Paraíba

FASCISTAS

Bolsonaristas fazem ato em frente a quartel do Exército e pedem intervenção militar

“Esse pessoal se autointitula intervencionista, mas na verdade, eles são golpistas e conspiradores contra a democracia"

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Reprodução vídeo - Imagem

Um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro saiu às ruas de João Pessoa na manhã deste domingo (19), em carreata, para defender o fim do isolamento social na Paraíba. Ao final do trajeto, reuniram-se em frente ao 1º Grupamento de Engenharia, principal quartel general da Paraíba, na Avenida Epitácio Pessoa, e lá fizeram vários tipos de manifestações, desde cantar o hino nacional, a aplaudir e entoar palavras de ordem enaltecendo a pátria e o Exército; o grupo também se ajoelhou e fez orações em frente ao grupamento, e em seguida, se espalhou pelas calçadas, ajoelhados com os braços para cima, em orações.

A exaltação aos militares acontece em meio a protestos de apoiadores de Bolsonaro contra o isolamento social imposto pelos riscos de contágio do coronavírus. Na ocasião, os manifestantes também pediram intervenção militar, promulgação de Ato Institucional n°5 e o fechamento do STF e do Congresso Federal.
 


O protesto foi seguido por policiais do Batalhão de Trânsito (BPTran) que impediram a realização de uma carreata, e mesmo assim, a manifestação provocou aglomeração na Avenida, contrariando as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde em meio à pandemia. Nos vídeos, é possível observar a presença de muitos idosos, principal grupo de risco da Covid-19.

Ao mesmo tempo, simpatizantes do presidente se aglomeraram em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília para defender uma intervenção militar, mostrando que são manifestações orquestradas em várias localidades. O presidente discursou durante o ato em Brasília contrariando as orientações de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS). Durante o discurso, Bolsonaro tossiu algumas vezes sem usar a parte interna do cotovelo, conforme orientação das autoridades sanitárias.

Do alto de uma caminhonete, falou que ele e seus apoiadores não querem negociar nada e voltou a criticar o que chamou de "velha política". Manifestantes gritavam "Fora Maia", "AI-5", "Fecha o Congresso", "Fecha o STF", palavras de ordem ilegais, inconstitucionais e contrárias à democracia. O AI-5 durou de 1968 a 1978, e foi usado para punir opositores ao regime e cassar parlamentares. 

O advogado Alexandre Guedes, da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), destaca o caráter golpista das manifestações: “As manifestações representam o que há de mais abjeto na política brasileira. Esse pessoal se autointitula intervencionistas, mas na verdade, são golpistas e conspiradores contra a democracia brasileira ao exigirem o fechamento do STF, STJ, da Câmara e do Senado. Estão conspirando contra as instituições que representam a democracia participativa e representativa no Brasil. Então, é inaceitável esse tipo de conspiração, e ela é ilegal”, afirma Guedes que complementa a necessidade de penalização de Bolsonaro:

“Todo esse pessoal está sendo impulsionado pelas atitudes arrogantes, prepotentes e insanas do presidente Jair Bolsonaro. Ele tem que ser responsabilizado criminalmente por: crime de responsabilidade, por crime contra a saúde pública e por estimular o genocídio de milhões de brasileiros com essas suas atitudes inconsequentes e irresponsáveis. A ABJD já entrou com ação nesse sentido no Tribunal Penal Internacional para que ele responda pelos crimes que vem cometendo”.

O advogado comenta que o fato dos manifestantes ficarem ajoelhados em frente às instituições Militares demonstram o profundo fundamentalismo no qual estão avançando: “Esse pessoal fundamentalista pode chegar se tornar terroristas e praticarem crimes de lesa-humanidade”, conclui.

Para Cida Ramos, deputada estadual, a democracia no Brasil é uma conquista árdua para o povo brasileiro: “Ela é uma conquista que precisa ser preservada e garantida. Eu vejo com muita preocupação atos como o de ontem, porque ninguém pode estar acima da Constituição. As instituições têm o dever de não permitir que atos como o de ontem voltem a acontecer, querendo tirar as liberdades individuais, o direito das pessoas de opinarem, como propagaram ontem, o retorno do AI-5. Eu tenho certeza que uma frente ampla em Defesa da democracia começa a se constituir no Brasil, em defesa da Constituição contra qualquer tipo de ditadura. Também acho que os atos de ontem não foram representativos, não podemos deixar que uma seita de poucas pessoas queira impor o retorno à ditadura”, declara Cida Ramos.

Para Élida Elena, estudante de História da UFPB e vice-presidenta da UNE, os atos deste domingo foram vistos com bastante preocupação: “Não é de hoje que Bolsonaro defende processos antidemocrático, defende a volta do AI-5 e da ditadura militar. O presidente quebrou a quarentena e as orientações dos órgãos de saúde, de isolamento social, para endossar atos que fazem pedidos antidemocráticos. Isso é uma afronta direta à nossa democracia e ao estado de direito, mas uma afronta também à saúde pública”, pondera ela.

Élida afirma que o bolsonarismo vem tentando acumular força para a destruição das liberdades democráticas: “Isso que a gente está vivenciando é muito grave, e nós da Une, que temos uma uma ligação histórica com a defesa da democracia brasileira, repudiamos veementemente esses atos antidemocráticos”, declara ela.

Jonas Duarte, professor de História da UFPB, também comenta a respeito das intenções do bolsonarismo neste momento: “Eu acho que estes atos são ensaios de Jair Bolsonaro e dos fascistas na tentativa de acumular forças para um auto-golpe. Está no horizonte dele e desses alucinados, fanáticos e fascistas. Mas eu creio que eles não conseguem porque, para o grande capital, para o poder econômico que quer o controle do estado brasileiro, não está no horizonte essa perspectiva. Acho que isso traz mais instabilidade do que o que o grande Capital necessita”, define ele.


 

Edição: Heloisa de Sousa