Coluna

Tubaína e sua igreja

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Ouça o áudio:

Com a igreja, Tubaína passou a lucrar com o dízimo dos fiéis. - Sarah Noltner / Unsplash
Escuto com atenção o que o pastor diz, e à noite eu repito tudo pros meus fiéis

Tubaína era o apelido de um empregado de um bar que frequentei perto da Vila Madalena, em São Paulo.

Ele era ajudante geral. Lavava pratos, copos e talheres, varria o chão e às vezes ajudava os garçons.

Tinha uns cinquenta e poucos anos e era muito simpático, todo mundo gostava dele.

Um dia, ele chegou ao seu Jorge, dono do bar, e pediu as contas. Não queria mais aquele emprego.

O seu Jorge ficou meio espantado, perguntou por que, se ele queria aumento de salário. Mas o Tubaína não queria nada, só queria a demissão.

Acabou contando por que não queria mais o emprego no bar.

Ele tinha mudado para uma casa na periferia da zona sul, que tinha um cômodo bem grande na frente. Era um misto de garagem e área de trabalho do morador anterior.

E ele imaginou um jeito de usar aquele cômodo grandão pra ganhar dinheiro. Resolveu abrir uma igreja lá, pensando no dízimo que receberia dos fiéis.

Três meses depois, passou no bar só para contar como as coisas iam bem. Já tinha mais de quarenta fiéis pagando o dízimo. Se cada um ganhasse apenas o salário mínimo, e pagasse o dízimo regularmente, já seriam quatro salários mínimos mensais para ele. 

Mas tinha fiel com salário mais alto, então estava ganhando dinheiro como nunca. Mais que o dobro que ganhava no bar.

Um dos garçons argumentou com ele:

⸺ Mas, Tubaína, você nunca leu a bíblia. Ou leu? O que entende de igreja?

E ele contou:

⸺ Todos os dias, de manhã, eu vou a uma igreja do Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, escuto com atenção o que o pastor diz, e à noite eu repito tudo pros meus fiéis.

Estava feliz da vida.

Passados mais uns dois meses, voltou ao bar, com jeito ressabiado e perguntou ao seu Jorge se ele podia dar seu emprego de volta.

⸺ Mas você ia tão bem com a igreja, o que aconteceu? ⸺ perguntou o dono do bar.

Sem jeito, ele contou:

⸺ Um dia, parou uma kombi na porta da igreja, desceram quatro homens com quase dois metros de altura e um de largura, me pegaram pelo colarinho e falaram: “Você vai fechar essa igreja agora, ou a gente queima ela com você e a sua família dentro”.

Suspirou e falou:

⸺ Fechei. Tem uma igreja grandona no bairro, e os fiéis dela estavam saindo pra ir pra minha. Não gostaram da concorrência.

 

Edição: Geisa Marques