Em ato realizado na Embaixada da Bolívia em Brasília (DF) nesta terça (12), cerca de 120 integrantes de movimentos populares e organizações de trabalhadores de 11 países protestaram contra o golpe civil-militar que levou à renúncia do então presidente Evo Morales: Brasil, Rússia, Índia, África do Sul, Mauritânia, Marrocos, Nepal, Congo, Peru, Estados Unidos e Venezuela.
Os militantes estão na capital federal por ocasião do seminário Brics dos Povos, que começou na segunda-feira (11) e debate temas como imperialismo, crise econômica e integração para além do que estará na pauta dos governantes na Cúpula dos Brics. Os movimentos presentes estão vinculados à Assembleia Internacional dos Povos (AIP), uma das entidades organizadoras do evento.
“O povo boliviano luta, assim como o venezuelano, pela autodeterminação, pela distribuição justa das riquezas. Lamentavelmente, as Forças Armadas, que antes eram leais a seus princípios e a sua visão de construção do país, hoje saem a massacrar seu povo”, disse o venezuelano José Uzcatagui, militante da Frente Francisco de Miranda.
Cassia Bechara, do coletivo de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), disse que o ato na embaixada foi realizado por duas razões. “Nesse momento, a solidariedade ao povo boliviano e a Evo e, em especial, o rechaço ao golpe são fundamentais não só para a Bolívia, mas para todo o povo latino-americano e para o mundo”.
Em entrevista recente ao Brasil de Fato, o embaixador boliviano José Kinn Franco criticou os setores que promoveram a violência e levaram Morales a pedir asilo no México.
“Infelizmente, a oposição está encabeçada pelo setor mais reacionário, mais violento. Estes desencadearam muita violência, e ela agora está tendo uma reação da população. Então, pode acontecer muita coisa ruim ainda”, lamentou. “Eles [os opositores] renunciaram aos caminhos legais e institucionais para resolver os nossos problemas e as nossas diferenças e acharam que o caminho é a violência. Isso pode trazer muita dor”.
Nesta terça, durante o ato, ele voltou a comentar os acontecimentos recentes em seu país e adotou um tom mais otimista. "O apoio popular a Evo é grande, mas infelizmente nos desmobilizamos, e isso facilitou que setores da polícia se incorporassem ao golpe. Mas todas as transformações do governo Evo não foram em vão. É a partir dessa consciência e dessa memória que o povo fará sua resistência", finalizou, depois de receber os cumprimentos de João Pedro Stedile , da direção nacional do MST, e de Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres.
Edição: Rodrigo Chagas