A região Nordeste, que responde por 36,8% das famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza na fila de espera do Bolsa Família, foi preterida pelo governo Bolsonaro na lista dos novos benefícios concedidos em janeiro deste ano.
Segundo reportagem publicada nesta quinta-feira (5) pelo jornal O Estado de São Paulo, o Nordeste recebeu apenas 3% do total liberado pelo Executivo federal no período, enquanto Sul e Sudeste foram o destino de 75% das novas concessões.
Em números absolutos, a distribuição do total de 100 mil novas concessões ficou da seguinte forma: 45,7 mil para o Sudeste; 29,3 mil para o Sul; 15 mil destinadas ao Centro-Oeste; 6,6 mil para o Norte; e 3.035 direcionadas ao Nordeste. Os números se baseiam em dados oficiais fornecidos pelo Ministério da Cidadania ao Congresso Nacional.
O Nordeste, cujos atuais governadores são de oposição, foi a única região do país que, nas eleições presidenciais de 2018, deu maioria de votos a Fernando Haddad (PT) na disputa contra Bolsonaro. O petista recebeu 69,7% dos votos válidos do pleito contra 30,3% de Jair Bolsonaro, então candidato pelo PSL. O pesselista teve hegemonia de votos nas outras regiões, ficando com 68,3% dos votos no Sul, por exemplo.
Santa Catarina, estado atualmente governado pelo PSL, recebeu, em janeiro, um número de novos benefícios correspondente ao dobro do que foi liberado para todo o Nordeste, apesar de ter uma população oito vezes menos que a da região.
Entre outras coisas, o Nordeste tem sido alvo de ataques do presidente da República em diferentes contextos. Em julho do ano passado, por exemplo, ele se referiu aos habitantes da região como “paraíbas”, termo de caráter pejorativo e historicamente utilizado para destilar preconceito contra o Nordeste.
Paralelamente, outras ações diretas ou indiretas do Executivo direcionaram o alvo para a região. Em agosto de 2019, por exemplo, o Estadão mostrou que a Caixa Econômica Federal (CEF) reduziu as concessões de crédito para governadores e prefeitos nordestinos, que receberam apenas 2,2% do total liberado pelo banco no período. A medida teria sido uma orientação do presidente da CEF.
O governo Bolsonaro tem dito que trabalha atualmente numa nova formatação para o Bolsa Família, cujo alcance está caindo no país. A reportagem do Estadão desta quinta-feira mostra que a liberação de novos benefícios caiu cerca de 5,6 mil ao mês entre junho e dezembro de 2019, primeiro ano da gestão Bolsonaro.
Em nota enviada ao Estadão, o Ministério da Cidadania não explicou o porquê da disparidade das concessões entre as regiões e afirmou que o processo de concessão de benefícios é “impessoal e realizado por meio de sistema automatizado que obedece ao teto das verbas orçamentárias destinadas ao programa”.
Edição: Rodrigo Chagas