Rio de Janeiro

SISTEMA BANCÁRIO

O que se vê em agências bancárias do Rio é inacreditável: leia relato de sindicalista

Denúncias apontam que agências não disponibilizam material básico de proteção como álcool gel e máscaras para bancários

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Sindicato dos Bancários do Rio tem recebido denúncias que muitas agências funcionam sem equipamentos básicos de proteção - Tânia Rêgo / Brasil de Fato

Mais de dois meses se passaram desde que a primeira morte pelo coronavírus foi registrada no Brasil. O Rio de Janeiro decretou estado de calamidade há 20 dias. Desde então, empresas criaram estratégias para evitar o contágio, preservando a vida de funcionários e clientes. Imaginou-se que o sistema financeiro, ao qual não faltam recursos e profissionais disponíveis, implementaria imediatamente normas padronizadas para que a pandemia não sacrificasse vidas entre seus empregados e clientes. Os sindicatos se organizaram para exigir providências, não falta pressão, mas o que se vê nas agências bancárias, decorrido tanto tempo, é inacreditável. 

O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro tem recebido denúncias e constatado, através de visitas às agências, que muitas delas funcionam sem equipamento básico como álcool gel e que não disponibilizam máscaras para bancários e bancárias que precisam lidar diretamente com o público. Há casos de funcionários que improvisam barreiras plásticas nos caixas, diante da demora dos bancos em providenciar bases de acrílico, indispensáveis para que os clientes não respirem, tussam ou espirrem sobre quem está atendendo. 

Há casos de funcionários que improvisam barreiras plásticas nos caixas, diante da demora dos bancos em providenciar bases de acrílico

Sim, medidas básicas, de baixo custo, são ignoradas, postergadas pelos bancos, ficando, muitas vezes, a critério do gerente de cada unidade. Não se percebe a preocupação em padronizar procedimentos, em investir no que é necessário para preservar a saúde e a vida de bancários e bancárias, que são obrigados/as a trabalhar em tempos de pandemia. E o que alguns bancos estão fazendo com os que são vulneráveis e conquistaram o direito de ficar e casa? Impõe férias compulsórias, como se a licença de saúde fosse uma escolha. Seguem a brecha absurda deixada pela medida provisória, desconsiderando a convecção coletiva e a mesa de negociação.

Não é difícil imaginar como nossa categoria está sofrendo ao ter que enfrentar suas preocupações, entre elas, o temor de contaminação, diante do descaso ao qual estamos assistindo. E parece não haver limites para a desumanidade: alguns gestores continuam cobrando metas, exigindo resultados de vendas de produtos. Exatamente: a economia estagnada, o país parado, mas os bancos não abrem mão de lucro e resultados diante da pandemia. É uma realidade cruel e inaceitável.

E parece não haver limites para a desumanidade: alguns gestores continuam cobrando metas, exigindo resultados de vendas de produtos

Entendemos que garantir atendimento aos que não possuem conta corrente ou acesso aos canais virtuais é necessário, temos um papel social a cumprir. Mas colocar as nossas vidas em risco dessa forma e ainda cobrar metas não é algo que se possa admitir. 

Perdemos um bancário da agência Catete do Banco do Brasil e outro da agência Penha do Bradesco. E temos inúmeros casos suspeitos e outros já confirmados. Mas parece que nem isso está sendo suficiente para que os banqueiros entendam: é urgente radicalizar na prevenção. Temos insistido que haja cumprimento de protocolo diante dos casos suspeitos e confirmados, exigimos que as agências sejam fechadas e todos que tiveram contato com essas pessoas sejam postos em quarentena. Cobramos que as agências sem materiais de proteção não funcionem. Queremos a suspensão imediata da pressão por metas. Temos insistido na necessidade de agendar atendimento para evitar aglomeração nas agências. 

Perdemos um bancário da agência Catete do Banco do Brasil e outro da agência Penha do Bradesco.

Nesse momento, o que precisamos é de união para enfrentar o pior. Precisamos que recursos sejam aplicados na implementação de estratégia unificada para a preservação da vida. Precisamos de sensibilidade. Urgente! Antes que seja tarde. 

*Adriana Nalesso é presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

Edição: Vivian Virissimo