A Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência recebeu nesta sexta-feira (6) a medalha Tiradentes, considerada a maior honraria do estado do Rio. A entrega foi realizada no Armazém do Campo, no centro do Rio, pelo mandato da deputada estadual Mônica Francisco (PSOL).
A mesa foi composta por integrantes e apoiadoras do movimento: Márcia Jacintho e Maria Dalva, mães que perderam seus filhos vítimas da violência policial; Patrícia Oliveira, defensora de Direitos Humanos; Glaucia Marinho, da Justiça Global e Juliana Farias, pesquisadora.
A cerimônia foi marcada por emoção. As participantes da rede lembraram de mães que integraram o movimento e não estão mais presentes e também das histórias das perdas dos filhos. Márcia, que teve o filho Hanry Silva Gomes de Siqueira assassinado em 2002 no Complexo do Lins, falou da necessidade em transformar o luto em luta para honrar a memória do filho.
"O meu filho não foi confundido, não saiu correndo no morro, não foi uma bala perdida. Ele estava nas mãos de nove policiais [militares]. Eles optaram em dar um único tiro no coração dele, à queima roupa, porque naquele dia eles não receberam o arrego do tráfico. O meu filho foi dizer pra eles que quem mandava na comunidade éramos nós. O que estava na mão dele [Hanry] era um par de chaves", contou.
Maria Dalva, que teve o filho Thiago da Costa Correia da Silva assassinado na chacina do Borel em 2003, falou sobre a importância do movimento atuar também pelo desencarceramento.
"Quando os nossos filhos não são mortos, eles são encarcerados. O que o Estado quer é esconder o corpo negro e favelado. Ele quer limpar a cidade e acabar com a favela", destacou Dalva.
A trajetória da deputada Mônica Francisco como liderança comunitária e comunicadora na comunidade do Borel, na Tijuca, também foi lembrada pelas integrantes do movimento. A parlamentar ressaltou a força das mulheres que são a base da organização e se emocionou quando voltou ao passado e lembrou do movimento "Posso me Identificar" em 2003 que deu origem à rede. "Lembrei da primeira caminhada do 'Posso me identificar?' Olhar para essas mulheres ainda de pé, é muita emoção", ressaltou a deputada.
História
A Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência surgiu em 2004 e reúne moradores de favelas, sobreviventes e familiares de vítimas da violência policial. Atualmente é composta por 26 pessoas entre familiares e apoiadores.
A incidência do movimento ultrapassou o território do Rio de Janeiro. Hoje, a rede está à frente da construção da Agenda Nacional pelo Desencarceramento e da Rede Nacional dos Familiares de Vítimas da Violência. O movimento também organiza o Julho Negro e a campanha "Diga não ao caveirão e operações em favela".
O trabalho da rede é internacionalmente reconhecido. O movimento já recebeu prêmios da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Prêmio Faz a Diferença e Medalha Chico Mendes de Resistência.
Edição: Vivian Virissimo