Coluna

O bonitão atrapalhado

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Ele se olhava no espelho e murmurava: agora ninguém te aguenta Zezão.
Ele se olhava no espelho e murmurava: agora ninguém te aguenta Zezão. - Pixabay
Zezão fazia sucesso com as mulheres, pelo menos visualmente

O meu amigo Zezão fazia sucesso com as mulheres, pelo menos visualmente. Com quase dois metros de altura, onde chegava ele chamava a atenção. Tinha um porte atlético e não era feio. Assim, era muito paquerado.

Mas quando começava a conversar, estragava tudo. Não que tivesse um papo ruim, ou que fosse burro. É que lhe faltavam quatro dentes na frente, na arcada superior, e quando falava aparecia aquele vazio debaixo das gengivas.

Decidiu resolver isso. Foi ao dentista, que lhe colocou uma ponte móvel caprichada e aí podia falar e sorrir sem medo.

— Agora ninguém te aguenta Zezão — murmurava olhando no espelho.

Estava tão cheio de si que nem quis saber de namorar moças da sua cidade, no interior paulista. Iria a Guarujá, cidade frequentada por gente rica.

Ele pensava que lá podia arrumar até uma namorada cheia da grana, disposta a aventuras custeadas por ela mesma. E seguiu para o litoral no primeiro fim de semana prolongado.

As praias estavam lotadas, e por onde passava ele era paquerado por moças que até reviravam os olhos diante daquele homão. Estava tão confiante no sucesso que nem deu muita bola para as paqueradoras.

⸺ Vou escolher bem... caprichar... ⸺ ele pensava.

Depois de horas na praia, foi para o hotel, tomou um banho, descansou, e lá pelas nove da noite vestiu sua melhor roupa e foi a uma pizzaria bem chique, perto do hotel.

Ela estava cheia. Havia muitas moças belíssimas, que ficaram todas assanhadas quando ele entrou se exibindo no estabelecimento.

Ocupou uma mesa, pediu ao garçom uma pizza de camarão e um copo d’água. O garçom perguntou se era água com gás ou sem gás e ele respondeu que era de torneira mesmo.

Estranho, né?

Enquanto esperava a pizza e a água, fazia poses e era correspondido com olhares e suspiros. Quando veio a comida, ele, varado de fome, mandou ver com vontade, até que o garçom chegou à sua mesa e comentou baixinho:

⸺ Você está espantando a freguesia.

Surpreso, ele olhou e viu que as mesas em volta, lotadas até pouco antes, agora estavam vazias. Perguntou o que tinha acontecido e o garçom apenas indicou o copo d’água que ele tinha pedido.

Ainda se acostumando com a ponte móvel, achava que ela atrapalhava na hora de mastigar... Tinha tirado a ponte e colocado no copo d’água, espantando as paqueras.

Só aí ele se deu conta de que tinha estragado tudo mais uma vez. Olhou na cara do garçom e falou só uma palavra:

⸺ Danou-se!

Edição: Michele Carvalho