Bolsonaro decidiu enfrentar a crise com mais medidas restritivas. O oposto do que deveria fazer
Iniciamos a semana com um elevado nível de tensão. Não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, em decorrência do agravamento dessa crise crônica pela qual passa o sistema capitalista. E eu digo o agravamento por conta, sobretudo, do coronavírus, que tem feito com que a produção diminua no mundo inteiro, sobretudo nos grandes centros – produtores e consumidores – como a China e a União Européia.
Por conta de uma falta de acordo entre Arábia Saudita e Rússia, dois membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), no sentido de diminuir o volume de produção para manter estabilizados os preços – a Rússia não acatou este acordo –, a Arábia Saudita diminuiu significativamente o preço do seu combustível petróleo, provocando uma queda brusca de aproximadamente 30% no valor do barril do petróleo.
O mundo inteiro acordou na segunda feira – ou dormiu no domingo – abalado pelas quedas drásticas nas bolsas de valores. No Brasil, a bolsa teve que dar uma parada momentânea por conta, repito, deste agravamento de uma crise econômica.
Muitos analistas econômicos dizem que a culpa de tudo é o coronavírus. Não é verdade. O coronavírus somente agravou uma crise sistêmica do capitalismo que vem em curso desde 2008. Aqui no Brasil, as consequências e as previsões são dramáticas, porque nós já passamos por um momento muito difícil.
Bolsonaro decidiu enfrentar essa crise da pior forma possível. Nós defendemos que em um momento de contração da economia, o governo tem a obrigação de promover incentivos, com investimentos públicos, ampliação dos programas sociais, garantias de maiores e mais benefícios ao conjunto dos trabalhadores.
E o governo Bolsonaro vem fazendo exatamente o contrário. Exatamente todas as reformas encaminhadas ao Congresso Nacional e aprovadas até agora são reformas que prejudicam e pioram ainda mais esse momento de recessão econômica que nós estamos vivendo. A reforma trabalhista retira direitos; o congelamento do salário mínimo retira renda dos trabalhadores e das trabalhadoras; a reforma previdenciária, pior ainda, porque em média 40% a menos que os aposentados receberão.
Isso tudo vai piorar a nossa crise. E diante destes últimos fatos o que continua a fazer o governo Bolsonaro e a maioria do congresso nacional? Acenando para a aprovação de mais reformas restritivas, de arrocho fiscal. Ou seja, de retirada de direitos e renda do povo e de aumento apenas para aqueles que já ganham muito.
O Brasil pode se deparar com uma situação extremamente grave. Sabedor disso, o que faz Bolsonaro? Não bastasse o agravamento da crise econômica, ele ainda adota medidas que agravam a crise política, em uma sinalização clara de que quem vai governar é ele. E se for preciso ele governar dentro de um regime autoritário ele o fará.
É exatamente isso que o presidente faz quando, pessoalmente, se dedica à mobilização dos atos do dia 15, que não são só atos contra o orçamento impositivo que o Congresso está aprovando. São atos contra o próprio sistema democrático, contra o Supremo Tribunal Federal, contra o Congresso Nacional, contra a nossa própria democracia.
Talvez este seja o momento mais delicado desde a posse de Bolsonaro. Nós, as forças democráticas, progressistas e consequentes deste país temos que ter muita maturidade.
Em primeiro lugar entender que é necessária a nossa unidade. Isso é fundamental, não é hora de disputa, é hora de unidade. Em segundo lugar entender a necessidade da ampliação dessa frente para a defesa da democracia. Ou nós fazemos isso ou estaremos fadados a ver o crescimento dessa política autoritária de Bolsonaro e de muitos de seus apoiadores.
Por último e não menos importante – talvez o mais importante –, devemos manter a população brasileira mobilizada contra estes ataques à democracia. Isso é muito importante.
Apesar da dificuldade do momento, se nós mobilizarmos a população, se nós estivermos unidos e se ampliarmos a frente em defesa da democracia, nós podemos sim barrar essas tentativas e esses ataques contínuos que Bolsonaro faz à nossa democracia.
Edição: Rodrigo Chagas