Coluna

O presidente não saiu para o trabalho

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Além do mau uso da máscara, duas questões chamaram atenção no colóquio: como Bolsonaro baixou a bola e como seus ministros se esforçavam para dizer que ele ainda tinha algum comando. - Foto: Sergio Lima / AFP
A postura errática revela um presidente desconectado da realidade, mau exemplo para a saúde pública

O governo acabou e um presidente morto-vivo circula entre ataques aos próprios ministros e a incompetência para lidar com uma crise global. Discutimos as possibilidades de sobrevivermos a dois vírus apocalípticos, a covid-19 e o bolsonarismo. Não serão tempos fáceis e você precisa ficar em casa. Conte com o Ponto para mais uma análise da semana e do que está por vir.

Para ler ouvindo: Raul Seixas - O dia em que a terra parou

1. A epidemia chegou com tudo. A escalada vertiginosa no número de casos confirmados do novo coronavírus comprova a tragédia da inação do governo federal, que depois da negação começou a agir, ainda que de forma insuficiente.

Até a manhã desta sexta (20), haviam sido confirmados 647 casos da doença. A curva do crescimento de novos casos indica que o Brasil está, no momento, numa ascensão pior que a vivenciada por países como Itália e Irã, que vivem situações dramáticas: este gráfico mostra que os casos confirmados no Brasil dobram a cada dois dias, ou seja, é possível que este número tenha dobrado no domingo.

A velocidade de propagação do novo coronavírus no Brasil repete o padrão dos países que mais sofrem com o avanço do covid-19, atesta também a BBC. Sem contar que há muita subnotificação: hospitais privados não têm informado corretamente e o Brasil está testando apenas pacientes com sintomas, contrariando recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), além de não ter kits para diagnóstico em quantidade suficiente.

A clínica privada Prevent Senior está sendo investigada por não notificar os casos confirmados entre seus pacientes. Por enquanto, já foram contabilizados sete óbitos, no Rio e em São Paulo, número que, infelizmente, também estará defasado quando você estiver lendo o Ponto.

Nas histórias das vítimas, a tragédia social do coronavírus: trazido por pessoas que viajaram à Europa ou pela própria comitiva presidencial, o vírus já matou gente como um porteiro aposentado que sofria de outros problemas de saúde e uma empregada doméstica que trabalhava em um apartamento no Leblon, cuja dona acabara de retornar da Itália, e não foi informada do risco de contágio pela patroa.

Neste contexto, as pessoas se apegam a qualquer fio de esperança: no momento, a afirmação de Donald Trump de que as drogas hidroxicloroquina e remdesivir podem ter bons resultados contra o coronavírus já provoca falta do medicamento nas farmácias. Em um estudo publicado por cientistas chineses em 18 de março na revista científica Nature, estas drogas se mostraram capazes de inibir a infecção do SARS-CoV-2 (nome do novo coronavírus) em simulação in vitro.

Apontado como o mais promissor, a hidroxicloroquina é usada para o tratamento da malária desde os anos 1930, mas também já foi usado para combater doenças como artrite reumatoide e lúpus. Vale ler, porém, o que diz este especialista sobre a cloroquina: ainda é preciso muita cautela, já que os resultados das pesquisas não são conclusivos.

Por enquanto, a melhor forma de conter o avanço do vírus é o isolamento social, evitando a expansão acelerada da doença, coisa que o governo federal ainda resiste em admitir, preocupado com a derrocada total da já combalida economia.

2. Tentando mostrar serviço. Depois de ouvir a fala simples e até piedosa de um imigrante haitiano  de que “não é mais presidente”, Bolsonaro parece ter acordado e chamou seus ministros para uma confusa coletiva em que demonstrou total desconhecimento sobre métodos de proteção.

Além do mau uso da máscara, duas questões chamaram atenção no colóquio: como Bolsonaro baixou a bola e como seus ministros se esforçavam para dizer que ele ainda tinha algum comando.

O governo anunciou uma série de medidas para conter o avanço do vírus e minimizar os impactos econômicos da epidemia mas, nos bastidores, a maior preocupação era outra: Bolsonaro está incomodado com o protagonismo do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o que explicaria as referências elogiosas do ministro ao chefe ao longo da semana, tentando salvar o cargo.

Já Mandetta estaria dividido, segundo Tales Farias no UOL, entre o emprego e...a ciência. Entre outras coisas, Bolsonaro está irritado com a orientação do ministro, da OMS e da sensatez de evitar aglomerações públicas (e políticas).

Há outra divergência de método. Bolsonaro e Paulo Guedes queriam adotar um modelo semelhante ao da Inglaterra: a ideia era retardar, mas não impedir, a propagação da epidemia, protegendo os mais vulneráveis e deixando a maior parte da população ganhar imunidade.

