Antes de mais nada, precisamos (e com urgência) preservar o lado humano e cuidar daqueles que amamos
Assim como vários e vários amantes do velho e rude esporte bretão, este colunista é mais um que sofre bastante com os dias sem ver a bola rolando pelos nossos gramados e com a falta das nossas já bem conhecidas resenhas. No entanto, ao invés de lamentar a simples paralisação das nossas principais competições esportivas, peço licença para enveredar por outra seara que é muito, mas muito mais importante do o efeito financeiro que a pandemia de coronavírus pode causas nos nossos clubes.
Antes de mais nada, precisamos (e com urgência) preservar o lado humano, cuidar daqueles que amamos. Parece óbvio, mas futebol é o que menos importa nesse momento.
Tentar aliviar o baque econômico nos clubes com a paralisação dos nossos campeonatos é atitude louvável desde que se respeite as pessoas que fazem parte do esporte e o que realmente está em jogo. Não me refiro apenas a jogadores, mas também aos membros de comissões técnicas, dirigentes, profissionais que trabalham nos clubes, federações e nos nossos estádios além, é claro, do torcedor. A CBF já acenou com aporte financeiro aos clubes das Séries C e D (que não recebem cotas de TV) e aos times que disputam o Brasileirão Feminino nas Séries A1 e A2. Parece pouco, mas é muito diante dos discursos gananciosos e mesquinhos que ouvimos de alguns empresários nas últimas semanas.
Ao mesmo tempo, UEFA e Conmebol acenaram com a possibilidade da realização dos jogos da Liga dos Campeões e da Copa Libertadores da América com portões fechados há alguns dias e ainda tentam dar continuidade às suas principais competições. Me parece mais uma demonstração clara de negação diante do momento delicado pelo qual o mundo vem passando. Queremos sim que as coisas voltem a ser como era antes. Queremos continuar vivendo nossas vidas do jeito que vivíamos.
No entanto, essa pandemia de coronavírus afeta muito mais do que a economia e as finanças dos principais clubes do planeta. Ela atinge o nosso lado humano como um chute no ângulo do goleiro em final de Copa do Mundo.
Na última segunda-feira (6), a mãe do técnico espanhol Pep Guardiola faleceu após contrair a doença. No mesmo dia, o médico do Stade de Reims (quinto colocado no Campeonato Francês) Bernard González, cometeu suicídio após saber que testou positivo para covid-19. Ele tinha 60 anos. E na última terça-feira (7), o argentino Montillo (ex-jogador de Cruzeiro, Santos e Botafogo) perdeu pai e avô com suspeita de coronavírus.
Atletas, treinadores, médicos, massagistas, dirigentes e todo e qualquer profissional ligado ao esporte são gente como a gente. E assim como nós, todos eles também temem pelo bem estar daqueles que amam diante dessa pandemia. E mais do que nunca, o distanciamento social precisa ser mantido até que se encontre uma solução para esse problema. Por mais que seja difícil abrir mão daquilo que amávamos fazer durante algum tempo.
É muito complicado saber quanto tempo a bola vai ficar sem rolar. Assim como cada um de vocês, este colunista também sente muita falta do contato com aqueles que ama. Do carinho dos pais e irmãos, dos tapinhas nas costas dos amigos queridos e de correr pro abraço quando a bola balança as redes. Mas esse período é mais do que necessário para que voltemos a nos relacionar como sempre o fizemos. É preciso se distanciar agora para não se distanciar para sempre em poucos dias.
Já se sabe que o mundo dificilmente será o mesmo depois da pandemia de covid-19. Muita coisa terá que ser repensada. Desde o formato das nossas principais competições, o nosso calendário e de como vai se dar a nossa adaptação ao mundo depois que tudo isso passar. Se é que vai passar mesmo. O momento agora é de paciência. Paciência e fé. Mas não a fé que paralisa ações e mutila pensamentos. Mas a fé ativa e consciente que busca soluções e nos aproxima uns dos outros.
Repito: o futebol é o menos importante nessa história.
Precisamos cuidar uns dos outros, cuidar da nossa cabeça, manter o isolamento social e combater todo e qualquer tipo de notícia falsa e apoiar quem entende do assunto: os cientistas. Por mais que os dias tenham sido convidativos para uma pelada na praia ou uma cervejinha com os amigos, precisamos ficar em casa e adotar as medidas corretas de higiene caso precisemos sair para trabalhar ou comprar comida.
Apesar do temor que toma conta deste colunista, o sentimento é de esperança. A bola pode não estar rolando agora, mas ela voltará a rolar com gosto e com o grito da torcida nas arquibancadas. Que assim seja.
Edição: Mariana Pitasse