A pandemia do covid-19 que obrigou o estado do Rio de Janeiro a parar para conter seu avanço está trazendo insegurança econômica para muitas pessoas. O estado concentra cerca de 3 milhões de trabalhadores informais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do último trimestre do ano passado. Desse total, mais de 1,7 milhão de trabalhadores atuam por conta própria sem CNPJ.
Maria de Lurdes tem 45 anos e há 25 anos trabalha como camelô nas ruas do Rio de Janeiro. Além de ambulante, Maria coordena também o Movimento Unido dos Camelôs (MUCA). De acordo com ela, até o momento não houve nenhum diálogo com a prefeitura, governo do estado e governo federal sobre a situação dos trabalhadores informais.
“Ninguém foi chamado para nada ainda. Uma semana sem trabalhar as pessoas já começam a passar necessidade, os camelôs trabalham para comer no mesmo dia. O que a gente vai fazer? O governo federal fala que vai dar R$ 200. Como é isso? Não temos ainda nada”, detalha a ambulante.
A Prefeitura do Rio anunciou na última semana que serão distribuídas 20 mil cestas básicas por conta do impacto econômico do coronavírus. Profissionais como taxistas, ambulantes legais e autônomos seriam os principais destinatários. Contudo, para Maria, isso não é suficiente.
“Só cadastrados somos 60 mil camelôs, fora os que não têm cadastro. Se você faz a conta de 20 mil cestas básicas para atender 60 mil ambulantes, mais os taxistas, isso não vai chegar nunca. Não existe essa conta que o prefeito está fazendo”, ressalta.
A falta de respostas das autoridades fez com que uma rede de solidariedade fosse criada para apoiar os camelôs. O MUCA em parceria com o Observatório das Metrópoles lançou na última sexta-feira (20) uma vaquinha online para arrecadar cestas básicas para os trabalhadores. A campanha pretende levantar a quantia de R$ 25 mil reais e fornecer 100 cestas básicas inicialmente para trabalhadores do município do Rio.
Governo precisa dar respostas
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Carlos Prado, alertou que medidas de auxílio a trabalhadores informais - como a apresentada pelo governo federal de fornecer R$ 200 por três meses para trabalhadores autônomos sem renda - é insuficiente. Ele lembra que o contigente de trabalhadores afetados não se resume somente à ambulantes, mas também profissionais autônomos que tinham um salário razoável.
“É necessário sim dar apoio para os trabalhadores informais, mas esse apoio tem que ficar muito mais próximo a uma situação de seguro desemprego, do que uma ajuda correspondente a esses valores muito baixos do bolsa família. Em outros países do mundo estão sendo realizadas políticas de apoio às empresas em troca de manutenção de salários e de pagar parte dos salários pelo governo federal. Esta é a hora em que o Estado tem que entrar para impedir o desastre de uma queda do nível de atividade sem precedente na história do país”, afirma o economista.
Prado aponta ainda que a situação frágil da economia do estado do Rio também é preocupante. Segundo o professor, como forma de minimizar o impacto é fundamental que esferas municipal, estadual e federal atuem em conjunto.
“O caso no Rio de Janeiro é mais grave porque é um estado com uma população urbana com uma parcela grande em moradias precárias. Então no momento em que a pandemia chegar às populações de baixa renda forte, isso será muito problemático. Certamente vamos precisar de medidas muito mais duras. É importante que o governo do estado faça e as prefeituras também, mas, em grande parte, precisamos de políticas que devem ser desenhadas no plano federal”, conclui.
Edição: Mariana Pitasse