O primeiro ministro britânico decidiu mudar a estratégia quando as previsões indicavam 260 mil mortes no Reino Unido com esta abordagem. Como matemática não é o forte nem de Bolsonaro e nem de Guedes, a dupla insistia nesta ideia mesmo depois da desistência dos britânicos.

Imagina-se ainda que a convocação de cinco mil médicos cubanos para o atendimento primário também não deva ter caído bem no governo. É verdade que Mandetta não é exatamente flor que se cheire. Ligado à ministra Tereza Cristina (Agricultura), ele responde a inquérito que investiga suposta fraude em licitação, tráfico de influência e caixa dois quando foi secretário de saúde em Campo Grande.

Aliás, livre de licitações pela situação da epidemia, Mandetta contratou a mesma empresa que fez sua campanha eleitoral para a campanha de prevenção a covid-19. Por contraste com o terraplanismo presidencial, se sobressai como um quadro que pelo menos aparenta seriedade diante da crise.

3. Federal x Estaduais. O Ministro da Saúde não é o único alvo de Bolsonaro. Os governadores estaduais também foram criticados na habitual transmissão de quinta-feira pelo Facebook de Bolsonaro que classificou as medidas dos estados de distanciamento social como “exageradas”. Prova de desconhecimento sobre o funcionamento e estrutura do SUS, onde o apoio dos estados e municípios é determinante para um resultado nacional.

Pelo menos sete governadores já decidiram por conta própria fechar as divisas estaduais. A Bahia, por exemplo, trava uma guerra judicial para inspecionar aeroportos, já que vinham sendo barrados por agentes da Anvisa.

Com o distanciamento social atingindo diretamente a arrecadação pela circulação de mercadorias, principal imposto estadual, os estados pedem R$ 14 bilhões para enfrentar a crisea suspensão por 12 meses das dívidas dos estados com a União,   aporte de recursos para aquisição de “kits coronavírus” e equipamentos e a criação de novos leitos.

No Brasil, a covid-19 já se encontra na fase comunitária, indicando que o coronavírus já circula entre a população, logo, a situação se torna mais grave em grandes concentrações urbanas e com baixa infra-estrutura, como as favelas.

A capacidade de ocupação dos leitos é a grande preocupação do Ministério da Saúde, em especial no Rio e em Minas Gerais, tanto que a possibilidade de utilizar navios, quartos de hotéis e conjuntos habitacionais em construção para abrigar casos leves de isolamento estão sendo considerados pelo ministério.

Assim como o vírus, a estupidez é contagiosa: tal como Bolsonaro, pastores como Silas Malafaia seguem desdenhando da doença, insistindo na realização de cultos religiosos.

4. Contra o vírus e contra a vontade. Na semana passada, já havíamos chamado a atenção de que Paulo Guedes não fazia ideia do que estava acontecendo. A avaliação foi confirmada pela reportagem da Piauí, que mostra que o ministro precisou ser convencido com muita dificuldade pelos seus assessores de que a situação era grave.

Tanto que apenas depois de todas as agências de risco e do mercado, é que o governo está entendendo que o país pode ter um PIB de 0% neste ano. Assim, meio contra a vontade, Guedes confirmou a criação de um novo benefício de assistência financeira a trabalhadores informais, com módicos 200 reais durante três meses.

O pacotinho de Guedes inclui mais cortes na taxa Selic, de 4,25% para 3,75%, o adiamento no pagamento de impostos para microempresas e a antecipação do pagamento de benefícios para aposentados. Como o liberalismo selvagem parece ser uma cachaça, o ministro da Economia quer aproveitar a oportunidade para mandar logo às favas os “encargos” trabalhistas, com redução de salário e de jornada para evitar demissões, medida já adotada pelas empresas aéreas, que também foram beneficiadas por outra medida provisória com um pacote de socorro, com ajuda federal para arcar com reembolsos de passageiros.

No entanto, as medidas não atacam as questões estruturais da crise, como analisa Thomas Traumann. Dos R$ 147 bilhões anunciados, apenas R$ 4,5 bilhões são para a Saúde. O Diário Oficial de quarta (18) trouxe o pedido para que o Congresso Nacional reconheça estado de calamidade pública, com o objetivo de a União não cumprir a meta fiscal prevista para 2020.

Enquanto isso, na área de competência do ministro Sérgio Moro, o “quadro técnico” do governo Bolsonaro atendeu a um pedido do governador bolsonarista de Roraima e fechou a fronteira com a Venezuela.

Depois, Moro anunciou a restrição da entrada de estrangeiros nas fronteiras terrestres com os países da América do Sul e o acesso de estrangeiros por via aérea de países da Europa e da Ásia.

