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Café “Nespresso”, da Nestlé, explora trabalho infantil

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Uma investigação identificou crianças e adolescentes trabalhando em lavouras de café na Guatemala que fornecem o produto à Nestlé - Orlando Sierra/AFP
Com sede na Suíça, a multinacional é maior de alimentos e bebidas do mundo

Muita gente que bebe café conhece a expressão “tomar um Nespresso”. É a marca premium de café expresso da Nestlé, vendida em mais de 60 países. A Nespresso representa a maior operação de café em capsulas do mundo, com um faturamento anual de US$ 5 bilhões, ou seja, mais de R$ 22 bilhões.

É muito dinheiro, mesmo para atividades industriais. Infelizmente, a produção do Nespresso viola direitos humanos. Na última semana de fevereiro, surgiu a informação de que a marca tem trabalho infantil em sua cadeia produtiva.

Uma investigação jornalística conduzida pelo Channel 4, do Reino Unido, identificou crianças e adolescentes trabalhando nas lavouras que fornecem café para a fabricação do Nespresso.

O caso ocorreu na Guatemala, um importante fornecedor da Nespresso e de outras grandes marcas, como a Starbucks, que também tem problemas ligados ao trabalho infantil.

Não é a primeira vez que essas empresas aparecem relacionadas a crimes desse tipo. Um caso recente aconteceu no Brasil. Em 2018, seis empresas foram denunciadas junto à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na época, foram denunciadas por explorar trabalho escravo em lavouras de café no Brasil. São elas: Nestlé, Jacobs Douwe Egberts, McDonald’s, Dunkin’ Donuts, Starbucks e Illy. Os autores da denúncia foram a Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (Adere-MG) e a Conectas Direitos humanos.

George Clooney se manifesta

Em relação à exploração do trabalho infantil no café, a direção da Nestlé disse que vai investigar e que tem “tolerância zero ao trabalho infantil”.

Quem também se manifestou foi o ator George Clooney, principal garoto propaganda da Nespresso. Ele é apresentado pela Nestlé como “embaixador” da marca. O ator declarou que ficou “surpreendido” e “triste” com a história e garantiu que o problema será resolvido.

Quando empresas são flagradas explorando crianças ou escravos, a resposta é mais ou menos padrão: que não sabiam, que foram surpreendidas e que têm tolerância zero em relação a ocorrências como essas.

No caso da Nestlé, o que ocorre é que a empresa tem problemas para monitorar a cadeia produtiva de importantes commodities vinculadas às suas marcas. Por conta disso, não consegue alcançar transparência em relação aos fornecedores, pois não informa de onde compra café, cacau e outros alimentos usados em larga escala.

Em relação ao cacau, a Nestlé fez pior. Sequer se manifestou. Simplesmente ignorou a denúncia de que existem, atualmente, oito mil crianças e adolescentes trabalhando em fazendas de cacau no interior do Brasil. Na Bahia e no Pará, em atividades insalubres e perigosas, crianças e adolescentes perdem a infância, o futuro e a vida em lavouras que fornecem cacau para Nestlé, Garoto, Mondelez e outras grandes marcas de chocolate.

A Nestlé é a maior empresa de alimentos e bebidas do mundo. Está presente em mais de 190 países. Tem mais de 200 marcas. Está sediada na Suíça, um país que preza os direitos humanos, a educação e a infância. Será que o povo da Suíça concorda com isso? Será que o consumidor brasileiro concorda em comer chocolate vinculado ao trabalho infantil e ao trabalho escravo?

Essa gigante precisa urgentemente mudar suas práticas. A Nestlé tem todas as ferramentas necessárias para se tornar uma referência mundial de respeito aos direitos humanos. Basta querer.

Edição: Rodrigo Chagas