Minas Gerais

Agroecologia

Acampamento Quilombo Campo Grande volta a ser tema de audiência

Área ameaçada de despejo abriga 450 famílias e é responsável pelo produção do famoso café Guaií

Brasil de Fato | Belo Horizonte (MG) |
Das famílias que ocupam a terra, 140 são de ex-funcionários da usina
Das famílias que ocupam a terra, 140 são de ex-funcionários da usina - Foto: Joyce Fonseca

Está marcada para a quarta-feira (13) uma audiência de instrução do processo de despejo movido contra o Acampamento Quilombo Campo Grande, organizado pelo MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. O acampamento fica na área da usina falida de Ariadnópolis, em Campo do Meio, Sul de Minas.

Na audiência, o juiz que analisa o caso deve ouvir as partes interessadas e coletar provas para comprovar a posse da terra. A princípio, a sessão deveria ocorrer em março de 2020, mas foi antecipada pelo Poder Judiciário. “Não é natural no mundo jurídico que esse tipo de adiantamento ocorra assim de forma tão repentina, inclusive quando se trata de causa complexa, como é o caso em análise”, comenta a advogada dos sem-terra, Letícia Souza.

Tuíra Tule, do MST, questiona a antecipação inusitada da audiência, justo no momento em que os sem-terra estão ocupados com o tempo das chuvas. “E, mais uma vez, esse acirramento jurídico no tempo em que é para plantarmos nossas mudas. Isso mexe subjetivamente, mas também objetivamente com nossas famílias”, afirma a sem-terra.

Ressurreição

O acampamento Quilombo Campo Grande, habitado por mais de 450 famílias, surgiu há duas décadas, quando os sem-terra ocuparam e ressuscitaram a área de uma antiga usina, outrora pertencente à Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo.

Em 1996, a empresa parou de operar e não pagou os direitos de seus funcionários. As dívidas trabalhistas ultrapassaram os R$ 300 milhões, montante superior ao preço do terreno.  Das famílias que ocupam a terra, 140 são de ex-funcionários da usina.

Depois de ocupado pelo MST, o terreno passou a servir de moradia e local e trabalho. Só no último ano, as famílias organizadas em 11 áreas do Quilombo Campo Grande produziram 8,5 mil sacas de café e 1.100 hectares de lavouras com 150 variedades de milho, feijão, mandioca, amendoim, ervas medicinais, frutas e hortaliças, entre outras. Tudo sem uso de agrotóxicos. Vem do Quilombo Campo Grande o famoso café orgânico Guaií.

O acampamento também participa do programa nacional de reflorestamento do MST que, na próxima década pretende plantar 100 milhões de árvores. “Desafiamos nossas famílias a plantarmos 2 milhões de árvores, nós em 100 milhões de árvores”, conta Tuira Tule, do setor de produção do MST.

 

Edição: Elis Almeida