O Brasil vem passando por uma onda conservadora nos últimos anos, que culminou na vitória de Jair Bolsonaro (sem partido). Esse cenário aprofunda cada vez mais o machismo, anti-feminismo e a violência contra as mulheres, na avaliação de Adriana Motta, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). "Temos um governo mais preocupado com o feminismo do que com o feminicídio”, avalia.
Segundo o Atlas da Violência, o país acumulou 4936 mulheres mortas em 2019, esse é o maior número registrado na série histórica do levantamento, em 2007. Desse total, 1407 mortes ocorreram dentro de casa mostrando como o feminicídio é uma violência, sobretudo, doméstica.
De acordo com Adriana, em entrevista a Denise Viola durante o podcast No Coletivo (ouça aqui), do Brasil de Fato RJ, o ódio contra as mulheres está mais evidente.
“É claro que a violência não é inédita, mas a gente está vivendo um momento de ódio declarado. Um dos alvos desse ódio é contra as mulheres, particularmente, contra as feministas. Isso porque está sendo reconhecido que somos uma fonte importante para peitar várias situações que incomodam a sociedade como um todo. É uma reação do patriarcado e do machismo. É responsabilidade do poder público combater essa violência e não incentivar", afirma.
Essa violência não chega da mesma maneira para todas as mulheres e não pode ser tratada dessa forma, como ressalta Adriana.
“A gente sabe que no Brasil ser mulher nos coloca num lugar de desconforto e de possível vítima de uma violência que pode ser fatal. Mas se sou uma mulher negra, esse lugar fica ainda mais próximo da violência. Existe essa desigualdade entre nós mulheres. O feminismo então é um movimento de libertação e de força, um lugar de escolhas sobre a nossa vida enquanto mulheres que estão produzindo e resistindo de forma semelhante, não igual”, afirma.
Adriana destaca ainda que independente das vitórias passageiras ou não, o feminismo não é um movimento momentâneo. “Ele se renova, estamos cheias de coisas boas acontecendo no mundo todo o feminismo em todo o mundo principalmente contra essa onda de ódio que estamos vivendo”, complementa.
Nesse sentido, a feminista destaca a importância do 8 de março como uma data para relembrar a luta histórica das mulheres.
"O 8 de março não foi criado agora, tem muita história por trás. Normalmente as pessoas falam para comemorar o 8 de março, a gente não tem muito o que comemorar nesta data, mas trazer a memória dessas mulheres de outros tempos que iniciaram a luta por direitos. Acho que a gente precisa dizer: ‘obrigada mulheres que vieram antes e lutaram, a gente vai honrar essa luta hoje’”, conclui.
Edição: Mariana Pitasse