Em reunião no Palácio do Planalto, nesta terça-feira (12), o presidente Jair Bolsonaro anunciou para parlamentares do PSL que deixará o partido e fundará uma nova legenda, a Aliança Pelo Brasil (APB). A consequência mais imediata deve ser uma ampliação da crise com o próprio PSL, que dificultará a adesão de deputados e senadores à nova sigla.
A saída coloca um ponto final em uma guerra de meses travada entre Bolsonaro e o cacique da legenda, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE). Vencedor no braço de ferro, o pernambucano terá a oportunidade de reposicionar a legenda no espectro político, já que não escondia a discordância do clã bolsonarista em diversas decisões, e conta com a permanência no partido de grande parte dos deputados e senadores.
O PSL deve pedir o mandato dos parlamentares que decidirem seguir o presidente na nova sigla e tentar impugnar a relação de assinaturas para a criação do partido -- são necessários 490 mil signatários.
O dinheiro
Jair Bolsonaro aposta na fidelidade de parlamentares que se elegeram impulsionados por sua campanha à Presidência, mas terá obstáculos pela frente.
Os fundos Partidário e Eleitoral vão decidir o destino do PSL e da nova legenda. Para viabilizar a APB em tempo de disputar as eleições municipais de 2020, Bolsonaro precisa registrar a legenda até 31 de março do próximo ano.
Segunda maior bancada do Congresso Nacional, o PSL garantiu nas eleições de 2018 uma verba de R$ 100 milhões anuais do Fundo Partidário e terá R$ 400 milhões do Fundo Eleitoral para utilizar no pleito municipal de 2020.
Para Valério Arcary, professor titular do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e doutor em História pela USP, Bolsonaro pretende construir um novo partido para disputar a hegemonia dentro das instituições.
“A decisão de sair do PSL é a decisão de construir um partido bolsonarista, sob controle do clã Bolsonaro, da fração da ala neofascista do governo. É uma fração que utilizou o PSL como uma legenda transitória e que passou a ter conflito de interesses de domínio”, explica o analista, que crê em um esvaziamento do atual partido do presidente. “A tendência é o PSL se tornar uma casta vazia, um partido para ser alugado e comercializado no mercado político.”
Paulo Nicolli Ramirez, cientista político da Escola de Sociologia e Política, aposta que o presidente deve se distanciar do Congresso e ver propostas do Executivo serem derrotadas.
“Como não sabemos ainda os parlamentares que vão migrar para esse partido, muito provavelmente os que migrem sejam de um baixo clero, que é exatamente de onde o Bolsonaro saiu. Esse baixo clero significa baixa representatividade num nível nacional. Isso pode representar um distanciamento do Bolsonaro do Congresso e uma incapacidade de aprovação de projetos, aumentando sua rejeição, não apenas popular, mas no jogo político”, argumenta Ramirez.
Escalada autoritária
Ainda de acordo com o cientista político, o isolamento do ex-militar na presidência pode levar à medidas extremas.“Esse movimento é perigoso porque pode ser uma tentativa do Bolsonaro de jogar mais lenha na fogueira, evitar o diálogo com o Congresso, desgastar de uma maneira proposital a sua relação com o Congresso e, no final das contas, partir para uma via autoritária”, encerra.
Arcary não crê em golpe. “Neste momento, eu não vejo um cenário de eminência de autogolpe da fração bolsonarista, porque não é necessário. Eles têm conseguido avançar a sua agenda econômica, estão fazendo todas as contrarreformas, com apoio bastante sólido com os empresários e a burguesia brasileira e a classe trabalhadora ainda está numa etapa defensiva.”
Edição: Rodrigo Chagas