Ao contrário do que pensam os ultraliberais, a utilização dos recursos públicos para fomento da economia é uma ferramenta eficaz no combate às crises, pois garante a manutenção dos empregos, da renda e dos investimentos.
O Brasil, a partir da lógica ultraliberal, vem consolidando um dos maiores atrasos civilizatórios de sua história. O governo federal, sob gestão antes de Temer e agora de Bolsonaro, apostou em cortar investimentos na ciência, tecnologia, educação, saúde e assistência social, áreas essenciais para a existência humana e para a soberania nacional. Esse movimento de desmonte se consolidou com a instituição da Emenda Constitucional 95, mais conhecida como a "PEC da morte", que congelou os investimentos em políticas sociais por 20 anos e feriu de morte a rede de proteção social no nosso país.
A partir de um processo direcionado e massificado de produção e disseminação de informações enviesadas constituiu-se um certo consenso de que o Estado brasileiro era caro e ineficiente e que as reformas eram as únicas formas de corrigir tais distorções.
Era nítido que esta argumentação era uma falácia defendida pelo mercado, mas os partidos de esquerda, sindicatos, centrais e movimentos sociais, não dispunham dos mesmos recursos, meios e capacidade de mobilização, pois foram duramente atacados por setores do judiciário. Hoje, durante a pandemia, são os órgãos públicos e seus servidores, que tanto sofreram com esses ataques e cortes, que estão buscando a cura, a vacina e os remédios. As pesquisas, em diversas áreas, nos ajudam a entender e a passar por esse momento evitando que essa triste situação seja ainda mais grave.
Temos uma grande oportunidade de defender a importância dos investimentos públicos e da rede de proteção social. O maior problema do Brasil sempre foi a desigualdade. Em nosso país, os mais pobres são os que mais sofreram, os que mais sofrem e os que mais sofrerão na atual crise do covid-19.
A luta pela emancipação popular e pela superação da desigualdade sempre foi um contraponto à nefasta realidade social brasileira. O ensino, a pesquisa e a extensão universitária são importantes meios de transformação social, por isso, são tão atacados. As elites não querem um povo instruído e organizado. As universidades públicas, que foram tão atacadas e acusadas de só fazerem balbúrdia, hoje assumem o protagonismo na luta contra o coronavírus. Não é o momento para disputa ideológica, mas precisamos ter consciência de quem está e estará ao nosso lado. Em todos os momentos.
Muitas pessoas têm morrido sem tratamento, por não terem condições de arcar com as despesas médicas. Não no Brasil. O Sistema Único de Saúde (SUS) precisa ser ampliado a todos, mas garante o atendimento, independente de classe ou renda, seja através das unidades de postos, policlínicas, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou hospitais.
Entre as 10 maiores economias do mundo, o Brasil é um dos poucos que possui uma rede ampla e gratuita de saúde.
As reformas defendidas pelos ultraliberais buscaram desmontar a rede de proteção social, sucatear os serviços públicos, privatizar as riquezas nacionais e comprometer a soberania nacional. Por pouco não dinamitaram todo parque científico brasileiro. Se tivessem alcançado seus objetivos, hoje estaríamos nas mãos dos gananciosos que só pensam nos lucros.
Desde 2016, vivemos tempos muito difíceis, mas as mobilizações nas redes e os atos de rua, muitas vezes subestimados, foram importantíssimos para barrar os retrocessos que poderiam ter sido ainda maiores. O próprio ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, reconheceu que sem as universidades públicas, sem a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e demais órgãos públicos o Brasil estaria em grave risco. Ou seja: estaríamos caindo no abismo em queda livre.
Para desespero dos ultraliberais, a guerra contra o covid-19 será vencida pelas instituições públicas, com investimentos públicos e proteção social.
*Thiago Risso é mestrando em Política Social na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Edição: Mariana Pitasse