O trabalho doméstico é uma das ocupações com remuneração mais baixa no mundo
Somos o país que mais tem empregadas domésticas no mundo: mais de seis milhões de mulheres, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
De cada 10 empregadas, sete são negras. De cada 10 empregadas, sete não têm registro em carteira. De cada 10 empregadas, seis não contribuem com a previdência. Mais de 150 mil são crianças ou adolescentes, a maioria do sexo feminino, inseridas na lista do que chamamos “piores formas de trabalho infantil”.
O trabalho doméstico é uma das ocupações com níveis de remuneração mais baixos no mundo.
Dentre os principais problemas enfrentados por essas profissionais, estão a informalidade, a discriminação de gênero, o racismo e as jornadas exaustivas, muitas vezes caracterizadas como trabalho escravo.
Além disso, as atividades não são apenas “na casa do patrão”. Recomeçam tão longo elas chegam em casa, em duplas e triplas jornadas.
Negras e escravas
Não é por acaso que o Brasil tem tanta empregada doméstica.
Três fatores são preponderantes: (1) a desigualdade, (2) a péssima qualidade da educação pública - que impede ascensão a melhores e mais rentáveis formas de trabalho – e (3) o racismo estrutural que empurra as jovens negras para relações laborais precárias.
O trabalho doméstico representa quase 7% dos empregos disponíveis no país. Como fomos um dos últimos países do mundo a formalizar o fim da escravidão, os resquícios estão aí: 70% de mulheres negras na atividade de empregada doméstica.
Muitas trocam o trabalho por comida, muitas são menores trazidas do interior para trabalhar como escravas em casas e apartamentos.
O que se sabe, com certeza, é que elas não vão à Disney. Elas são muitas. Mas são, infelizmente, invisíveis aos olhos dos gestores das políticas públicas. Se invisíveis são, simbolicamente mortas estão.
São espectros a povoar as fantasias autocráticas dos donos do poder, principalmente do micropoder doméstico que as subjuga, muitas vezes, ao trabalho degradante.
O ministro Paulo Guedes reflete a doença que nos consome enquanto sociedade: é preciso mantê-las sob controle, pois são uma ameaça. Em primeiro lugar, porque são mulheres. Depois, porque são negras.
Além disso, se todas decidirem ir à Disney ao mesmo tempo, cai a casa. A Casa Grande entra em colapso. A Economia irá à bancarrota. Paulo Guedes não conseguirá implantar as “reformas”.
A culpa de tudo é das mulheres. A culpa sempre é das mulheres. Negras, de preferência. Estamos construindo uma sociedade doente e submissa aos sociopatas que ocupam o poder, amparados pelo sistema financeiro.
Precisamos reagir, enquanto há tempo.
Edição: Rodrigo Chagas