Minas Gerais

Pandemia

Movimentos populares cobram a abertura dos hospitais regionais em Minas Gerais

Ao todo, são 10 obras abandonadas que poderiam significar 2 mil leitos a mais na rede SUS

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Obras do Hospital Regional de Conselheiro Lafaeite - Conselho Estadual de Saúde

Em todo o país, a população acompanha com atenção os números de casos do coronavírus, cuja tendência é aumentar “descontroladamente” nos próximos dias, conforme indicação do Ministério da Saúde. Em Minas Gerais, de acordo com informe epidemiológico de segunda (6) – divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) – já são 525 casos confirmados para covid-19 e nove óbitos confirmados, além de 47.715 casos suspeitos e 119 óbitos em investigação.

Entre as medidas tomadas pelo time de Romeu Zema (Novo), está a ampliação de leitos para atendimento aos pacientes. Por exemplo, o hospital de campanha no Expominas, em Belo Horizonte, teve sua primeira etapa concluída na última sexta (3). Apesar disso, quase 200 organizações populares que assinam a "Plataforma Estadual de Emergência”, um documento com reivindicações ao governador Romeu Zema frente à pandemia, avaliam que as medidas são insuficientes.

Além de mais investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) e a abertura de hospitais de campanha em outras cidades, as organizações exigem a abertura imediata dos hospitais regionais, o que efetivamente ampliaria o número de leitos em todas as regiões do estado. No entanto, a inauguração de 10 hospitais é um imbróglio que atravessa os governos mineiros.

Segundo Ederson Alves da Silva, vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, as obras começaram há anos, foram paralisadas várias vezes, mas alguns já teriam condições de serem inaugurados. “Falta vontade política. Mesmo com as dificuldades financeiras, o Estado poderia ter priorizado acabar a construção dos hospitais. Isso iria desafogar muito a Região Central e a condição do SUS de atender a população nesta pandemia seria outra”, aponta.  

Hospitais regionais

A discussão sobre o aperfeiçoamento da estrutura hospitalar de Minas Gerais começou em 2007, quando surgiu o projeto de implantação de hospitais regionais. Atualmente, são dez hospitais em obras: em Além Paraíba e Teófilo Otoni, as obras começaram em 2014. Em Divinópolis, de 2011 a 2016, foi construído aproximadamente 61% do hospital. Em Governador Valadares, as obras foram iniciadas em 2013. No ano de 2010, começaram as obras em Juiz de Fora, Conselheiro Lafaiete e Sete Lagoas. Em Montes Claros, Nanuque e Novo Cruzeiro, os hospitais nem saíram do papel. Ao todo, uma vez finalizados, haveria uma ampliação de mais de 2 mil leitos no estado.


Obras do Hospital Regional de Conselheiro Lafaeite, em MG / Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais

No início de 2019, a SES criou um grupo de trabalho para realizar um estudo sobre a situação dos hospitais regionais, visto que a abertura foi uma promessa de campanha do governador. Em nota, a secretaria afirma que as ações do grupo foram concluídas no final do ano e que o relatório “considerou as dificuldades causadas pela crise financeira que atinge o estado" e que o governo “está avaliando as alternativas que poderão ser implementadas, considerando a realidade de cada Hospital Regional”.

Na plataforma, os movimentos populares sugerem que a verba para os investimentos necessários na saúde e em outras áreas sociais poderia ser originada a partir da revogação da Lei Kandir, uma vez que a estimativa é que o estado perdeu R$ 1 bilhão por ano em isenção a impostos da mineração. Outra opção apontada no documento é a criação de imposto sobre fortunas bilionárias.

Medidas contra o coronavírus

Tantos as organizações populares quanto profissionais da saúde têm debatido o fortalecimento do SUS como a principal ferramenta de combate à pandemia. Frente a essa disputa, o isolamento social ainda é a principal medida tomada pelos governos. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro tem realizado discursos que minimizam a doença e seus efeitos na saúde da população. E Romeu Zema diz estar estudando a abertura de alguns setores do comércio.

“O isolamento social é a única chance que temos. A gente tem que aprender com os acertos dos chineses e com os erros dos italianos. O governo do estado está vacilando muito e, claro, nosso presidente está titubeando, cada hora ele fala uma coisa, atravessada, que mostra que ele não tem condições de falar sobre esse assunto. Ele vem atrapalhando muito a questão do controle, pois tem gerado mais estresse do que devia”, avalia Unaí Tupinambás, professor do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro dos comitês de enfrentamento a convi-19 da Prefeitura de Belo Horizonte e da UFMG.

Edição: Joana Tavares