Não vamos renascer em um mundo melhor, mas talvez os opostos não sejam mais tão opostos
Imaginar que renasceremos para um mundo melhor e mais amoroso, depois da pandemia, conforta os espíritos sensíveis, mas é uma ilusão. O cenário futuro mostra uma tragédia: aumento das desigualdades, explosão do desemprego, agravamento das violações de direitos.
Esse é o mundo que encontraremos depois da quarentena. As forças democráticas, mais do que nunca, terão papel decisivo diante da crise.
Se havia algum otimismo em relação à economia, esse otimismo acabou. A Fundação Getúlio Vargas aponta uma queda de 4,4% no Produto Interno Bruto em 2020. Alguns analistas, em projeções pessimistas, falam em retração de até 7,7%, caso a contaminação pelo coronavírus seja muito maior do que a média europeia.
A única certeza, por ora, é que o melhor a fazer é o confinamento, para reduzir a contaminação e poder retomar as atividades de forma segura, talvez em maio ou junho. Só o gabinete do ódio, que vive seus estertores finais, ainda luta contra a Ciência.
Na China, a retomada da atividade está diretamente vinculada à diminuição da disseminação do vírus. Nos países da Europa, também. No Brasil não será diferente.
::Coronavírus: o que pode acontecer aos brasileiros sem o isolamento social?::
Desemprego
O cenário futuro é de desemprego em massa, principalmente para os trabalhadores informais, que representam 40% da força de trabalho ocupada no Brasil. A retomada será lenta e muito sofrida. Trabalhadores formais também vão perder emprego. As desigualdades vão aumentar e as violações de direitos se agravarão.
Os desempregados do pós-pandemia farão qualquer coisa, por qualquer preço, em troca de um prato de comida. A fome vai bater a porta de muita gente. O atual governo, na atual configuração, não está preparado para mudanças profundas na política social e econômica.
Bolsonaro será o boi de piranha, jogado às feras para salvar o capital.
A retomada do emprego será mais lenta que a retomada da vida fora do confinamento. Alguns analistas têm falado em até 19% de desemprego, em dezembro desse ano. É uma tragédia de proporções históricas.
O movimento social terá que se unir, as forças democráticas terão que se unir. Não vamos renascer em um mundo melhor e mais amoroso. Mas podemos renascer em um mundo onde os opostos não sejam mais tão opostos, em nome da vida e da sobrevivência de nós mesmos.
Edição: Rodrigo Chagas