Trabalhadores, sindicatos e movimentos populares fizeram um ato em frente à sede da Petrobras, no centro do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (3), para apoiar os cinco funcionários que ocupam desde a última sexta-feira (31) uma das salas de reunião da estatal. A greve, que mobiliza mais de 8 mil trabalhadores em todo o Brasil, reivindica a suspensão do fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), que vai provocar a demissão de mil trabalhadores.
Dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Simão Zanardi Filho disse ao Brasil de Fato que os trabalhadores não paralisaram a produção de diesel, demais combustíveis e gás de cozinha para não prejudicar a população. Ele lembrou, no entanto, que não há a garantia de que as distribuidoras não tentarão nos próximos dias reter seus estoques para forçar o aumento de preço, como ocorreu em 1995.
"Nossa greve é legal, justa e por isso temos a adesão dos trabalhadores. Temos 80% das 13 refinarias do Brasil. No caso, das plataformas, que já começam a entrar em greve essa semana, elas não vão parar, mas entregam a operação para uma equipe de contingência da Petrobras e os trabalhadores de lá estão desembarcados como grevistas", contou Zenardi, acrescentando que a greve cessa quando a estatal respeitar o acordo firmado em novembro do ano passado com trabalhadores diante de ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
"Estamos reivindicando simplesmente o cumprimento do acordo coletivo assinado em Brasília. A Petrobras assinou e não quer cumprir as duas cláusulas. A primeira delas é que não pode haver demissão em massa, mas estamos vendo agora a demissão de mil trabalhadores. A outra é que a Petrobras tem que negociar a jornada de trabalho, o plano de saúde, o banco de horas. Entretanto, ela se não quer negociar e afrontou os ministros do TST. Estamos aqui, hoje, defendendo a legalidade do acordo, nada mais, nada menos", disse o dirigente da FUP.
Durante a manhã, petroleiros, lideranças políticas como o ex-senador Lindbergh Farias (PT), a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) e movimentos populares, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) junto ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) tentavam negociar com a direção da Petrobras a entrada no prédio de um representante para levar alimentos e água aos grevistas Deyvid Bacelar, Tadeu Porto, Cibele Vieira, José Genivaldo da Silva e Ademir Jacinto. Eles ocupam uma sala da empresa desde as 15h de sexta-feira (31) e criaram, a partir de lá, a "Comissão Permanente de Negociação".
Os cerca de 8 mil petroleiros, distribuídos por 17 bases em 10 estados, entraram em greve à meia-noite de sábado (1).
Mobilização
Presente no ato, o ex-senador Lindbergh Farias (PT) lembrou que trabalhadores de outras estatais, como o Dataprev e a Casa da Moeda, também vêm fazendo uma movimento de resistência contra as tentativas de privatização das empresas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"Estou convencido de que para derrotar Jair Bolsonaro é fundamental colocar o povo nas ruas, se inspirar na luta do povo chileno. Lá, eles mostram que o palco central de resistência é nas ruas. Não vamos arredar pé daqui da frente enquanto não liberarem o acesso de comida aos cinco companheiros que estão resistindo lá. A luta desses três setores é fundamental para que a gente coloque outros setores em mobilização e paralisação e construa uma grande greve geral para derrotar Bolsonaro", disse o petista.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB) criticou o policiamento destacado para a entrada da Petrobras. Por volta de meio-dia desta segunda-feira (3), 10 carros da Polícia Militar estavam parados em frente ao edifício da estatal, com agentes portando metralhadoras, apesar de o ato do ato pacífico e sem confrontos.
"Esse reforço da polícia é totalmente desnecessário. Se tem alguém que defende patrimônio público aqui, esse alguém é o trabalhador que está aqui do lado de fora. Quem destrói o patrimônio é exatamente esse governo, que não só que vende tudo a preço de banana, como também desmonta o corpo interno, fazendo demissão em massa contra o acordo coletivo firmado com os trabalhadores. Essa é a razão da greve. Essa comissão quer um diálogo para que se discuta o desmonte de uma empresa estratégica para o Brasil, uma empresa reconhecida no mundo inteiro".
A parlamentar também chamou a população às ruas. Ela lembrou que a Câmara dos Deputados e o Senado voltam às atividades nesta terça-feira (4), mas que o país não pode esperar que todas as decisões venham de lá nem pode aguardar até 2022, ano de eleições presidenciais, para dar a resposta nas urnas, porque "pode não sobrar nada até lá".
"Defender hoje a soberania do Brasil significa incluir o povo brasileiro. Estamos sob risco de ruptura da democracia brasileira, de ruptura institucional, e isso é tudo o que eles querem, mudar o regime. A Petrobras é uma marca desse país, o verde e amarelo não é deles, não, é nosso. E esperar até 2022 para defender o Brasil... pode não sobrar nada até lá. O tempo é agora", defendeu Jandira.
Edição: Mariana Pitasse