No Brasil, além do Sistema Único de Saúde (SUS), a população conta com o apoio de universidades públicas, seus hospitais universitários e os centros de pesquisas para combater o pandemia do novo coronavírus (Covid-19) que deve atingir seu auge de infecção nas próximas semanas. Na semana passada, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, anunciou a produção de kits para a realização de 30 mil testes diagnósticos da Covid-19.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a médica sanitarista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ligia Bahia, lembrou que as universidades públicas brasileiras estão participando ativamente de fóruns nacionais e internacionais para definir as medidas mais adequadas para o controle da pandemia.
“O principal papel tem sido compartilhar o conhecimento disponível com a população, organizar esforços para atender necessidades como oferta de testes e medicamentos bem como formular e avaliar as políticas implementadas pelos governos. As universidades são fundamentais para a produção de métodos diagnósticos adequados ao nosso perfil sanitário e insumos para a prevenção como vacinas e medicamentos”, afirma Ligia.
Vacina
Nos últimos dias, a Universidade de São Paulo (USP), que também é pública, anunciou que também está desenvolvendo uma vacina contra o coronavírus. Pesquisadores do Laboratório de Imunologia da Faculdade de Medicina estão utilizando uma estratégia diferente das adotadas por indústrias farmacêuticas e grupos de pesquisa em diversos países e, com isso, esperam chegar nos próximos meses a uma candidata a vacina.
No projeto, o Laboratório trabalha com partículas semelhantes ao vírus, mas que não possuem material genético do vírus, o que impossibilita a replicação e torna a vacina mais segura. Os pesquisadores explicaram que por estarem lidando com um vírus pouco conhecido, poderia ser arriscado inserir material genético no corpo humano. A ideia é evitar uma eventual multiplicação viral e reversão genética da virulência.
Além das pesquisas, os hospitais universitários vão atender a população infectada em todo o país, disponibilizando leitos para pessoas que estiverem em situação grave e necessitarem de internação.
Medidas
Com a aprovação do teto de gastos em saúde e educação públicas no governo de Michel Temer (MDB) e os cortes de investimentos nas áreas por Jair Bolsonaro (sem partido), pesquisadores enviaram na última segunda-feira (16) uma carta pública à presidência da República. No documento, assinado por Ligia Bahia e pelos pesquisadores Mário Scheffer, da USP, e Ialê Falleiros, da Fiocruz, foram apresentadas propostas em saúde pública para a atuação do governo federal.
Entendendo o problema como prejuízo ao bem-estar social sobretudo das populações mais pobres, a carta toca em temas como incentivos fiscais para evitar demissões e cortes de salários, concessão de benefícios sociais para os brasileiros de baixa renda, isenção em taxas de água e luz e utilização temporária pelo SUS da capacidade privada, da criação e da compra de leitos de CTI para pacientes agravados pelo coronavírus.
Segundo a pesquisadora da UFRJ, a educação pública é um ponto central de resolução de diferentes problemas sociais. “No que concerne à democracia, a educação abre perspectivas de igualdade social, igualdade de status, redução das diferenças entre classes sociais no acesso à formação, inclusive universitária, e igualdade efetiva ao produzir pesquisas, conhecimentos e tecnologias que permitem redução do fosso entre ricos e pobres”, defende Ligia Bahia.
Edição: Mariana Pitasse