No próximo dia 31 de março, Ágatha Félix completaria nove anos de idade. A data será marcada por uma ação social na comunidade do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, onde a criança morava com a família. A menina morreu no dia 20 de setembro de 2019 após ser alvejada por um tiro nas costas dentro de uma kombi na comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, a caminho de casa. A morte causou comoção social e trouxe à tona questionamentos sobre o modo de atuação da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
A perícia comprovou que a bala responsável pela morte de Ágatha partiu da arma de um policial militar que estava em serviço na ocasião. O PM Rodrigo José de Matos Soares responde por homicídio qualificado. Se condenado, cumprirá de 12 a 30 anos de prisão.
Mesmo com a justiça sendo feita, a dor da perda permanece na família. Vanessa Francisco, mãe de Ágatha, contou ao Brasil de Fato que a ideia da ação social na comunidade do Alemão surgiu a partir de um próprio desejo da filha que, pouco antes de morrer, disse que gostaria de doar brinquedos para o orfanato.
“Como que surgiu essa ação? No final do ano, antes dela ir [morrer], ela falou: ‘Mãe, vamos separar alguns brinquedos para a gente poder doar no orfanato?’. Os brinquedos dela. Eu falei: ‘Nossa, filha! Vamos!’ Do nada ela pediu isso e eu achei brilhante a ideia porque uma menina de oito anos falar isso. Eu me maravilhei e sabia que minha filha era especial. Todo ano eu sempre ficava voltada pros aniversários dela, ficava com a mente ocupada, organizava, mexia aqui e ali e já que ela não está aqui, ela está no céu, Deus colocou essa ideia no meu coração”, disse.
A ação social Ágatha Vitória Vive começa a partir das 9h30 no Campo do Seu Zé, no Complexo do Alemão e contará com a presença da Defensoria Pública, da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a realização de atividades culturais e prestação de serviços para a comunidade.
“A ação é voltada para crianças, mas como outras pessoas também querem participar, a gente conseguiu que nesse dia tenha limpeza de pele, um grupo de barbeiros e de grafiteiros também. A Defensoria Pública; os Direitos Humanos da Alerj; terão pessoas com as suas barraquinhas de algodão doce e pipoca; apresentação do balé onde ela fazia aula. Estamos tentando um show de artista. Eu quero que esse dia seja grandioso para muita gente, vai ser um presente não só para mim e para a Ágatha, mas para muita gente”, explicou Vanessa.
A atividade conta com a solidariedade das pessoas para acontecer. Doações de mantimentos não perecíveis, roupas e brinquedos podem ser feitas na Avenida Rio Branco, 135, sala 612 e na Rua Nova Beco São Paulo, 2, no Complexo do Alemão. A mãe de Ágatha também disponibilizou a sua conta bancária para os interessados em contribuir financeiramente: Vanessa Fancisco Sale – Banco do Brasil - Agência: 1244-4 / Conta Corrente: 455490.
Na linha de tiro
O caso de Ágatha reascende a discussão para o modelo de política de segurança pública adotado pelo estado do Rio de Janeiro. Dados fornecidos pela plataforma Fogo Cruzado ao Brasil de Fato apontam que em 2020 foram registradas nove crianças baleadas no Grande Rio. Destas, uma morreu.
Já com adolescentes, o número foi maior. Ao todo, de janeiro até agora, a plataforma registrou 14 baleados. Destes, sete morreram.
No último relatório divulgado pelo Fogo Cruzado constatou-se um aumento de 93% no número de vítimas de balas perdidas na região metropolitana do Rio no mês de fevereiro em comparação com o mesmo período do ano anterior. De acordo com a plataforma, os bairros de Vila Kennedy, Cidade de Deus, Acari, Vila Isabel, Madureira e Complexo do Alemão lideram em números de tiroteio na cidade do Rio.
Nesta quinta-feira (5) ocorre a votação do projeto Ágatha na Alerj. A iniciativa tem por objetivo dar prioridade de tramitação a procedimentos investigatórios relativos a crimes contra a vida que resultem na morte de crianças e adolescentes.
Serviço:
Ação Social Ágatha Vitória Vive
Dia: 31 de março
Horário: De 09h30 até às 17h
Local: Campo do Seu Zé, no Complexo do Alemão
Edição: Vivian Virissimo