Jair Bolsonaro (sem partido) realizou uma “festa” no Palácio da Alvorada na tarde desta quarta-feira (5), data que marca os 400 dias de seu governo. Com a presença dos ministros Sérgio Moro, Onyx Lorenzoni, Tarcísio Gomes de Freitas, Luiz Mandetta, entre outros, a cerimônia fez um balanço da atuação da gestão e apresentou perspectivas para 2020.
Entre as políticas alardeadas nas últimas semanas pelo governo como ações de sucesso, está a Inauguração da Estação Antártica Comandante Ferraz e a aprovação do 13º do Bolsa Família, além da leitura que a economia do país voltou a crescer. O Bolsa Família foi enaltecido pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, já no discurso de abertura.
Entretanto, os dados mostram uma realidade diferente da versão oficial. Apesar da liberação de um salário a mais para os beneficiários do Bolsa Família, no fim do ano passado, Bolsonaro sinalizou que a verba destinada ao programa em 2020 iria diminuir e que o governo mudaria o processo de triagem de quem recebe o benefício, o que aumentaria a exclusão das famílias do benefício.
No primeiro ano de sua gestão, 1 milhão de usuários deixaram de ser atendidos pelo programa. A situação se agrava ainda mais em um contexto de profunda vulnerabilidade socioeconômica. Números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no fim de janeiro, revelaram a entrada de 1 milhão de pessoas na faixa dos trabalhadores informais entre os anos de 2018 e 2019 no Brasil.
Já em relação à política externa, Jair Bolsonaro seguiu consolidando seu alinhamento político com os Estados Unidos e se vangloriou do encontro com o primeiro-ministro indiano de extrema direita, Narendra Modi, no país asiático, onde 15 acordos foram firmados.
Assim como o presidente brasileiro, Modi aposta em slogans que evocam o patriotismo e a religiosidade. O partido dele representa o nacionalismo hindu e é acusado de promover perseguição a minorias religiosas na Índia. Porém, especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato relativizaram a importância dos termos que foram assinados durante a visita, já que a maioria dos documentos não gera obrigações no âmbito do Direito Internacional.
Ano novo, mesmo retrocesso
Em meio à grande oscilação de popularidade e aprovação, o primeiro mês do segundo governo Bolsonaro manteve as declarações polêmicas de praxe. Tanto do próprio presidente, quanto de representantes da sua gestão.
No dia 22 de janeiro, em vídeo publicado nas redes sociais, o presidente defendeu que comunidades indígenas se integrem ao restante da sociedade e afirmou que “cada vez mais o índio está evoluindo" e se tornando um "ser humano igual a nós". Com ampla repercussão negativa, a declaração preconceituosa fez com que a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) protocolasse uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra ele pelo crime de racismo.
O político também foi criticado por se negar, em um primeiro momento, a repatriar brasileiros que estão na China em meio ao surto do Coronavírus, que já vitimou centenas de pessoas.
“Pelo que parece, tem uma família na região onde o vírus está atuando. Não seria oportuno retirar de lá, com todo respeito, pelo contrário. Não podemos colocar em risco nós, aqui, por uma família apenas”, disse Bolsonaro.
Mas, poucos dias depois, após a divulgação de um vídeo de brasileiros que vivem em Wuhan solicitando ao governo que pudessem voltar ao país de origem, a gestão anunciou estudar um plano para retirá-los do país asiático.
Como previsto, a crise na área da Educação, com Abraham Weintraub como ministro, ganhou capítulos ainda mais graves. As notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que se tornou a porta de entrada de muitos jovens para o mundo universitário, foram divulgadas com erros, segundo Weintraub.
Segundo as explicações do governo, houve erro na gráfica que imprimiu o exame durante o processo de associação entre as provas e os gabaritos. O problema foi identificado somente após reclamações de estudantes nas redes sociais.
A falha levou à suspensão do processo do Sisu e a abertura das inscrições para o Prouni, liberadas apenas após decisão do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
Bolsonaro, por sua vez, demorou a comentar o caso e relativizou a responsabilidade sobre o erro, sugerindo uma possível sabotagem.
“Acho que todas as cartas estão na mesa. Não quero dizer que é isso, para querer se eximir, talvez, de uma responsabilidade que seja nossa. Não sou dessa linha. Eu quero realmente é apurar e chegar no final da linha para falar com propriedade. Se for nossa, assume. Se for de outros, mostrar com provas o que houve”, afirmou.
Edição: Vivian Fernandes