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Cinema falado

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Honório também entendia do conserto do projetor, que quebrava constantemente
Honório também entendia do conserto do projetor, que quebrava constantemente - Pixabay
Honório já viu esse filme duas vezes e vai aí na frente contar o resto pra vocês

Lá nos confins de Minas Gerais, nos anos 1950, vendo o sucesso que fazia em sua terra um cinema recém-inaugurado, os irmãos Honório e Libório resolveram entrar no ramo, numa cidade vizinha. Compraram um velho projetor de segunda mão e abriram em um antigo armazém de café o Cine Osório, nome dado em homenagem ao pai deles.

O Libório era o encarregado da parte administrativa e também tinha a função de locutor do serviço de alto-falantes do cinema. Além disso, se encarregava da projeção dos filmes.

Honório era um sonhador, gostava do cinema, apreciava pra valer a tal de sétima arte. Quando viajava para São Paulo ou Belo Horizonte, ia a várias sessões seguidas. Se gostava muito de um filme, via mais de uma vez.

E era ele também quem entendia do conserto do projetor, que quebrava constantemente. Enfim, um “curioso” em tudo que se relacionava com cinema. Desmontava e montava o projetor nas horas vagas, para ver como funcionava, e virou quase um técnico. Resolvia os problemas que aconteciam com frequência.

Em quase todas as sessões, o projetor enguiçava ou arrebentava o filme e o Libório anunciava:

— Calma pessoal, que o Honório já está consertando a máquina!

E assim ia o Cine Osório, se não de vento em popa, pelo menos dando para se divertir e ganhar um dinheirinho.

Um dia, o Honório não foi ao cinema, pois já tinha visto o filme duas vezes. Falou com o irmão:

— Vou ficar no bar jogando sinuca. Se a máquina enguiçar, é só me chamar.

A máquina quebrou mesmo. E o Libório informou:

— Atenção ouvintes. A máquina enguiçou mas já mandei chamar o Honório, para consertar. Ele está ali no bar jogando sinuca.

Honório foi imediatamente para o cinema. Começou a mexer no projetor, mas o defeito dessa vez era mais sério, o conserto começou a demorar, a molecada já estava assobiando, vaiando e batendo as cadeiras. Libório pegou o microfone e acalmou:

— Pessoal, não carece fadiga! O Honório tá consertando a máquina. Paciência, gente!

Mas desta vez, Honório não conseguiu consertar o projetor;

— Tem peça quebrada, precisa mandar buscar fora. 

O Libório não vacilou. Pegou novamente o microfone e avisou:

— Olha, pessoal, desta vez o defeito é sério, não deu pra consertar, vamos ter que mandar buscar peça fora. Mas não carece incomodar não, que o Honório já viu esse filme duas vezes e vai aí na frente contar o resto pra vocês.

Edição: Michele Carvalho