“Vai ter, vai ter que divulgar, o Lula já passou e a gente vai ganhar!”. Em 17 de dezembro de 1989, dia da votação para o segundo turno das eleições presidenciais, um grupo de manifestantes ligados à classe artística, gritava palavras de ordem na frente do prédio da Rede Globo: “O protesto é uma pressão para que a Globo divulgue corretamente as pesquisas de opinião”, declarou a atriz Marieta Severo para o Jornal do Brasil. De acordo com a reportagem, além da omissão sobre as pesquisas, o boato de que a emissora “envolveria o partido de Lula no caso do sequestro do empresário Abílio Diniz”, amedrontava os manifestantes.
Nesse mesmo dia, o empresário, sequestrado sete dias antes, seria libertado após um longo processo de negociação, que envolveu como mediador o cardeal Dom Evaristo Arns. O grupo de sequestradores “se dizia militantes do Movimento de Esquerda Revolucionária” do Chile, reportou o jornal. A polícia declarou que em um apartamento onde estavam alguns dos sequestradores, teria sido encontrado “propaganda eleitoral da campanha de Lula”. Dias depois, com Collor já eleito presidente, os boatos foram desmentidos.
Na revista Manchete, o escritor Murilo Melo Filho, ao abordar as eleições, destacou entre os fatos novos que apareceram quando Lula crescia nas pesquisas: “a prisão dos sequestradores do empresário Abílio Diniz”. O Jornal do Brasil publicou em 20 de dezembro que o PT processaria, além da Globo, Paulo Maluf, que em entrevista, no dia 17, vinculou o PT ao sequestro. Lula tinha em mãos uma manchete do jornal O Rio Branco, do Acre, que dizia “PT sequestra Abílio Diniz”. Collor venceu com 53% dos votos e a farsa mais uma vez foi um elemento decisivo na história da vida política eleitoral do Brasil.
*Leonardo Cruz é historiador.
Edição: Isadora Morena