O documentário Indústria Americana (American Factory) foi o grande vencedor da categoria de melhor documentário do Oscar 2020, realizado neste domingo (9). Entre os concorrentes do longa vitorioso estava o brasileiro Democracia em Vertigem, dirigido por Petra Costa.
A codiretora do documentário vencedor Julia Reichert fez um discurso político. "Nosso filme é de Ohio, mas também da China, e poderia ser de qualquer lugar onde as pessoas vestem um uniforme e vão trabalhar para trazer uma vida melhor para sua família. Trabalhadores e operários têm uma vida cada vez mais difícil. E nós acreditamos que a vida vai melhorar quando os trabalhadores do mundo se unirem", afirmou no palco da cerimônia.
Além de superar a produção brasileira, Indústria Americana também desbancou dois documentários sobre a guerra da Síria e um longa da Macedônia que também concorre a melhor filme internacional na cerimônia desta noite.
Brasileiro no Oscar
A comitiva brasileira no Oscar fez uma manifestação, empunhando cartazes no saguão da cerimônia. Petra Costa mostrou um cartaz em defesa da Amazônia, a líder indígena Sonia Guajajara levou a pauta indígena para a Califórnia e outros integrantes da equipe do documentário também marcaram os 697 dias de impunidade no caso Marielle Franco.
Mesmo sem ter levado a estatueta, o documentário brasileiro Democracia em Vertigem ganhou grande repercussão com a indicação, despertando paixões e expondo, ainda mais, a polarização que vive hoje o país.
O longa de Petra Costa, que concorreu na categoria, faz um relato pessoal costurado com acontecimentos políticos do Brasil desde a redemocratização até o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a ascensão da figura de Jair Bolsonaro. O título chegou a entrar na lista de melhores filmes de 2019 do jornal estadunidense The New York Times.
Depois de ser indicado ao Oscar, em janeiro, o documentário passou a ser alvo de ataques e críticas, inclusive do governo de Jair Bolsonaro.
Na semana passada, o perfil oficial da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da presidência no Twitter afirmou que Petra assumiu o “papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do país no exterior”.
Em resposta aos ataques institucionais contra a diretora, a ex-presidenta Dilma Rousseff declarou que Petra foi vítima de “intolerável agressão do governo Bolsonaro”.
“A Secom usa a máquina pública para incitar ódio contra uma artista. Mas Petra nos enche de orgulho. Por ser mulher, talentosa, representar o país no Oscar e ter feito um filme que desmascara o golpe do impeachment ilegal de 2016 que levou o Brasil ao desastre chamado Bolsonaro”, disse a ex-presidenta na ocasião.
Neste domingo, horas antes do início da cerimônia, o perfil oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma homenagem ao longa.
“Democracia em Vertigem é um documento histórico urgente e necessário para todos aqueles que ousam defender a verdade em tempos de pregação da mentira. Hoje, o filme de Petra Costa ganha o mundo, indicado na categoria de melhor documentário”, afirma o post.
Representatividade
A academia foi muito criticada -- inclusive pelos apresentadores da cerimônia deste ano, Chris Rock e Steve Martin -- pela falta de representatividade de mulheres e pessoas negras entre os indicados. Cynthia Erivo, por exemplo, é a única atriz negra nas categorias de atuação.
Antes do início da premiação deste domingo (9), no tapete vermelho, Petra Costa celebrou o fato de estar “representando o Brasil em 2020 nessa cerimônia em homenagem à cultura, que é o que faz as civilizações se curarem”. Ela elogiou a categoria de melhor documentário por ser a “mais de vanguarda” da academia, por conseguir paridade de gênero. “Temos tantas mulheres representando -- quatro filmes dirigidos por mulheres [entre os indicados], e também quatro estrangeiros. Houve muito esforço para levar mais mulheres para esse braço da academia”, afirmou ao G1.
Apresentando o prêmio de documentário em longa-metragem, o ator Mark Ruffalo destacou o fato de que quatro títulos na categoria foram dirigidos ou codirigidos por mulheres.
O prêmio de melhor documentário foi o sétimo a ser anunciado na noite deste domingo. Antes, o ator Brad Pitt saiu vitorioso na categoria de ator coadjuvante por sua atuação no filme Era Uma Vez Em… Hollywood.
Na categoria de melhor longa de animação, o título vencedor foi Toy Story 4. Entre os indicados de melhor curta de animação, a estatueta ficou com Hair Love. No discurso de agradecimento, a produtora Karen Rupert Toliver e o diretor Matthew A. Cherry falaram sobre a importância de representação e a importância simbólica do cabelo para crianças negras.
O Oscar de roteiro original ficou com os coreanos Bong Joon-Ho e Han Jin Won, responsáveis pelo filme Parasita, que concorreu em mais 10 categorias. A obra também levou a estatueta nas categorias de melhor direção e melhor filme estrangeiro.
Já a estatueta de melhor ator foi para Joaquin Phoenix, estrela do filme Coringa, que ganhou na categoria melhor trilha sonora.
A atriz Renée Zellweger também foi premiada como melhor atriz, devido sua atuação em Judy: Muito Além do Arco-Íris
Melhor roteiro adaptado ficou com Jojo Rabbit, de Taika Waititi. Melhor curta de ficção ficou com The Neighbor’s Widow.
O prêmio de direção de arte foi para Era Uma Vez Em... Hollywood.
Lauren Dern levou a estatueta de atriz coadjuvante pelo papel que interpretou em História de Um Casamento.
Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina) conquistou o prêmio de melhor documentário em curta-metragem.
O longa 1917, que retrata a atuação de soldados britânicos na Primeira Guerra Mundial, foi premiado em três categorias: melhor fotografia, melhor mixagem de som e melhor efeitos visuais.
Já a estatueta de melhor montagem foi para Ford vs Ferrari.
O prêmio de melhor cabelo e maquiagem ficou com o drama O Escândalo e Adoráveis Mulheres foi premiado como melhor figurino.
A estatueta de melhor canção original foi para Elton John, com I'm Gonna Love Me Again, composta para a trilha de Rocketman. É o segundo Oscar do cantor na mesma categoria.
Edição: Aline Scátola