Grande parte das mortes causadas por coronavírus ainda são de pessoas que estavam no grupo de risco, ou seja, aquelas que, antes do contágio pelo vírus, já apresentavam alguma doença imunossupressora (que reduz a atividade ou eficiência do sistema imunológico). A pandemia já causou mais de 85 mil mortes em todo o mundo. No Brasil, segundo os últimos dados do Ministério da Saúde, já são 800 mortes.
Este grupo de risco — que inclui pessoas com HIV, hipertensas, diabéticas, entre outras — também engloba pessoas em tratamento de câncer. Elas estão mais suscetíveis a desfechos mais letais da doença, por conta da baixa imunidade que a quimioterapia e demais procedimentos para eliminar o câncer influem no corpo.
Apesar de o tratamento ser invasivo e baixar as defesas do paciente, não são todos as pessoas com câncer que integram o grupo de risco. É o que destaca Eloá Brabo, médica oncologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, uma das referências para atendimentos de emergência por coronavírus do Rio de Janeiro.
"São inicialmente os pacientes com câncer hematológico — que têm leucemia aguda, linfoma — que costumam fazer um esquema de quimioterapia mais intenso e têm risco maior de estar com os níveis no sangue um pouco mais baixos".
Brabo alerta ainda que "pacientes que fizeram transplante de medula e aqueles que estão em tratamento de quimioterapia ativo, nos últimos trinta dias" devem adotar medidas de maior prevenção ao contágio pelo coronavírus. A oncologista lembra, também, que a régua dos trinta dias para quimioterapias é adotada no Brasil. No mundo, segundo Brabo, o alerta é para pessoas que fizeram o tratamento nos últimos três meses".
::Direitos sociais do paciente com câncer::
Segundo a oncologista, no entanto, os cuidados para as pessoas que integram grupos de risco são os mesmos orientados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a população em geral para evitar o contágio.
"É importante lavar as mãos, manter o isolamento social, não ficar perto de pessoas sabidamente gripadas, com sintomas de febre ou respiratórios e procurar se proteger de contatos, como aglomerações no transporte público".
Paula Bitondi, professora e tradutora, convive com o câncer desde 2014, quando descobriu a doença em uma das mamas. Ela conta que, desde antes da quarentena ser decretada oficialmente, ela já havia sido alertada pelo médico, para evitar sair de casa. "Hoje só saio para fazer sessões de quimioterapia e retirada de sangue", explica.
Bitondi está em um estágio da doença chamado metástase, quando o câncer se espalha por diversos órgãos e nos ossos. O maior receio, segundo a professora, é com os atendimentos de emergência, muito necessários a pessoas com câncer.
"Um paciente oncológico, se ele tem febre acima de 38, ele vai correndo para o hospital. Hoje, se eu tiver uma febre acima de 38, eu não vou, porque é mais um risco que eu corro".
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Segundo a oncologista Eloá Brabo, a principal palavra para os pacientes com câncer é "individualização".
"O paciente tem que conversar com seu médico sobre as dificuldades que ele enfrenta no transporte para chegar no centro de treinamento. E o médico deve decidir junto com o paciente quais são as alternativas, se é possível, por exemplo, fazer o tratamento em casa", aponta.
O caso de Thayana Barros, que é diretora de eventos infantis na cidade de Porto Alegre, é diferente. Apesar de seguir com o tratamento de um câncer metastático, ou seja, quando a doença já se espalhou para outros órgãos, Barros não está no grupo de risco. Ela faz tratamentos com hormonioterapia, o que impede o avanço da doença.
"Sabendo da necessidade de ficar em casa, eu procurei cuidar da minha saúde mental, porque o paciente oncológico já passa pelos medos que a população está passando com o coronavírus: o medo da morte, entender a finitude. Com mais sabedoria em relação a essas reflexões, eu me preocupo, sim, com as recomendações médicas de ficar em casa, mas eu não deixo o pavor me dominar", assegura.
Edição: Vivian Fernandes