Na data que marca a morte do líder da Revolução Haitiana Jean-Jacques Dessalines, a população do país volta às ruas para protestar contra o presidente do país, Jovenel Moïse, apontado como um dos principais responsáveis pela crise social, política e econômica no Haiti.
Na manhã desta quinta-feira (17), feriado nacional, os manifestantes bloquearam as principais vias da capital do país, Porto Príncipe. Houve também paralisação dos transportes e das atividades comerciais. Protestos foram registrados na região metropolitana da capital e em outras províncias.
O Haiti vive uma onda de protestos contínua desde o ano passado, devido a uma crise desencadeada pelo desvio de mais US$ 2 bilhões do fundo da Petrocaribe, além das agressivas medidas neoliberais aplicadas pelo governo haitiano, impostas após um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) firmado em fevereiro deste ano, que incluem o fim do subsídio dos combustíveis e a privatização de empresas do setor elétrico. A principal exigência dos manifestantes é a renúncia de Moïse.
A resposta às manifestações populares tem sido o uso da repressão policial. São mais de vinte mortos vítimas da repressão, segundo a Rede Haitiana de Defesa dos Direitos Humanos.
Na última quarta-feira (16), a polícia haitiana invadiu o funeral de dois homens assassinados durante as manifestações e abriu fogo contra os participantes, deixando dezenas de feridos. Nos protestos de hoje, centenas de jovens realizaram um ato com mostra de fotos, grafites e cerimônia religiosa em homenagem às vítimas da repressão do governo.
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Conjuntura
O Haiti enfrenta alguns dos piores índices de extrema pobreza e desigualdade do mundo. Apesar de não haver estimativas oficiais confiáveis, o índice de desemprego chega a 70%. Desde agosto, o país enfrenta grandes problemas de desabastecimento de combustíveis e outros produtos petrolíferos.
Muitos desses problemas se intensificaram na última década após o impacto de um terremoto catastrófico em 2010, a ocupação militar estrangeira e as graves violações de direitos humanos cometidas pelas missões das Nações Unidas no país, além do ataque neoliberal liderado por instituições financeiras internacionais e o racismo que permeia todos os níveis da nação caribenha.
Nos protestos das últimas semanas, diversos setores da sociedade aderiram, muitos com motivações políticas diversas. Um deles é a oposição mobilizada na plataforma 4G Kontre, que inclui organizações camponesas como o Congresso Nacional do Movimento Camponês de Papaye (MPNKP), a associação Tèt Kole, a Coordenação de Organizações da Região Sudeste (KROSE) e o Movimento Camponês de Papaye (MPP), além de organizações da sociedade civil e movimentos sindicais, estudantis, camponeses, de mulheres, de direitos humanos e de trabalhadores, organizações comunitárias e partidos políticos. Hoje, essa articulação está organizada em torno do Fórum Patriótico do Haiti.
Desde o início da mobilização, esses setores argumentam que a renúncia de Moïse é necessária, mas não suficiente. A plataforma defende que mudanças estruturais devem ser realizadas a partir da organização popular. No caso de Moïse renunciar, o Fórum Patriótico defende o estabelecimento de “um governo de transição por três anos para enfrentar as emergências da fome, da miséria e do desemprego, que afetam mais de 80% da população, e propor reformas nas instituições do Estado a partir das necessidades da população”.
Edição: Luiza Mançano