Coronavírus

Pronunciamento isola Bolsonaro e insatisfação com presidente aumenta entre políticos

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, afirmou que o país precisa de uma "liderança séria"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Ele voltou a falar em “histeria” e “gripezinha” - Sergio Lima/AFP

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contrariou todas as recomendações sanitárias e as experiências de outros países diante da pandemia causada pela covid-19, em um pronunciamento, nesta terça-feira (24) feito em rede nacional de rádio e televisão.

Em resposta, governadores, líderes de partidos no Congresso Nacional e os presidentes das casas legislativas criticaram o posicionamento do presidente e o tom de impeachment começa a ganhar força entre diferentes espectros políticos. 

Durante o pronunciamento, o capitão reformado pediu para a população brasileira que volte à normalidade, mesmo com cerca de 360 mil casos confirmados e 16 mil mortes decorrentes do novo coronavírus em todo o mundo. Enquanto falava em rede nacional, o Brasil registrava 2.201 casos confirmados e 46 mortes.

Um relatório produzido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) obtido pelo The Intercept Brasil faz uma projeção de que o número de mortes pode chegar a 5.571 em apenas duas semanas.

Bolsonaro voltou a falar em “histeria”, “gripezinha” e criticou prefeitos e governadores que optaram pelo fechamento de escolas e do comércio a fim de frear o avanço da contaminação. “Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transporte, o fechamento de comércio e o confinamento em massa", disse.

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O presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP) foi um dos primeiros a se manifestar publicamente após o pronunciamento. Em nota assinada junto com o vice-presidente do Senado Federal, Antonio Anastasia (PSD-MG), classificaram como “grave” a fala do presidente da República e afirmaram que o país precisa “de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população”.

“Reafirmamos e insistimos: não é momento de ataque à imprensa e a outros gestores públicos. É momento de união, de serenidade e equilíbrio, de ouvir os técnicos e profissionais da área para que sejam adotadas as precauções e cautelas necessárias para o controle da situação, antes que seja tarde demais”, declaram Alcolumbre e Anastasia.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), parabenizou o posicionamento de Alcolumbre e afirmou nas redes sociais que o “pronunciamento do presidente foi equivocado ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública” e avisou que desde o início da crise “vem pedindo sensatez, equilíbrio e união”.

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“O momento exige que o governo federal reconheça o esforço de todos - governadores, prefeitos e profissionais de saúde - e adote medidas objetivas de apoio emergencial para conter o vírus e aos empresários e empregados prejudicados pelo isolamento social”, afirmou Maia. 

Resposta dos governadores

O pronunciamento provocou respostas mais duras dos governadores. Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão, afirmou que “há poucas esperanças de que Bolsonaro possa exercer com responsabilidade e eficiência a Presidência da República. Os danos são imprevisíveis e gravíssimos.” Dino também informou que irá manter as medidas tomadas contra a pandemia do novo coronavírus.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), classificou o pronunciamento como “inaceitável e lamentável”. "Espero que o presidente não insista nesse caminho."

 "Confesso que depois da iniciativa do presidente, de ter atendido os governadores, achei que fosse mudar. E aí hoje ele vem com essa postura e com esse conteúdo, totalmente na contramão de todas as medidas que, com tanto esforço e responsabilidade, os governadores e prefeitos vêm enfrentando a pandemia?", questionou a governadora. 

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No Piauí, o governador Wellington Dias (PT) publicou um vídeo em suas redes sociais lembrando o presidente Bolsonaro que “boa parte” dos contaminados pelo novo coronavírus estão internados por semanas em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), “entubados”.

"Tive que tomar medidas duras, de suspender cirurgias marcadas, de casos importantes, seguindo orientação do ministro da Saúde do seu governo [de Bolsonaro] para garantir vagas para quem pudesse precisar, por conta do coronavírus [...] ​Não se faz isso por uma gripezinha.” E continuou: "Sei que as pessoas terão prejuízo mas há algo em primeiro lugar agora, é a vida humana [...] Vamos seguir com o isolamento social onde for necessário, com a ciência e com Deus".

Por meio de suas redes sociais, Camilo Santana (PT), governador do Ceará, informou que as medidas sanitárias recomendadas pelos profissionais de saúde “têm sido a melhor forma de enfrentamento ao coronavírus". "Tenho apenas um comentário a fazer: vamos continuar trabalhando fortemente as ações que visam evitar o avanço do coronavírus em nosso estado, como temos feito até aqui", disse.

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Do Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB), afirmou que o pronunciamento mostra que “estamos sem direção” e que Bolsonaro está “desconectado da realidade, desconectado da ação do Ministério da Saúde, atrapalha o trabalho dos governadores e menospreza os efeitos da pandemia".

Casagrande também disse que o discurso do presidente do país deslegitima o trabalho do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. "O ministro não tem legitimidade para permanecer mais no ministério", afirmou. 

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou que não se trata de uma “gripezinha”. “Não é gripezinha. Vou continuar trabalhando em defesa da vida. Olhar nos olhos das pessoas e dizer: estamos numa guerra. Acorda. Temos que vencê-la. Chega de discurso vazio e delírios. Vamos trabalhar mais e mais. Responsabilidade. Todos contra o coronavírus.”

Resposta dos parlamentares do Congresso Nacional

Enio Verri (PT-PR), líder do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados, afirmou que “o mundo assiste estarrecido” aos posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia causada pelo coronavírus. A linha de sua resposta foi na mesma de Davi Alcolumbre ao afirmar que o país precisa de uma “liderança responsável que adote medidas concretas”.

“No momento em que estadistas, gestores, cientistas, instituições e profissionais de diferentes áreas se unem, no mundo todo, em busca de soluções que possam minimizar os impactos do vírus nas vidas das pessoas, o presidente vem a público, de forma desonesta, estimular os brasileiros e brasileiras a colocarem as suas vidas em risco e as dos demais, disse.

A liderança da minoria e da oposição na Câmara dos Deputados, divulgou uma nota nesta quarta-feira (25) em repúdio à fala do presidente. No texto, os deputados afirmam que o presidente coloca em risco a vida de milhares de brasileiros.

"Bolsonaro menospreza a crise na saúde e os perigos da covid-19, colocando milhares brasileiros em risco. O governo federal deveria liderar esforços, gerar sintonia entre os entes federados, mobilizar os recursos necessários e conscientizar a população das melhores práticas. Bolsonaro faz o contrário. Desinforma, enfrenta a ação de governadores e prejudica os esforços dos profissionais da saúde", diz o texto.

No Twitter, o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro “ultrapassou todos os limites: pediu ao povo que volte às ruas para morrer! Não há precedentes na história do país algo tão abjeto! #BolsonaroGenocida”.

A deputada e líder do Partido Comunista do Brasil, Perpétua Almeida (PCdoB-AC), afirmou que Jair Bolsonaro foi “desequilibrado, sem o menor preparo para dirigir o país, muito menos a pandemia do Coronavírus. Induziu o povo ao suicídio.”

O líder da minoria na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o capitão reformado precisa ser interditado. “O pronunciamento de Bolsonaro é uma completa e extraordinária irresponsabilidade na gestão política do país. Expõe para a população a dramaticidade da falta de coerência no tratamento desta que é a maior crise que o Brasil enfrenta nos últimos anos, conforme as várias autoridades sanitaristas do país e o próprio ministro da Saúde".

Edição: Leandro Melito