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Vale lucra R$ 6,5 bi com mineração e vítimas de Brumadinho seguem sem alento

Resultado trimestral revela crescimento de 13% dos lucros em um ano com aumento da extração de ferro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A  Vale foi responsável pelo crime ambiental em Brumadinho que deixou 241 mortos e 21 desaparecidos
A Vale foi responsável pelo crime ambiental em Brumadinho que deixou 241 mortos e 21 desaparecidos - MAB

A mineradora Vale fechou o terceiro trimestre (julho-setembro) de 2019, com um lucro de US$ 1,6 bilhões (R$ 6,5 bilhões) e um aumento de 20,2% da extração de minério de ferro, na comparação com o trimestre anterior. O anúncio do lucro da empresa acontece nove meses após o rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho (MG), que deixou 241 mortos, 21 desaparecidos e milhares de atingidos pelos efeitos da contaminação dos rejeitos tóxicos.

A empresa não reconheceu todos as vítimas do crime ambiental, que estão vivendo em condições precárias. Situação semelhante vive grande parte das vítimas do rompimento da barragem em Mariana, também em Minas Gerais, há quatro anos.

“A lógica do capital mineral no Brasil se mantém plenamente em vigor e sem abalo, mesmo com o rompimento da barragem em Brumadinho, obtendo lucros extraordinários independentemente das consequências, seja a morte ou destruição dos territórios e rios onde a Vale tem atuado”, disse Luiz Paulo Siqueira, coordenador nacional do Movimento dos Atingidos pela Mineração (MAM).

De acordo com o balanço, o resultado da Vale é o maior desde 2013, para um terceiro trimestre. O aumento da produção da extração de minério de ferro, segundo a mineradora, foi possível com a retomada das atividades na mina de Brucutu, na cidade São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), a maior mina do Estado, que havia sido interditada pela Justiça em março e novamente em junho, em ambos os casos por risco de rompimento.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou uma nota criticando a política da mineradora, que foi privatizada em 1997, e a falta de ações de reparação para as vítimas dos rompimentos de barragens.

“O resultado representou uma alta de 13% na comparação com o mesmo período do ano passado. Ou seja, o balanço da empresa demonstra claramente o que o MAB sempre denunciou, e reforça agora com a jornada de lutas, que neste contexto: o lucro está acima da vida”, diz a nota do movimento.

Em outro trecho, o MAB questiona os privilégios da mineradora.

“O criminoso controla o cenário do crime, as vítimas, enquanto a Justiça lenta segue garantindo a impunidade. É lamentável a Vale já anunciar, por conta própria, o que ela definiu como serão as reparações”.

Nesta sexta-feira, dia 24, mulheres de diversos municípios da região se encontraram em Brumadinho em solidariedade aos familiares das vítimas do crime da Vale. Elas se reuniram em frente ao trevo do município para um ato ecumênico, seguido pela marcha em Defesa da Soberania Nacional e pela Reestatização da Vale.

O crime ambiental em Brumadinho contaminou boa parte da bacia do rio Paraopeba. Em Mariana, os atingidos que moram ao longo da bacia do rio Doce enfrentam grave problema de falta de moradias, segundo o MAB.

Edição: Michele Carvalho