A epidemia do coronavírus 2019 (covid-19) que teve início na China e depois se espalhou para o mundo, tornando-se uma pandemia com mais de 300 mil casos confirmados e em torno de 19 mil mortes, impõe a necessidade de repensar o modelo econômico e de desenvolvimento capitalista que impera no mundo.
Muitos analistas apontam que essa situação tem proporcionado graves impactos sobre as dinâmicas sociais e econômicas de diversos países e que as repercussões durarão muito mais tempo que a própria pandemia. A exemplo do que ocorre em países com sistemas de saúde bem organizados, como a Espanha e a Itália, os quais demostram que os efeitos da pandemia extrapolam a questão de saúde pública e a capacidade de resolutividade dos sistemas de saúde frente ao covid-19.
No caso brasileiro, ainda estamos no início da epidemia no nosso país, totalizando, até o dia 24 de março de 2020, 2.201 casos confirmados e 46 mortes, segundo o Ministério da Saúde, sendo a maioria dos casos e óbitos concentrados em São Paulo e Rio de Janeiro.
Enquanto, estudam-se melhores tratamentos e vacinas para o covid-19, muitas estratégias de prevenção vêm sendo priorizadas nos diversos países do mundo, como a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel, além dos cuidados em lugares públicos até o isolamento social ou quarentena das pessoas em suas casas. Estratégias estas que priorizam a não disseminação do vírus pela população, já que o coronavírus 2019 possui uma taxa de letalidade de 15% (alta) em pessoas de faixa etária acima dos 60 anos e causa quadros respiratórios graves em pessoas que tenham outros problemas de saúde.
Outra discussão que essas medidas resgatam é o quanto que essas estratégias podem ser realizadas pelas pessoas em situações de vulnerabilidade social, como moradores de rua e a população mais empobrecida, que também se constituem um grupo mais suscetível ao vírus e, consequentemente, aos quadros respiratórios graves dessa doença.
Todo esse debate vem no contexto de que em alguns países, como os Estados Unidos e o Brasil, demonstram maior preocupação com a economia do mercado financeiro e não necessariamente com a realidade econômica dos trabalhadores. Além, da negação da possibilidade real de que muitas pessoas possam contrair a doença e vir a morrer em virtude das complicações agudas dessa síndrome gripal.
Quando vemos posicionamentos políticos de Donald Trump e de Jair Bolsonaro, questionando a gravidade da pandemia do COVID-19 e organizando ações voltadas para o mercado financeiro e para as grandes empresas, haja vista as declarações destes contrárias às estratégias de prevenção à propagação do coronavírus e não favoráveis à intervenção do Estado na economia em prol de todos, percebe-se que precisamos repensar o mundo.
Pois uma sociedade na qual a importância do lucro e de interesses privados imperam sobre o bem-estar social da população como um todo e a relação com a natureza ainda é muito predatória, de tal forma, que a morte de muitas pessoas não tem valor frente ao desenvolvimento econômico, demonstra que o modo de vida capitalista não faz bem à saúde.
Por isso, para aqueles que lêem esse texto, peço que se cuidem e pensem nas outras pessoas, pois estamos no início da epidemia no Brasil, com o pico da propagação da doença entre o final de abril e início de maio. Valorizem o nosso Sistema Único de Saúde (SUS) e os profissionais que trabalham nele, pois será um recurso importante para combater o avanço da epidemia, e pressionem os governos para intervirem na economia em prol dos trabalhadores. Por fim, repensemos sobre a construção de um país e um mundo mais socialmente justo e solidário.
* Renato Santos é membro da rede nacional de médicas e médicos populares e professor do curso de medicina da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Edição: Mariana Pitasse