Agora parece tarde. Até esta semana, passageiros vindos do exterior estavam entrando pelos aeroportos internacionais sem nenhum tipo de triagem, contrariando protocolo adotado em outros países. Entretanto, a lista de países bloqueados deixou de fora os Estados Unidos, que têm hoje o sexto maior número de casos de coronavírus registrados no mundo e a segunda maior velocidade de crescimento da epidemia

5. Conversões milagrosas. Uma brincadeira que circula na internet diz que, diante da ameaça mundial de uma pandemia, esperávamos que os ateus se converteriam em fanáticos religiosos, mas o que estamos vendo são liberais se convertendo ao keynesianismo.

Muitos economistas desta vertente têm revisto a defesa que fizeram até pouco tempo atrás e defendido, entre outros pontos, a suspensão do teto de gastos e a volta do investimento público para o enfrentamento da crise. Na Folha, Vinicius Torres Freire é direto: “não há alternativa de política macroeconômica. Resta um programa ordenado de gasto extra: em Saúde e na contenção da miséria”.

As duas medidas estão entre as principais defesas de partidos de esquerda, entidades e do próprio Conselho Nacional de Saúde. Outra proposta tem sido a renda básica universal, que vem sendo defendida para conter a catástrofe humanitária diante de milhões de trabalhadores desempregados ou na informalidade.

Num círculo destrutivo, famílias com renda entre 0 e 2 salários mínimos podem ter sua renda 20% mais impactada do que a média das famílias brasileiras, atingindo o conjunto da economia. Por isso, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) propôs a implementação de um abono cujo valor não seja inferior a um salário mínimo, beneficiando pessoas com mais de 16 anos que não tenham vínculo empregatício e estejam sob isolamento ou quarentena por conta da pandemia.

Prova de que a epidemia é capaz de conversões são dois governadores eleitos na onda conservadora de 2018 e tentando um lugar ao sol na extrema-direita, João Dória e Wilson Witzel, que tomaram medidas de emergência social.

O paulista suspendeu a cobrança da conta de água e o carioca estuda adotar a medida para contas de água e luz. Em Pernambuco, o governo vai isentar 120 mil pessoas de pagamento da conta de água. No Rio Grande do Sul, o deputado estadual Mateus Wesp (PSDB) propôs que não seja interrompido o fornecimento destes serviços por falta de pagamento. 

6. Bolsonaro acabou? O teatro de máscaras de Bolsonaro na quarta-feira (18) é a síntese, na opinião do colunista Igor Gielow, de que a ficha no governo federal demorou a cair em relação ao tamanho do problema. A reação tardia, demonstrada neste vídeo que sincroniza as declarações de desdém de Bolsonaro à evolução do número de casos de covid-19 no Brasil, pode ter sido tarde demais para a sustentação do governo no médio prazo.

As redes sociais, onde Bolsonaro sempre surfou com certa tranquilidade, já contam com muito mais manifestações contrárias ao presidente. Tudo começou com o gesto no domingo (15), saindo para cumprimentar manifestantes mesmo com a suspeita de ter contraído o coronavírus.

Sobre isso, Bolsonaro disse que seu segundo teste deu negativo, mas é um caso muito curioso: 22 pessoas que estavam na comitiva que foi bajular Trump nos EUA estão com coronavírus, além de quatro seguranças de Bolsonaro. Um fenômeno. Bolsonaro teria sido orientado a fazer um terceiro teste.

A postura errática também revela um presidente desconectado da realidade, mau exemplo para a saúde pública e só interessado em seu projeto político pessoal, segundo comentários das redes sociais no levantamento de Thomas Traumann.

Aparentemente não há mais nada de orgânico nas redes, apenas a máquina do “gabinete do ódio”. A Época revela que a estrutura no Planalto disparou mais de 700 mil mensagens convocando os atos do dia 15 que supostamente Bolsonaro havia cancelado.

No STF, Dias Toffoli que se gabava de ter atuado como bombeiro e mediador da família Bolsonaro em várias ocasiões, já mandou avisar que a ponte queimou e que não haverá mais tolerância. A má fase de Bolsonaro ficou escancarada com as sessões diárias de panelaços que se espalharam por todo o Brasil.

Na quarta, o presidente ainda usou a coletiva sobre o coronavírus para convocar apoiadores a um “panelaço a favor”, logo após a manifestação contrária, mas a intensidade foi bem menor, e Eduardo, o filho zero-três, ainda tentou arranjar uma briga com a China pelas redes sociais para tentar abafar o som das panelas.

A prova de que a popularidade entornou está respaldada não apenas nos decibéis das panelas, mas também em números: um levantamento da consultoria Atlas Político, que em fevereiro apontava que o presidente seria capaz de se reeleger em qualquer cenário de disputa, agora mostra que os ventos de impeachment podem começar a soprar.

