À noite, foram tomar umas cachaças no boteco em frente e encheram a cara
Um dia destes, eu ia a um bar que não tinha cachaça que prestava, peguei uma garrafinha de bolso para encher com uma das minhas e levar pro boteco.
Coloquei a garrafinha em cima da pia e, quando ia pegar o funil, esbarrei nela, ela caiu e quebrou.
Ia ficar bravo comigo mesmo, mas ri me lembrando da história de um cachaceiro que levava uma garrafinha dessas no bolso de trás, cheia de pinga, escorregou, caiu sentado e sentiu aquele líquido escorrendo perna abaixo. E falou em tom choroso: “Ai, meu Deus. Tomara que seja sangue”.
Aí me lembrei de outras historinhas de amigos chegados numa "marvada".
Um deles, o Chicão, era caixeiro numa loja na minha terra e vivia numa pindaíba danada, até resolver seguir o que outras pessoas faziam: foi pro norte do Paraná, que estava atraindo muita gente de Minas Gerais, para derrubar a mata e plantar café.
Ele não ia derrubar mata nenhuma, mas não por consciência ecológica, é que não tinha vocação pra trabalho duro. Certamente o comércio crescia muito na região, e ele arrumaria emprego melhor como caixeiro mesmo ou outra coisa qualquer. E arrumou.
Passado um ano, ele tomou um porre num domingo e bateu a saudade da terra natal. Comprou uma garrafa de pinga, pegou um ônibus para não sei onde, depois outro, depois outro, sempre bebendo, e por fim chegou à minha terra, bêbado e com uma garrafa nas mãos.
Demorou para sarar da bebedeira e não acreditou quando lhe contaram onde estava. E nem tinha mais dinheiro para voltar pro Paraná.
Outra história é de um amigo mineiro, o Alencar, que morava no bairro do Paraíso, em São Paulo, e seu apartamento era ponto de referência para seus conterrâneos, que com frequência se hospedavam lá.
Um dia chegou um direto da roça.
À noite, foram tomar umas cachaças no boteco em frente e "encheram a cara".
No dia seguinte, os dois acordaram de ressaca, e o Alencar chamou o conterrâneo para tomar um remédio na farmácia que ficava ao lado do bar.
O Alencar pediu ao farmacêutico um flaconete para o fígado e um Engov. O conterrâneo não conhecia aquelas coisas, então seguiu o Alencar. Pediu igual.
Depois de colocar o Engov na boca, o Alencar tomou o flaconete em cima, levando o comprimido goela adentro. E o conterrâneo imitou.
Conversaram um pouquinho, o Alencar falou que tinha melhorado um pouco, mas não de tudo. Pediu então mais um flaconete. O conterrâneo pediu igual.
O farmacêutico entregou os tubinhos aos dois, e o rapaz perguntou: “Uai! Desta vez não tem tira-gosto?”
Edição: Geisa Marques