O golpe civil-militar na Bolívia, que culminou com a renúncia do presidente Evo Morales e do vice Álvaro Garcia Linera, do Movimento ao Socialismo (MAS), no dia 10 de novembro, completa um mês nesta terça-feira (10). De lá para cá, 33 bolivianos foram assassinados -- a maioria, apoiadores de Morales, reprimidos por grupos de extrema direita, pela polícia ou pelo Exército. A presidenta autoproclamada Jeanine Añez, que sequer foi candidata, não convocou eleições até o momento e pode permanecer no cargo até 6 de agosto de 2020.
Reeleito em outubro para o quarto mandato presidencial, Morales está exilado no México e pretende se mudar para a Argentina, de onde comandará a campanha eleitoral do MAS. Para as próximas eleições, há dois cenários possíveis: março de 2020 ou 6 de agosto, Dia da Pátria -- antiga data das posses na Bolívia.
O empresário de extrema direita Luis Felipe Camacho, que liderou os ataques que levaram à renúncia de Morales, já anunciou que será candidato.
Uma das principais características do golpe boliviano, segundo analistas, é o racismo. Morales foi o primeiro presidente indígena eleito na história do país e transformou a Bolívia em um Estado Plurinacional, por meio de uma nova Constituição.
"Primeiro, [o golpe] nasce como uma demanda local, porque talvez nunca se resolveu a questão de classe social na Bolívia. E depois vem o apoio internacional, em que a Organização dos Estados Americanos [OEA] assume um papel nefasto. Ou seja, há uma cisão entre um setor da oligarquia boliviana, que de alguma maneira perdeu seu privilégio ao deixar a estrutura do Estado, e os operários, os camponeses, os indígenas, os trabalhadores, que haviam chegado ao governo", afirmou o último chanceler de Morales, Diego Pary Rodríguez, ao lembrar a primeira eleição vencida pelo MAS, em 2005.
“A oligarquia boliviana sentiu que perdeu um espaço de poder. No governo, tentamos articular, criar pontes, mas hoje nos damos conta que não foi suficiente. Havia uma oligarquia, um setor conservador que estava esperando há muito tempo e, quando viu a oportunidade, reagiu e deu o golpe de Estado”, completou o ex-chanceler, em entrevista ao Brasil de Fato.
Rodríguez disse que o MAS aceita novas eleições, mesmo sem a participação de Morales. “O caminho é aquele que já decidiu a Assembleia Legislativa: convocar, o mais rápido possível, novas eleições, para que quem governe o país seja alguém que emana do voto popular, e não surgido da força, por imposição de algum setor”, ponderou. “O presidente, com o desprendimento e o carinho que sempre teve com a Bolívia, aceitou não participar das próximas eleições. O mais correto seria deixá-lo terminar o mandato que tinha até 22 de janeiro de 2020, mas lamentavelmente não há condições para isso”, finalizou.
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Edição: Daniel Giovanaz