De acordo com os dados, 64% dos entrevistados reprovam a ação de Bolsonaro frente ao coronavírus. O número dos que apoiam uma deposição do presidente chega a 44,8%. Por falar em impeachment, só nesta semana foram protocolados três pedidos contra o presidente.

Um deles, assinado por parlamentares do PSOL, gerou críticas do próprio partido, criticando a atitude isolada dos deputados e defendendo foco na defesa de ações enérgicas do Estado para a proteção dos mais pobres, a economia e o emprego, salvar vidas e superar a epidemia.

Trata-se de um debate que está sendo travado pela oposição. Para Valério Arcary, a esquerda ainda não tem respaldo na sociedade para puxar um “Fora Bolsonaro”, mas precisa ficar atenta ao momento e não apostar no erro de deixar a questão para 2022.

Uma boa questão diante do derretimento da popularidade de Bolsonaro é qual será o comportamento dos militares que, afinal de contas, superlotam o condomínio do Planalto.

A turma mais radical do bolsonarismo e louca por uma intervenção militar, leia-se golpe, convocou novos atos, agora em frente aos quartéis. Por enquanto, a ideia parece ter incomodado a turma de farda. Em se tratando de saídas autoritárias, não custa notar que o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alinhado político internacionalmente a Bolsonaro, usou o coronavírus como justificativa para fechar o Congresso depois de duas tentativas fracassadas de formar governo.

E estranhamente agora, o líder do governo, Major Vitor Hugo, está organizando eventos com presença de policiais e militares e distribuindo uma cartilha em que pede pressa para votar projeto do antigo deputado Jair Bolsonaro que tipifica o terrorismo.

Segundo o senador Major Olímpio, apesar do distanciamento das bancadas da bala e do agronegócio, Bolsonaro não cogitaria um autogolpe e se tentar seria impedido pelas Forças Armadas. E se as Forças Armadas resolverem bancar a junta de salvação?

7. Ponto Final: álcool gel, lavar as mãos, ficar em casa e outras recomendações.

115 dúvidas sobre a Covid-19: quais são os sintomas, como se prevenir da infecção, os cuidados necessários durante viagens e outras perguntas sobre a doença, num bom resumo feito pelo Estadão.    

Podcast Medicina em debate: atualização diária dos gráficos de casos confirmados e casos projetados, além de análises diárias sobre a evolução da epidemia no perfil do twitter, e agora também um boletim semanal do programa exclusivamente sobre a covid-19.

Pandemia exige mais transparência e mais controle social. Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, elenca as falhas na comunicação oficial brasileira sobre a expansão do coronavírus.

Austeridade é a maior aliada do coronavírus no Brasil. As reformas liberais, como o “teto dos gastos”, não entregaram o resultado prometido e sucatearam ainda mais os serviços públicos. Para reverter esse cenário de desmonte e enfrentar a pandemia, precisamos derrubá-las. Artigo da economista Esther Dwek na Jacobin.

Coronavírus: a crise que definirá nossa geração. Jamil Chade escreve para o El País sobre como a epidemia revela o pior e o melhor da humanidade.  

Coronavírus não é democrático: pobres e mulheres vão sofrer mais. Em seu artigo para o The Intercept Rosana Pinheiro Machado demonstra por que serão os mais pobres que sofrerão os maiores impactos da epidemia.

A estranha quarentena com empregada doméstica no 'Brazil Corona'. Artigo de Djeff Amadeus na Carta Capital, a partir de um episódio da família confinada junto com a empregada, mostra como as classes médias e altas não enxergam as empregadas domésticas como pessoas. 

No Complexo do Alemão as pessoas não têm água para lavar as mãos contra o coronavírus. Reportagem do BuzzFeed Brasil mostra como os moradores de favela se previnem contra o coronavírus, morando em locais sem infraestrutura de saneamento.

O PCC e o vírus das rebeliões. A Piauí mostra como a epidemia é o novo capítulo do permanente barril de pólvora prestes a explodir do sistema penitenciário brasileiro.

Por que o governo não se preparou para oferecer testes suficientes do coronavírus? A ex-senadora Vanessa Grazziotin critica o governo que, sabendo que o coronavírus chegaria ao Brasil, não se preparou para trabalhar no diagnóstico.

Há algo perverso na comunicação presidencial. Pode um governante dirigir-se à sociedade de maneira privada, sob regras estabelecidas pelas corporações de internet? É o questionamento de Fernando Rosa no Outras Palavras.

Rumo ao Colapso. No Terra plana, José Luís Fiori e William Nozaki discutem como a crise econômica pode desencadear a participação brasileira numa aventura militar na Venezuela.

Edição: Leandro Melito