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Douglas Belchior: coronavírus irá “impor uma radicalização do genocídio negro”

Movimento negro lançou neste sábado campanha nacional contra violência e denuncia recorte de raça do isolamento social

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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“Genocídio é também a omissão e negação de acesso a direitos", alerta Belchior - Coalizão Negra Por Direitos

Em meio à crise provocada pela pandemia do coronavírus, a Coalizão Negra por Direitos lançou, neste sábado (21) – o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial –, uma campanha contra o genocídio do povo negro. De acordo com Douglas Belchior, representante do movimento, a falta de acesso à saúde pública é uma das formas que cooperam para a morte do povo negro.

“Se em um ambiente normal, a população negra é a mais afetada por todas as intemperes e doenças contagiosas, que dependem de saneamento básico e saúde pública, num contexto de pandemia, ela vai ser mais uma vez alvo do que chamamos de ‘genocídio’”, afirma Belchior.

Ainda de acordo com o dirigente do movimento, genocídio é também a omissão e negação de acesso a direitos. "Em um momento como esse, percebemos a importância da saúde pública como uma pauta primordial na nossa sociedade. Numa sociedade, que garante o isolamento social para um grupo e para o outro não, está condenando esse outro grupo.”

Numa sociedade, que garante o isolamento social para um grupo e para o outro não, está condenando esse outro grupo.

Sobre o coronavírus, Belchior acredita que haverá uma piora nos índices. “Não tem nenhuma dúvida de que o coronavírus, grave como é, vai impor uma radicalização do genocídio negro, no Brasil sobretudo”, afirma o ativista, que responsabiliza o presidente da República pelo avanço da doença no país.

“Bolsonaro não podia mais ser presidente. Bolsonaro promove, todos os dias, crime de responsabilidade e prevaricação da sua função pública. O descaso com que ele trata um assunto tão grave, trará consequências diretas para a população mais pobre, que vai morrer.”

Bolsonaro não podia mais ser presidente. Bolsonaro promove, todos os dias, crime de responsabilidade e prevaricação da sua função pública. O descaso com que ele trata um assunto tão grave, trará consequências diretas para a população mais pobre, que vai morrer.

Discriminação racial

No dia 21 de março de 1960, em Joanesburgo, aproximadamente 20 mil sul-africanos protestavam contra a Lei do Passe, que obrigava negros a circular somente em alguns pontos da capital da África do Sul. Soldados ligados ao Apartheid avançaram contra os manifestantes e assassinaram 69 pessoas. A Organização das Nações Unidades determinou, então, que nesta data se lembra o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial.

No Brasil, a data será lembrada pela Coalizão Negra por Direitos, que apresentará durante o dia, em seu site e nas redes sociais, uma série de dados e estatísticas sobre a situação da população negra no país.

A partir de estudos, a Coalizão aponta que 75% das vítimas de homicídios no Brasil são negros; 61% das mulheres que sofrem feminicídio são brancas; 75,4% das pessoas mortas em intervenções policiais entre 2017 e 2018 são negras; e 91% das crianças mortas por bala perdida no Rio de Janeiro (RJ) são negras.

Edição: Rodrigo Chagas