Rio de Janeiro

ÁGUA

Problema da Cedae não é água, é administração escolhida pelo governo, diz funcionário

Água com cor está sendo distribuída no Rio; servidor afirma que atual gestão é responsável por desmonte da estatal

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Representantes do Ministério Público, Uerj e Fiocruz coletaram amostras de água para análise
Representantes do Ministério Público, Uerj e Fiocruz coletaram amostras de água para análise - Divulgação/Cedae

As tentativas de privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) no governo de Luiz Fernando Pezão (MDB) e, agora, no de Wilson Witzel (PSC), são apontadas por funcionários da estatal como as razões para que a empresa venha enfrentando problemas de funcionamento. Em entrevista ao Brasil de Fato, o funcionário da Cedae e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento de Niterói, Ary Girota, afirmou que administração escolhida pelo atual governo estadual é “responsável direta pelo desmonte da empresa".

"Em pouco menos de um ano estão desmontando uma estrutura que levou mais de 10 anos para ser consolidada, levando ao reconhecimento internacional de nossa água”, explica o sindicalista.

A Cedae voltou ao noticiário na última semana depois de a população denunciar alteração de cor e odor da água tratada pela estatal. Na última segunda-feira (13), o Ministério Público esteve com representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) nas instalações da Cedae, em Nova Iguaçu (RJ). Além de coletar amostras de água, MP e pesquisadores avaliaram as condições de equipamentos e qualidade do tratamento que funciona junto ao Rio Guandu.

Moradores de mais de 50 bairros do Rio e de municípios da Baixada Fluminense observaram que a água está com aspecto amarronzado, odor forte e sabor de terra. A Cedae identificou a substância Geosmina, produzida por algas, mas afirma que não há risco à saúde e que a água pode ser consumida. Segundo Ary, a Cedae teria interrompido o fornecimento de água caso houvesse riscos para a população. 

Mesmo assim, o professor Gandhi Giordano, do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Faculdade de Engenharia da Uerj, recomendou que “se tiver condições de comprar água mineral, dê preferência apenas ao seu consumo até que a situação seja normalizada”. 

Privatização

O funcionário da Cedae, Ary Girota, também denunciou as condições de trabalho imposta pela atual gestão, que tem impactado no trabalho desenvolvido pela estatal.  “Os trabalhadores da Cedae estão sendo submetidos a um regime de trabalho extenuante, uma mudança radical das escalas de trabalho, com a desculpa de melhoria das condições do mesmo, mas isso não ocorreu. Pelo contrário, isto provocou o adoecimento da força de trabalho, além de demissões de técnicos competentes, com outra desculpa infundada, amparada na questão de cunho salarial”, afirma Girota.

Apesar de ser uma empresa estatal rentável para os cofres públicos, com lucro histórico de R$ 832 milhões em 2018, quase o triplo do ano anterior, a Cedae está no alvo das privatizações do governo do estado. A venda da empresa foi uma das condições para que o governo do Rio entrasse no Regime de Recuperação Fiscal proposto em 2017 pelo governo federal. O regime deu ao Rio a possibilidade de adiar o pagamento de dívidas à União, mas estabeleceu regras injustas para o estado, na opinião de diversos especialistas.

O problema da Cedae com a água ocorre menos de um mês depois de a Câmara dos Deputados ter aprovado uma proposta de autoria da gestão de Jair Bolsonaro (sem partido) que abre caminho para a privatização das companhias públicas de saneamento pelo país. O Projeto de Lei, que ainda vai passar pelo Senado, abre espaço para a entrada do setor privado no ramo – motivo principal das críticas dos opositores, que apontam risco de encarecimento e precarização dos serviços prestados por conta do histórico das privatizações.

No mês que vem, prefeitos de mais de 20 municípios que compõem a região metropolitana do estado do Rio se reúnem para debater e decidir o formato do documento que pode dar prosseguimento à privatização da Cedae.

Edição: Mariana Pitasse