Debate

Para Stedile, do MST, governo Bolsonaro está em crise: "Mobilização precisa crescer"

Dirigente sem-terra participou de reunião da Frente Brasil Popular, nesta segunda (02), em São Paulo (SP)

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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João Pedro Stedile, da direção nacional do MST
"Os problemas da classe trabalhadora só se aprofundam", avalia João Pedro Stedile - José Eduardo Bernardes

A crise institucional, política e social que acomete o Brasil têm se agravado cada vez mais pelas mãos do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Essa é a avaliação compartilhada por movimentos populares, centrais sindicais e partidos políticos que integram a Frente Brasil Popular. Dirigentes desses grupos se reuniram na manhã desta segunda-feira (2), em São Paulo (SP), na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

"Na economia, os problemas da classe trabalhadora só se aprofundam. Os investimentos na indústria pararam, o desemprego está aumentando com a precarização e fugiram U$ 25 bilhões do capital estrangeiro, por isso a taxa de câmbio subiu”, explica João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Para Stedile, porém, as investidas de Bolsonaro, como a circulação de um vídeo por meio de aplicativo de mensagens conclamando seguidores a participar de uma manifestação contra o Congresso Nacional, podem ser catalisadores de uma pressão social contra o presidente.

"Precisamos aumentar as mobilizações populares e nesse sentido, a convocação que o Bolsonaro fez para o dia 15 nos ajuda, porque revelou que ele está em crise, inclusive da tutela militar, porque eles não podem estar confortáveis diante dessa situação que ele estimulou, o motim da Polícia do Ceará e esses arroubos dele contra o Congresso e contra o STF”, aponta. 

Segundo ele, o Congresso e o STF são parte das forças de direita. "Então como é que um presidente de direita ataca seus próprios aliados?", questiona o dirigente do MST.

"A confiança do povo"

O encontro também serviu para discutir temas que pairam o campo progressista, como a formação de uma frente ampla entre partidos políticos, que uniria diferentes tendências durante as disputas eleitorais e também na atuação enquanto oposição ao governo federal.

Uma frente, segundo Mônica Valente, da executiva nacional do PT (Partido dos Trabalhadores), seria fundamental para resgatar os direitos que têm sido perdidos nos últimos anos.

"Nós temos que construir uma frente forte de enfrentamento e de resistência à essas políticas do governo Bolsonaro e uma frente que também busque resgatar a democracia e o respeito aos direitos dos movimentos sociais, de se organizarem, de protestarem."

Outro tema debatido foi a participação popular. É consenso entre os movimentos que uma das maneiras mais eficientes de pressionar o governo de Jair Bolsonaro é com intensa mobilização popular.

Para Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), no entanto, antes de fazer um chamado para que o povo vá às ruas, é necessário entender quais as ferramentas utilizadas por essa população. 

"Precisamos reconquistar a confiança do povo. Uma parte dessa confiança foi perdida, não se trata apenas de convocar manifestações, mas se trata de estabelecer um diálogo com uma imensa massa, que seria o centro social no nosso país, que não está com ele, mas também não está conosco", afirma. "É preciso uma nova linguagem, novos modos e métodos de fazer a pedagogia política junto a esses setores", completa Sorrentino.

É preciso uma nova linguagem, novos modos e métodos de fazer a pedagogia política junto a esses setores.

Edição: Rodrigo Chagas