As pessoas que apresentam os sintomas não têm tido acesso adequado ao diagnóstico
Desde a semana passada tem caído cada vez mais a ficha dos brasileiros e das brasileiras em relação à gravidade do que está vindo pela frente, tendo em vista o coronavírus.
Na Itália, o vírus já provocou um número significativo de mortes, assim como na China. Neste momento, lá onde o vírus surgiu, pode-se perceber uma curva descendente dos casos e das mortes por coronavírus, que indica que eles já passaram pelo pior.
Mas no Brasil, desde a semana passada, medidas mais drásticas estão sendo adotadas, principalmente no sentido de fazer o enfrentamento a esta pandemia, que pode levar à morte massiva de pessoas que não receberem a atenção necessária.
E este cenário nós podemos ver em especial nos países em desenvolvimento que estão menos preparados para receber, amparar e cuidar de quem está infectado.
Aqui no Brasil o fato lamentável foi mais uma vez protagonizado pelo presidente da República, que, apesar da suspensão das manifestações no último domingo, não apenas esteve na manifestação, mas como voltou a fazer pronunciamentos minimizando os efeitos que o coronavírus poderia trazer para o Brasil.
Em um grande desserviço, eu não digo somente ao Brasil, mas à humanidade. Mas o fato é que os governadores dos estados, os técnicos e profissionais da área da saúde têm mostrado e alertado que nós vivemos um momento extremamente difícil.
Eu aqui quero levantar somente dois aspectos.
O primeiro diz respeito aos números. Já ultrapassamos 400 casos e 6 mortes registrada. Entretanto, estão muito longe de serem os números reais, porque de acordo com os próprios noticiários, no Brasil teriam sido feitos até agora pouco mais de 5 mil testes. Ou seja, mesmo as pessoas que apresentam os sintomas, elas não têm se submetido ao teste para verificar se estão ou não infectadas com o coronavírus.
E este é um fato muito grave porque ouve-se falar de casos nos grandes centros populacionais, mas o vírus já está certamente espalhado no Brasil inteiro.
Então eu aqui questiono: por que o governo Bolsonaro, sabendo que o coronavírus chegaria ao Brasil, não se preparou já há alguns meses para trabalhar principalmente no diagnóstico, que é o que fez, por exemplo, a Coréia do Sul?
A Coréia do Sul fez uma investigação em todos os cidadãos e cidadãs para detectar quem estava infectado e isso fez com que o número de mortes fosse menor ao registrado em outros países.
Mas além deste fato, há um outro aspecto que é a falência do sistema de saúde. Bolsonaro tardou em decretar estado de emergência nacional e isso é importante porque faz com que ele tenha uma folga para gastar mais recursos.
Entretanto eu questiono: Como fica a emenda constitucional 95, que estabeleceu em 2018 o teto de gastos? Ele pode até ampliar os recursos para a área da saúde, mas vai ter que tirar da educação, da segurança pública, dos investimentos, de estradas, de portos e aeroportos. Enfim, o caos está montado.
Este governo está indo exatamente na contra-mão do que se deva ir para enfrentar uma crise para garantir um mínimo de dignidade e qualidade de vida para as pessoas.
Mas a partir de agora nós temos que exigir, em primeiro lugar, uma ação maior para que a população possa ter acesso a estes testes que atestam, ou não, a infecção pelo coronavírus; em segundo lugar, garantir o isolamento das pessoas, pois o Estado têm o dever de pedir para que as pessoas se recolham neste momento porque elas deixam de ser propagadoras da doença; e em terceiro lugar, exigir do governo federal recursos suficientes para o enfrentamento ao coronavírus, principalmente para a população mais carente.
Não adianta dizer que as pessoas precisam se recolher, se elas precisam trabalhar para ter direito a um salário no final do mês, ou daquela renda que elas conseguem por meio de trabalho informal. Este último equivale a 40% do povo brasileiro.
Então eu acho que são essas as bandeiras que nós temos que levar com muita força.
E por fim queria dizer que a população brasileira passa a acordar. Estes barulhaços no lugar das manifestações que estavam programadas para o 18 de março, têm sido um grande alento e um sinal de que a gente vai ter sim organização e luta e que vamos enfrentar a política recessiva e anti-povo deste governo, que Bolsonaro vêm aplicando desde que assumiu o poder.
Edição: Rodrigo Chagas