Fitoterapia

Covid-19: mulheres capoeiristas distribuem remédios naturais nas periferias de BH

A partir da cultura popular raizeira, tinturas fortalecem imunidade e vias respiratórias - um complemento na prevenção

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Idosos da Pedreira Prado Lopes foram os primeiros a receberem os remédios - Brasil de Fato MG

Como ajudar o povo nesse momento de maior necessidade? Foi essa pergunta que passou pela cabeça de algumas mulheres quando a pandemia de coronavírus começou em Belo Horizonte. Através da produção e doação de remédios naturais, feito através dos saberes e medicina popular, elas estão ajudando pessoas como os idosos nas periferias da cidade.

A ação é realizada pela contramestra Flavia Soares e por suas discípulas, mulheres que praticam capoeira angola na Associação Cultural Eu Sou Angoleiro (Acesa), e pelo Coletivo Mulher Eu Sou. Nesta última semana, quando os órgãos públicos da capital mineira começaram a decretar orientações mais severas para conter o vírus, o coletivo produziu cerca de 200 tinturas de açafrão com gengibre, pariri e alecrim, e garrafas de xarope para aplacar a tosse. Os remédios estão sendo distribuídos gratuitamente, de início às pessoas mais idosas na Pedreira Prado Lopes, a favela mais antiga de BH.

“Esta ação partiu do meu coração, eu estava aqui em oração e em um diálogo profundo com as plantas, quando senti uma vontade de disponibilizar todas as tinturas para ajudar a comunidade a se proteger. Daí surgiu a necessidade de me reunir com o coletivo de angoleiras da Acesa BH para uma maior produção de medicamentos naturais. Assim, outras mulheres se juntaram para viabilizar os frascos para a distribuição”, explica a contramestra Flávia.

“A gente não pode ter medo de assumir os saberes tradicionais que vêm dos raizeiros mais antigos. Eu sou periférica, mulher negra raizeira, nascida na pedreira, neta dos raizeiros Maria de Jesus e seu Juvêncio”, conta, “nós sabemos na prática o poder da planta. Se não fosse ela, não ia existir nenhum remédio, não ia existir alopatia”.

O que são as tinturas e o xarope

Uma tintura é uma espécie de um preparado da planta, feito em um processo que dura de 7 a 20 dias de curtimento no escuro. As tinturas produzidas e distribuídas pelo coletivo são três:

A tintura de pariri, uma planta que produz uma tintura avermelhada e que serve principalmente para aumentar a imunidade. A tintura de açafrão, que tem cor amarelada e é indicada para desinflamar o organismo e limpar o pulmão. A terceira, a tintura de alecrim, de cor esverdeada, é indicada como tônico cardíaco, antialérgico e combate a ansiedade.

Já o xarope foi produzido à base de 15 ervas, como o eucalipto, cavalinha, guaco, espinheira santa e sabogueiro, além de rapadura, abacaxi, cravo e canela. É indicado para aliviar a tosse e as vias respiratórias, e ajuda a limpar o pulmão. “Tudo feito a partir de sabedoria popular”, reforça Flávia Soares.

Ela sugere ainda o uso de três colheres de óleo de coco por dia, de manhã, tarde e noite, muita vitamina C e atenção na alimentação. “Pare de tomar o refrigerante de cor marrom e corte o excesso de açúcar, pois esses alimentos são responsáveis por deixar a gente com a imunidade baixa”, alerta.


Xarope natural para aliviar tosse e vias respiratórias / Brasil de Fato MG

A importância de seguir orientações do Ministério da Saúde

Aumentar a imunidade e fortalecer o sistema respiratório são coisas que, lembra Flávia, deveriam ser feitas sempre e não devem substituir as orientações de quarentena e higienização para conter o vírus Covid-19. Você pode ter informações na página especial do Brasil de Fato.

Em Minas Gerais, o governo estadual decretou Situação de Emergência em Saúde Pública e o governador Romeu Zema (Novo) criou o Comitê Gestor do Plano de Prevenção e Contingenciamento em Saúde do COVID-19, além de uma série de medidas. A prefeitura de Belo Horizonte foi mais rígida e decretou o cancelamento de eventos, a suspensão de alvarás e fechamento de locais públicos, como shoppings.

Campanha de doação

Para continuar a produção e distribuição de remédios naturais, o Coletivo Mulher Eu Sou está realizando uma campanha de doações. É possível doar diretamente frascos conta-gotas de vidro ou plástico de 50 ml para as tinturas (preço médio R$ 0,75 cada), e para os xaropes, potes e garrafas de vidro com tampa, todos os formatos e tamanhos são bem-vindos.

Caso você tenha uma das seguintes ervas em seu quintal ou possa comprar em uma casa de ervas, estão sendo necessárias: pariri, açafrão, alecrim, guaco, espinheira santa, chapéu de couro, cavalinha, açafrão, gengibre e sabogueiro.

Por último, o coletivo está recolhendo também doações via transferência bancária (Banco do Brasil Agência 0308-5, Conta Poupança 33.723-4, Operação 51, Titular: Rafaella Dotta Siqueira). Para qualquer uma das doações, ligue para (31) 97582-6847 ou avise pelo Whatsapp em (31) 99806-4183 ou (32) 99125-4274.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Elis Almeida