PAUTA NERD

“O negro sempre entra como coadjuvante e para fazer rir”, afirma Samuel Quixote

O artista visual pesquisa a representação dos negros nos quadrinhos mais famosos dentro e fora do Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A exposição analisa os personagens negros nos quadrinhos mainstream desde os anos 1950 até os dias de hoje.
A exposição analisa os personagens negros nos quadrinhos mainstream desde os anos 1950 até os dias de hoje. - Rodolfo Santana | Brasil de Fato

O movimento negro tem crescido na cultura nerd. Nos filmes, heróis como Pantera Negra tem inspirado milhares de fãs que se sentem pouco representados. 

As séries famosas colecionam personagens afrodescendentes e abrem um debate sobre o racismo. “Dear White People” (Cara Gente Branca), por exemplo, fala sobre um grupo de estudantes negros de uma importante universidade dos Estados Unidos, cuja maioria dos alunos é branca.  

Já nos quadrinhos, ficou designado aos heróis negros um espaço de pouco destaque. Foi pensando nisso que o artista visual Samuel Quixote inaugurou a exposição "A Presença Negra nas Histórias em Quadrinhos", na Galeria de Artes do SESC Juazeiro do Norte, no Ceará. 

Ele conta que a ideia de criar mostra surgiu quando ele participou de um concurso de desenho, para uma ação publicitária. A única recomendação era que fosse feito um super-herói chamado “Luquinha”, que seria exposto nas embalagens do produto. Samuel desenhou um menino negro de oito anos, baseado em sua própria imagem quando era criança e foi chamado para o trabalho.

"Eles disseram que meu trabalho era muito bonito, mas queriam fazer uma pequena alteração: queriam que ele fosse branco. Aí eu perguntei o porquê e me disseram que ele teria uma irmã. Depois, disseram que eu tinha que entender que o produto era feito para classe média", explica.  

Samuel se questionou sobre a representatividade dos afrodescendentes nos quadrinhos e criou a exposição, que analisa os personagens negros nos quadrinhos mainstream desde os anos 1950 até os dias de hoje. 

"Eu comecei a notar que o negro sempre entra como coadjuvante e sempre no papel da comédia, para fazer rir. Mas não rir porque é engraçado e sim porque é estabanado, porque fala errado, porque tropeça. É rir dele".

Recentemente, a Marvel lançou uma de suas melhores animações em longa-metragem nos cinemas: “Homem-Aranha: No Aranhaverso”, que traz a história de Miles Morales, um jovem negro do Brooklyn, que após ser atingido por uma teia radioativa, se torna o Homem-Aranha, inspirado no legado do já falecido Peter Parker. O filme arrecadou quase 400 milhões de dólares.

Apesar disso, Samuel destaca que a representatividade só será mais efetiva quando os espaços forem ampliados. A ideia, de acordo com ele, era ter feito a exposição para as ruas.

"É importante, primeiro, a gente criar público nas periferias para formar aquele público e, a partir daí, convidá-lo para dentro das galerias. É preciso que exista essa ocupação tanto de artistas quanto de quem vê a exposição. A primeira coisa que eu pensei, foi como que traria algo das ruas para a galeria, e agora estou pensando como levar algo que transformei da galeria às ruas", destaca. 

Entre os super-heróis negros, destacam-se o Pantera Negra, Super Choque (que se tornou desenho animado pela Warner Bros e passava nos canais abertos para crianças no Brasil), o Ciborgue, integrante dos Jovens Titãs, Luke Cage, que ganhou uma série adaptada para a Netflix e a Tempestade, integrante dos X-Men.

*Entrevista realizada por Lívio do Sertão e fotos por Rodolfo Santana, na redação de Crato (CE).

Edição: Michele Carvalho