Entendemos que a ajuda emergencial tem que ser ampliada, não só no prazo, mas também no valor
Estamos há praticamente um mês vivendo em quarentena. Um momento extremamente difícil, um momento de preocupação com a saúde, de preocupação com a vida, mas de preocupação também com a subsistência e com a economia das famílias e com a economia do nosso país.
É preciso que tenhamos claro que há uma prioridade neste momento, que é a garantia da saúde e a manutenção da vida do povo. E para que as pessoas possam estar resguardadas, o Estado brasileiro tem que entrar em cena, apoiando aqueles que não têm condições de viver uma quarentena com o mínimo de tranquilidade.
É preciso que tenhamos claro que há uma prioridade neste momento, que é a garantia da saúde e a manutenção da vida do povo.
Aquelas pessoas que terão que sair de casa para poder obter a sua renda, que foi perdida por falta de trabalho — já que mais de 40% da mão de obra brasileira tem caráter informal, ou seja, sem carteira de trabalho e sem garantias de direitos —, devem receber a ajuda do Estado, pois sua renda é fruto do seu trabalho diário.
O auxílio emergencial de R$600,00 a R$1.200,00 que famílias e pessoas individualmente estão recebendo — graças à atitude, principalmente, da oposição no Congresso Nacional — tem se demonstrado essencial para a sobrevivência da população. Mas nós entendemos que essa ajuda tem que ser ampliada, não só no prazo, mas também no valor.
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O Estado deve também garantir a sobrevivência das micro e pequenas empresas e, sobretudo, dos trabalhadores que sobrevivem como microempreendedores individuais (MEI). O Estado nesta hora deve agir com muita força para garantir não apenas a sobrevivência dessas pessoas, mas para garantir que a nossa economia continue funcionando.
O Estado deve também garantir a sobrevivência das micro e pequenas empresas e, sobretudo, dos trabalhadores que sobrevivem como microempreendedores individuais (MEI).
E depois, quando a pandemia for embora, quando as vidas tiverem resguardadas, aí sim nós sentamos e vamos ver como ultrapassamos essa crise e como deveremos caminhar rumo à recuperação da economia.
Subnotificações
Mas eu quero me deter a um fato que diz respeito aos números. Os números vividos no mundo são terríveis. Até hoje, mais de 2 milhões de pessoas foram infectadas e diagnosticadas com coronavírus no mundo.
Nós temos também uma situação de mortes bastante delicadas. São aproximadamente 125 mil mortos no mundo. Nos Estados Unidos, que hoje está sendo o epicentro da pandemia, são mais de 30 mil mortos. E no Brasil, a nossa situação é extremamente grave: nos aproximamos de cerca de 30 mil casos notificados e já são mais de 1.600 mortes.
Entretanto, esses dados devem ser bastante relativizados, pois não são dados reais. Há um grande número de subnotificações no Brasil. Pessoas estão adoecendo, pessoas estão morrendo e esses números não estão sendo computados nessa estatística. E a razão disso é muito simples. O Brasil é um dos países que menos fazem testes de coronavírus no mundo. A diferença é abissal, tendo em vista a média dos testes realizados no Brasil em comparação a outros países.
:: Por que o governo não se preparou para oferecer testes suficientes do coronavírus? ::
Enquanto no Brasil são feitos de 290 a 300 testes por milhão de habitantes, no Irã estão estão sendo feitos 2.055 testes por milhão. Nos Estados Unidos, são 7.100 por milhão de habitantes. Na Alemanha, mais de 15.700 testes por milhão de habitantes. E no Brasil, repito, em torno de 296 testes, somente. E é lamentável que isso ocorra porque as pessoas estão morrendo sem ter um diagnóstico apresentado. E isso leva, naturalmente, a um relaxamento das pessoas.
Faltam leitos
Tão grave quanto a subnotificação é o fato de que o Brasil não está preparado para enfrentar o coronavírus. Não há leitos suficientes para abrigar os nossos doentes. Manaus, por exemplo, é uma cidade que já colapsou. Nós estamos com as UTIs todas lotadas e pessoas estão morrendo por falta de respiradores e por falta de assistência à saúde.
Então, eu quero dizer que, neste momento, a mensagem que todos temos que levar é para que as pessoas se cuidem, que continuem em suas casas, que continuem se protegendo e protegendo os que estão próximos de si.
Para além disso, reafirmar que continuamos a nossa luta para que o governo garanta condições mínimas de sobrevivência às pessoas, não permitindo que elas tenham que enfrentar filas enormes, como em frente às agências bancárias para sacar o auxílio emergencial e em frente à Receita Federal para que possam regularizar seu CPF.
O fato é que vivemos uma pandemia de proporções gravíssimas e que a prioridade neste momento é garantir a sobrevivência das pessoas.
*Vanessa Grazziotin é ex-senadora da República e membro do Comitê Central do PCdoB.
Edição: Vivian Fernandes