iludam, meus amigos. A pandemia de coronavírus é sim grave, merece toda a nossa atenção e vai sim prejudicar a vida de muita gente. Mas é bom ficar atento e forte com quem usa toda essa situação como desculpa esfarrapada para cobrir seus erros.
Não se deixem levar pelos seus discursos vazios, pessoal. Abram o olho e cobrem posturas sérias dos dirigentes dos seus clubes e dos políticos que nos representam. Fiquem em casa. Lavem as mãos. Se cuidem. E fiquem bem.
Edição: Mariana Pitasse