Devemos exercer a solidariedade com os setores da classe trabalhadora mais vulneráveis.
Falar que vivemos uma crise não é novidade. Desde 2008, experimentamos uma crise profunda no modo de produção capitalista em todo o mundo, e com ela um maior acirramento da luta de classes. O imperialismo, capitaneado pelos Estados Unidos, opera golpes e conflitos militares com o objetivo de restaurar o neoliberalismo e recuperar as taxas de lucro de suas empresas transnacionais. É neste contexto em que surge a pandemia do novo coronavírus, que tende a agravar a crise econômica, transformando-a em crise política, social e humanitária. Portanto, não cabe desprezar os impactos da pandemia nos rumos da luta de
classes.
Embora o aprofundamento da crise não signifique necessariamente uma saída progressista, não é possível determinar o seu desfecho de antemão. Mesmo num cenário adverso, é possível acumular forças e nos reconectar com o povo brasileiro.
Para isso, nossa preocupação central deve ser salvar a vida das pessoas, posicionando-nos como representantes das medidas de proteção social e garantia das medidas preventivas em saúde.
Ao mesmo tempo, devemos exercer a solidariedade aos setores da classe trabalhadora mais vulneráveis, que são os moradores das periferias dos grandes centros urbanos. Combinados com uma intensa batalha de ideias sobre o projeto político para o Brasil, sobre o programa econômico que defendemos, está a defesa do SUS e de medidas protetivas para os trabalhadores enfrentarem o desemprego e a fome.
Com o início da pandemia do coronavírus no Brasil e a postura genocida adotada por Bolsonaro, observamos o acirramento da crise política no país. Embora essa dimensão da crise ainda esteja em desenvolvimento, é possível afirmar que há um crescente isolamento de Bolsonaro na esfera institucional, e uma gradativa perda de referência nos setores médios da sociedade, além da ampliação do desgaste do governo nos setores populares.
Na última semana, vivemos uma guerra aberta em torno das medidas de combate ao coronavírus. De um lado Bolsonaro, sua base social e parcelas importantes da burguesia convocando os trabalhadores a voltarem ao trabalho, inclusive promovendo carreatas e manifestações em algumas cidades.
Trata-se de uma aposta arriscada do bolsonarismo, que aponta para uma saída autoritária para a crise, com o aprofundamento do caos social provocado pelo agravamento da situação econômica.
Do outro lado, governos estaduais, a maioria do Congresso Nacional, parcelas do Judiciário, parte da grande mídia, em especial a rede Globo, somado aos setores progressistas, com panelaços diários das classes médias. Essa situação revela o crescente isolamento de Bolsonaro na esfera institucional, e a perda de parcelas crescentes de sua base social. Quanto aos militares, ainda não é possível afirmar a existência de um conflito aberto, embora apareçam contradições. Devemos permanecer monitorando essas e outras movimentações.
Divulgada na última sexta-feira (27), pesquisa realizada pelo Instituto Travessia e encomendada pelo jornal Valor Econômico aponta que 84% dos entrevistados aprovam as medidas de isolamento social, enquanto 64% não confiam em Bolsonaro para gerir a crise do coronavírus. Um total de 70% dos entrevistados aprovam a ação dos governadores de estados que têm contrariado o método de "isolamento restrito" aos grupos de risco, defendido por Bolsonaro. No que diz respeito aos jovens, entre 16 e 24 anos, 75% desaprovam a postura de Bolsonaro diante da pandemia. Esses dados demonstram uma crescente insatisfação popular com o governo nesse momento de crise.
O isolamento de Bolsonaro não significa necessariamente uma saída progressista para a atual crise, inclusive quem mais tem aproveitado este cenário de desgaste do governo são os representantes da direita tradicional, em especial o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), e o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Constatar esse crescente isolamento não significa a ausência de unidade burguesa em torno do programa econômico, embora o neoliberalismo seja um dos grandes derrotados pela crise. Apesar disso, não está descartada a possibilidade de Bolsonaro ser retirado da condição de representante dos interesses burgueses.
Ainda é cedo para fazer grandes afirmações, mas não podemos titubear diante da possibilidade de isolar e fragilizar os setores neofascistas dentro do governo. Isso não significa termos ilusão com o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). Tampouco, diminui nossos desafios na construção de força social para superarmos a crise. Só não podemos ter dúvidas de quem é o inimigo principal neste atual momento.
Por isso, segue sendo a tarefa central das forças populares desgastar, isolar e derrotar o neofascimo neste momento de crise, incidindo nas contradições dos nossos inimigos. É nosso papel demonstrar a falência do neoliberalismo, apresentando medidas como taxação das grandes fortunas, como uma resposta à crise econômica e como proteção à saúde do povo brasileiro. Do mesmo modo, seguiremos através de uma grande campanha de solidariedade fortalecendo os vínculos de confiança com a classe trabalhadora, acumulando forças em torno de um projeto popular para o Brasil.
São tempos difíceis, que exigem saídas complexas, que combinam ações em diversos terrenos da política. Sigamos atentos e fortes!
Edição: Vivian Fernandes