Estamos vivendo no mundo a crise da pandemia da covid-19. No Brasil, o presidente da República vem defendendo medidas na contramão das recomendações das entidades internacionais de saúde em relação à saúde do povo. Mesmo antes da pandemia, a visão ultraliberal do governo – através de cortes nos investimentos em ciência, tecnologia, educação, saúde e assistência social – já fragilizam as condições do Estado em responder à emergência sanitária. A opção política pela precarização dos serviços públicos essenciais, que se consolidou com a aprovação da Emenda Constitucional 95 (mais conhecida como a “PEC da morte”, que congelou os investimentos públicos por 20 anos) destruiu nossa rede de proteção social.
Essa questão perpassa principalmente sobre qual modelo de Estado queremos. O Estado deve servir a quem e para quem? Acreditamos que a soberania nacional é uma das principais bandeiras de resistência e luta no Brasil. Mesmo a questão da produção de Ciência e Tecnologia no Brasil perpassa por um grande debate sobre a soberania. Hoje, na prática, vem se demonstrando que é através do Estado, dos órgãos públicos e suas servidoras e servidores que se materializarão as saídas para essa pandemia e suas consequências econômicas e sociais.
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Casos como das pesquisadoras e pesquisadores da USP que sequenciaram o genoma completo desse vírus em 48 horas, demonstram o verdadeiro caráter das universidades públicas. Somente com fortes investimentos em educação, ciências e tecnologias, uma rede de proteção Social como o SUS, devemos enfrentar essa pandemia que já infectou, de acordo com dados a Organização Mundial de Saúde, mais de 600 mil pessoas e matou mais de 31 mil em 183 países ou territórios ao redor do mundo. No Brasil, o Ministério da Saúde confirmou 4.256 casos e 136 mortes, dados, provavelmente subdimensionados devido à falta de testagem em massa da população.
Casos como das pesquisadoras e pesquisadores da USP que sequenciaram o genoma completo desse vírus em 48 horas, demonstram o verdadeiro caráter das universidades públicas
Olhando mais de perto as ações que o mundo está realizando e o que está acontecendo no Brasil, é possível notar o caráter egoísta e predatório dos donos do meio de produção, evidenciando a luta de classes. Enquanto, de dentro de seus carros importados eles pressionam, com suas carreatas, os governantes a suspenderem o isolamento social, sabem que será a classe trabalhadora que sofrerá mais com o colapso do sistema de saúde.
Mesmo nos Estados Unidos – país ícone do capitalismo – empresas como a Ford, 3M, GE formam uma iniciativa chamada “Projeto Apollo”, respondendo um chamado do presidente Donald Trump e começam a produção de milhares de ventiladores mecânicos e respiradores para suprir as necessidades do seu povo. Além disso, engenheiras e engenheiros das empresas estão trabalhando em conjunto no desenvolvimento de um modelo simplificado, que será produzido em uma das fábricas da montadora. Isso nos deixa claro o caráter da nossa elite atrasada e subserviente.
Essa questão perpassa principalmente sobre qual modelo de Estado queremos. O Estado deve servir a quem e para quem?
Com isso, entra na cena política o debate sobre nossa soberania. Devemos propor saídas populares, com a discussão do tipo de Estado que queremos, fortalecendo nossas empresas públicas, universidades e nosso sistema único de saúde para não dependermos dessa nossa elite retrógrada e anti-povo.
Allan Yukio Hayama é Engenheiro de Produção e diretor de relações com a sociedade do Sindicato dos Engenheiros da Bahia
Fonte: Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros)
Edição: Vivian Virissimo