Na manhã deste sábado (25), quando completa-se um ano do crime de Brumadinho (MG), mais de 100 pessoas de comunidades quilombolas, tradicionais, ribeirinhas e moradores de Barcarena, no nordeste do Pará, se reuniram para uma roda de conversa para debater os desastres e crimes ambientais que atingem o município. Na ocasião foi entregue aos participantes um livro-dossiê elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde constam os danos causados nos últimos 38 anos ao povo do município. A ideia é que a publicação sirva de subsídio para que a comunidade local entenda a forma como vem sendo afetada pela atuação das empresas que desempenham atividades na região.
A quilombola e ativista do Movimento Barcarena Livre e do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Sandra Amorim entende que eventos como esse são importantes porque as empresas claramente atuam sem a menor preocupação com os moradores atingidos. Para ela, infelizmente, a maior preocupação é com o lucro e não com as pessoas.“Grandes empresas como a Vale, a Hydro e a Imerys, que estão no Brasil, principalmente em Barcarena e em Minas Gerais, não estão preocupadas com a população nativa. Elas só estão preocupadas em ganhar. Então, elas lucram e as mazelas ficam para o povo nativo”, critica.
Segundo Sandra Amorim, que já testemunhou diversos crimes ambientais contra a sua comunidade, o único caminho para tentar reverter esse quadro é lutar para minimizar os impactos ambientais. “A luta é o caminho para a gente tentar amenizar a situação, principalmente dos moradores, tanto aqui de Barcarena como de outro lugares”, resume.
Zonas de Sacrifício
Na avaliação da professora Edna Castro, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA), o que acontece em Barcarena, no Pará e em municípios como Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais - devido às atividades da mineração, industrial e portuária - é o que ela classifica como “zonas de sacrifício”. Ou seja, locais que existem apenas para que a riqueza seja retirada, sem que isso gere qualquer benefício aos "filhos da terra".
“Essas grandes regiões no mundo, onde a ganância do dinheiro acaba destruindo o meio ambiente, acaba destruindo a vida das pessoas e gerando doenças. Por isso, na literatura internacional, nós estamos chamando essas áreas de zonas de sacrifício. Não há direitos, não há justiça ambiental”, analisa.
A pesquisadora também destaca outra característica dessas áreas: a permissividade das autoridades. “ Nessas zonas, os grandes empreendimentos, juntamente com o Estado, nos seus processos altamente corruptos e negligentes, não fazem caso do que está ocorrendo naquele território”, afirma. Edna explica ainda que o resultado final dessa política é o extermínio das comunidades, uma consequência da sucessão de negações de direitos a que são submetidas. “Barcarena se configura como uma zona de sacrifício ambiental e social, isso significa que toda aquela zona pode morrer”, alerta.
Desde 2002, ao menos 17 desastres foram cometidos no município envolvendo a norueguesa Norsk Hydro, a francesa Imerys, além da própria Vale. O município também foi atingido pelo vazamento de 700 toneladas do Navio Haidar, onde naufragaram 5 mil bois vivos contaminando não só Barcarena, mas também Abaetetuba, no nordeste do Pará.
Edição: Douglas Matos